“O varejo é sempre o para-choque da economia. Na crise, ele sente os impactos antes de todos os setores.” É assim que João Appolinário, CEO e fundador da rede Polishop, descreve os últimos 12 meses de negócios no Brasil. Para o empresário, os pequenos e médios comércios são fundamentais para manter a saúde do varejo nacional.
“Até as maiores empresas fizeram follow-on a todo momento ano passado, tentando buscar mais dinheiro no mercado. Ninguém estava com caixa preparado para a pandemia”, avalia o executivo e, de fato, 2020 foi um ano de desafios para o setor. Um levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revela que 75 mil estabelecimentos comerciais fecharam suas portas apenas no último ano. Todos estes registravam vínculos empregatícios.
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Em sua própria empresa, Appolinário revela que o faturamento de 2020 foi 15% menor que o do ano anterior, por conta do fechamento do principal canal da rede: as lojas físicas. Nos meses de abril, maio, junho e julho, porém, foi possível atingir 20% acima da meta da varejista, com a migração de clientes para o online.
“Tivemos como estratégia oferecer produtos focados em melhorar a vida das pessoas que redescobriram suas casas durante a pior fase da pandemia”. Itens de cozinha, higiene e produtos de academia foram fortemente vendidos em canais digitais da rede.
Varejo físico e presencial
Nenhum canal é uma ilha, nem mesmo a internet. O empresário defende que “pessoas querem falar com pessoas”, principalmente após o longo período de isolamento em função da pandemia. Por isso, ainda que o e-commerce traga comodidade e praticidade, as lojas físicas são peça fundamental do varejo.
A gigante Amazon, por exemplo, uma das maiores varejistas do e-commerce do mundo, também tem buscado ampliar sua presença física. Apenas nos 6 primeiros meses de 2020, a rede abriu 29 novas lojas físicas, segundo relatório da Statista. De acordo com o site da Amazon, a empresa já opera cerca de 100 localidades físicas de varejo no país.
“Não são todos que compram um sofá ou um colchão sem experimentar. Parte das pessoas quer ter contato físico, conversar com um vendedor, ser convencida”, afirma.
Há que considerar também que a retomada pós-pandemia não deve encontrar o mesmo contexto macroeconômico. “A Selic não é o grande vilão da história, a inflação é muito mais perversa. Para pequenas e médias empresas, o custo do dinheiro já é muito elevado. Não são 2 ou 3 pontos de Selic que vão mudar a vida do empreendedor”, afirma Appolinário.
A taxa Selic foi neste mês elevada para 4,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, enquanto a inflação medida pelo IPCA acumulada em 12 meses é de 8,06%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
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A mudança, para o dono da Polishop, precisa acontecer através de uma reforma tributária que simplifique a cobrança de impostos e facilite a rotina do varejo de pequeno e médio porte. Enquanto essa reforma não acontece, João Appolinário compartilha com os empreendedores e varejistas três dicas para os próximos meses. Veja abaixo:
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Reuters 1 – Manutenção de estoques
A alta de preços no varejo foi sentida mundialmente no último ano. João Appolinário exemplifica citando produtos da China cujos preços cresceram 20%, sem considerar a taxa de câmbio.
As razões para este crescimento podem estar atreladas à falta de mercadorias e à escassez mundial de algumas matérias-primas. Neste sentido, conseguir abastecimento, independente do setor, é a primeira coisa que deve ser feita pelos varejistas, segundo o empresário.
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Poike / Getty Images 2 – Investir em canais digitais
Appolinário afirma que a divisão de compras na Polishop era de 70% em lojas físicas e 30% em canais digitais antes da explosão da Covid-19. Porém, dentre as vendas realizadas em loja, 80% dos clientes já iniciavam sua jornada de consumo na internet, através de pesquisas e comparações.
“As pessoas já estavam vivendo em um mundo digital, ouvindo música por streaming e usando mapas onlines, já não se compra enciclopédia há muito tempo. Faltava a digitalização jurídica”, diz. “O maior legado desta crise é acelerar os canais online para complementar os pontos físicos.”
O empresário defende que os varejistas precisam estar prontos para atender todos os tipos de consumidor: aqueles que ainda preferem lojas físicas e, também, os que enxergam mais vantagem em comprar direto de suas casas. “Quem não estava digitalizado nos últimos meses sofreu muito”, analisa.
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Svetikd / Getty Images 3 – Manter os preços pré-pandemia aos consumidores
Para recuperar o fôlego de vendas, o dono da Polishop ressalta que o principal desafio no varejo será conseguir reconquistar a confiança das pessoas na economia, na manutenção de empregos e no desenvolvimento do país.
“Hoje, o consumidor está muito mais preocupado com sua permanência no trabalho. Vai depender da capacidade do mercado de fazer com que essa retomada aconteça”, diz.
Sendo assim, o empresário aconselha que os varejistas mantenham os produtos com preços semelhantes aos encontrados em 2019 e início de 2020, antes da pandemia começar.
1 – Manutenção de estoques
A alta de preços no varejo foi sentida mundialmente no último ano. João Appolinário exemplifica citando produtos da China cujos preços cresceram 20%, sem considerar a taxa de câmbio.
As razões para este crescimento podem estar atreladas à falta de mercadorias e à escassez mundial de algumas matérias-primas. Neste sentido, conseguir abastecimento, independente do setor, é a primeira coisa que deve ser feita pelos varejistas, segundo o empresário.
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