A máscara de proteção facial N-95, que se popularizou durante a pandemia, é apenas um dos mais de 55 mil produtos no portfólio da 3M, multinacional norte-americana desde 1946 no Brasil e com presença em mais de 200 setores industriais. A produção, que vai de post-its à sinalização viária, revela uma empresa ampla e diversa, que por sua vez demanda líderes com características semelhantes, cargo que no país é confiado Marcelo Oromendia, CEO da 3M Brasil.
“Eu sou argentino e trabalho desde os 24 anos na 3M. Passei por Minnesota, nos Estados Unidos [sede da companhia], Índia e estava na China antes de vir para cá”, resume o executivo em entrevista exclusiva à Forbes. O convite para comandar a operação brasileira veio de Denise Rutherford, vice-presidente executiva de corporate affairs da companhia: “A gente tem o objetivo de remanejar estratégias da empresa brasileira e precisamos de sua experiência para isso”, relembra o CEO, que deixou o país asiático para assumir a cadeira no Brasil em 17 de janeiro de 2020, quando a China já lutava contra o novo coronavírus.
“Eu cheguei aqui (Brasil) com minha bagagem profissional por ter atuado em diversos países e com técnicas de combate a pandemias. Isso me fez ter a ideia de criar um comitê de crise com dois objetivos: proteger os mais de 1.500 funcionários e a nossa cadeia de produção brasileira.” Quando as quarentenas foram decretadas em 28 de março, pouco mais de dois meses após sua chegada ao Brasil, a 3M estava apta para responder à crise.
Além do comitê, o CEO passou a reajustar a operação das fábricas ainda em janeiro para desenvolver matérias-primas internamente. “Eu vi 59 países fechando, a sorte é que eu tinha comprado insumos em larga escala no primeiro trimestre de 2020.”
A América Latina é vista como um mercado em potencial para o conglomerado: com mais de 800 milhões de habitantes, comercializar no sudoeste do mundo sempre foi um dos objetivos da companhia. Não por acaso, a filial brasileira é a 7º em um ranking de melhor produção entre 70 subsidiárias ao redor do mundo.
Deixar a Ásia para lidar com as incertezas das economias emergentes também não era uma novidade para o executivo. “A Argentina é um mercado muito pequeno porque tem muitas flutuações econômicas e, dessa forma, nós (argentinos) precisamos escolher bem onde queremos trabalhar”, destacou o CEO, que em 1985 deixou a Alpargatas para se candidatar a uma vaga de engenheiro na 3M. A troca de empregos tinha um objetivo maior que a ascensão profissional, ele desejava se casar com a atual esposa, Mariana.
Em 1995, Oromendia embarcava para Minnesota, nos Estados Unidos, onde atuaria por três anos no programa de capacitação universal da companhia, desta vez no setor de saúde. Lá ele iria acompanhar a aquisição de rivais norte-americanas em um momento de forte consolidação e conquista de mercado pela 3M.
No retorno à Argentina, no entanto, Oromendia iria se deparar com uma profunda crise econômica no país. “Eu saí de um lugar onde tive experiências de crescimento nos negócios para fechar empresas e demitir funcionários”, conta. Entre 1999 e 2001, a 3M do país vizinho fechou 50% de suas operações. Fruto da crise, o crescimento da violência pelas ruas da Argentina levaram o executivo a retornar aos EUA com a família. “Eu fui impossibilitado de viver com Mariana e meus cinco filhos na minha Argentina”, relembra o CEO com lágrimas nos olhos.
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As ideias salvaram o negócio
As experiências em diferentes países vieram acompanhadas de momentos de lutas e de glórias. “Isso me transformou em um profissional que consegue pensar em saídas para as crises”, afirmou Oromendia.
A aptidão de salvar operações em meio a crises econômicas foi desenvolvida antes da 3M, ainda na adolescência. Aos 15 anos, ele assistiu ao negócio de acessórios para automóveis da família quebrar também em função de uma crise na economia argentina, contexto que levou o pai à depressão e impossibilitou a retomada do negócio familiar. “Tudo apertou e eu precisei trabalhar e estudar.” Assim, Oromendia prometeu a si mesmo que iria encontrar uma companhia grande para não viver experiências de rupturas novamente. Apoiado nos estudos, ele poderia atravessar dificuldades com menor turbulência.
Há pouco mais de um ano na 3M Brasil, ele apostou em parcerias com universidades para ampliar o portfólio voltado à inovação da companhia, apoiando pesquisas desenvolvidas na USP (Universidade de São Paulo) e na Unicamp (Universidade de Campinas). “Os universitários têm muitas ideias que precisam ser testadas e, para isso, a gente investe em equipamentos nas faculdades para que esses negócios virem realidade”, explicou o executivo. “Antes, as novidades eram feitas na nossa cozinha. Agora, nossos investimentos potencializam essa criatividade.” Ao lado das universidades, a 3M é responsável pela criação de 50 novos produtos ao redor do mundo anualmente.
No primeiro trimestre de 2021, a companhia registrou globalmente lucro líquido de US$ 1,62 bilhão, crescimento de 24% na comparação ano a ano. Além de evolução de 9,6% na receita líquida do período, em US$ 8,85 bilhões. Segundo o balanço financeiro, ambos os resultados foram puxados pela melhora nas vendas em todos os segmentos de negócios durante a pandemia. No Brasil, o faturamento bruto da companhia em 2020 foi de R$ 4,5 bilhões.
O futuro é bom, mas precisa acreditar
Com 70 subsidiárias ao redor do mundo, a 3M apostou na diversidade de ideias e experiências para unir especialistas e encontrar soluções para a crise. “A pandemia foi horrível para todo mundo, mas conseguimos encontrar saídas para as frustrações e esses encontros foram incríveis. A mistura de pensamentos é necessária”, afirma Oromendia.
Inspirado em sua experiência profissional e pessoal, ele tem dois sonhos para o futuro: transformar o Brasil em um dos maiores exportadores da América Latina e fazer crescer a 3M localmente, projetando crescimento entre 5% a 8% em 2021, além de ampliar a diversidade e inclusão da companhia. “Mensalmente realizamos projetos que buscam encontrar soluções para a companhia e o cotidiano dos funcionários. Pensamos em temáticas mensais e realizamos conversas e debates sobre o assunto”, explicou o CEO. Em abril, o tópico mensal foi a água e, neste mês, é a energia.
“Vocês (brasileiros) são engraçados, estão de costas para um mercado em potencial e só têm olhos para os Estados Unidos e Europa, mas se abraçar os irmãos latinos, o Brasil terá um forte crescimento. Ninguém desacredita do potencial daqui. O país tem talento, infraestrutura, tecnologia, olha o que fazem com o agro. Só precisam querer e acreditar… e espero que seja logo”, finaliza Oromendia.
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