A rentabilidade é sem sombra de dúvidas um fator chave para a tomada de decisão nos investimentos, mas ela já não é a única métrica levada em conta por investidores de todos os países e tamanhos, incluindo os bilionários. Na hora de escolher os seus investimentos, as pessoas mais ricas do mundo estão buscando oportunidades que combinem lucro com impacto socioambiental.
No Brasil, o Fundo X8, criado pela gestora de growth-capital X8 Investimentos, tem canalizado recursos de nomes como Jeff Bezos, Bill Gates e Pierre Omidyar com o objetivo de apoiar iniciativas com alto potencial de crescimento e que tenham como propósito impactar a sociedade brasileira e o mundo.
Para os próximos quatro anos, a gestora deve aportar cerca de US$ 100 milhões em empresas no país. Desse montante, 20% são do Capria Ventures, gestora norte-americana que reúne recursos de superricos nos Estados Unidos e investe em mercados emergentes.
“Eles funcionam como um FOF [fundo de fundos]. Os bilionários investem no Capria, que distribui o montante para outras 20 gestoras pelo mundo, como nós. O foco deles são fundos de impactos”, afirma Carlos Miranda, CEO da X8 Investimentos.
Entre os investidores do Capria que, indiretamente, também investem no Brasil está o homem mais rico do mundo e CEO da Amazon, Jeff Bezos, com fortuna avaliada em US$ 201 bilhões e o cofundador da Microsoft, Bill Gates, com patrimônio estimado pela Forbes em US$ 126,9 bilhões, assim como sua ex-mulher, Melinda Gates, que possui fortuna de US$ 3,1 bilhões. O fundador do eBay, Pierre Omidyar; o cofundador da SAS Institute, John Sall; e Ranjan Pai, controlador da rede de hospitais indianos Manipal Group, são alguns dos bilionários com capital no Capria, além de outros nomes não divulgados.
Na X8, os demais 80% dos recursos do fundo também contam com a participação de bilionários brasileiros – que não tiveram seus nomes divulgados. “Eles não apenas colocam dinheiro nos negócios, mas também contribuem com suas expertises. A gente diz que nosso fundo é de empreendedor para empreendedor”, afirma Miranda.
O fundo tem como meta obter retorno bruto de 30% ao ano, com cobrança de 2% em taxas de gestão e 20% de performance. No Brasil, além da X8 Investimentos, a SP Ventures integra o network de gestoras do Capria.
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Grande Impacto, faturamento pequeno
Dentro do mercado brasileiro, Miranda afirma que a X8 opta por investir em empresas do middle-market (que possuem faturamento anual entre R$ 20 milhões e R$ 150 milhões). “São companhias com desafios de grandes negócios, mas bolsos pequenos”, diz ele. A gestora busca modelos já comprovados com três ou quatro anos de vida.
Para a seleção de investimentos, são usados três filtros. O primeiro identifica negócios que tenham taxa de crescimento em torno de 30% a 40% ao ano. O segundo é chamado de ‘empreendedor excepcional’: “aquele empresário com bom grau de sofisticação, boa formação acadêmica e boas ferramentas de gestão, ou seja, que já saiba o bê-a-bá do mercado”, diz o CEO.
E o terceiro – mas não menos importante – é a busca por empresas que geram impacto positivo. Isto é, ações que preservam o meio ambiente ou causam transformações na sociedade. “A X8 utiliza a metodologia do Capria para avaliar se os negócios, além de rentáveis, salvam o planeta”, afirma Miranda.
Os critérios utilizados para mensurar impactos positivos se baseiam nos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) para 2030, criados pela ONU (Organização das Nações Unidas). As empresas precisam atender ao menos quatro dos 17 objetivos. “A gestora ganha ao resolver problemas ambientais e sociais causados pelos seres humanos e, com isso, ajuda a economia mundial a se recuperar”, afirma o CEO.
O ponto positivo é que o dinheiro não é o único recurso que os bilionários têm a oferecer. A proposta do Capria e da X8 inclui reuniões quinzenais para analisar se os impactos propostos pelas empresas são viáveis e estão sendo concretizados.
Além disso, o Capria atua também na capacitação e aceleração das gestoras de impacto ao redor do mundo. A rede realiza formações voltadas ao desenvolvimento de boas práticas através de discussões e trocas com gestores internacionais. “No final do dia, cada fundo é independente, e os investidores não têm interferência na nossa gestão e governança”, esclarece o CEO.
Em entrevista à Forbes, Will Poole, cofundador do Capria, explica que um dos motivos para se investir no Brasil é que “o país apresenta gaps estruturais enormes que o setor público não consegue cobrir. O capital privado tem oportunidades incríveis de gerar retornos diferenciados fazendo o bem, e isso tem atraído bilionários.”
Investimentos para qualidade e menor pegada de carbono
Entre as companhias nacionais que já receberam recursos do X8 está a Home Agent, empresa de tecnologia especializada em teleatendimento e a primeira da América Latina a receber capital do Capria, através do próprio X8. O valor aportado não foi informado.
Apostando no trabalho remoto de forma integral, a companhia deixou indiretamente de criar 500 mil viagens de transporte público por seus colaboradores, “ou seja, uma redução de aproximadamente 250 toneladas de carbono emitidos, o que chamou muito a nossa atenção”, afirma Miranda. A escolha pelo teletrabalho trouxe uma economia de R$ 1,5 milhão, viabilizando assim o crescimento da companhia.
“Identificamos que, antes de a nossa equipe ser contratada, 85% dos profissionais estavam desempregados ou trabalhando informalmente”, afirma Fábio Boucinhas, CEO da Home Agent. Ele também avalia que “ao trabalhar de casa, o time gasta seu salário no próprio bairro de residência, privilegiando a economia local”.
Outra companhia no portfólio de cases da X8 é a Mãe Terra. A empresa especializada em produtos naturais recebeu aportes em 2013 e, nos três anos seguintes, registrou crescimento anual de 30% a 35%. Em 2017, quando a Mãe Terra quadruplicou sua receita e gerava 12 vezes o total investido pelo fundo, a X8 vendeu a companhia para a gigante global Unilever.
“Uma das exigências contratuais era que a Unilever mantivesse toda a agenda de impacto que a gente criou ao longo do investimento na Mãe Terra, como manter o contato com o pequeno produtor e seguir com a emissão quase nula de gás carbônico na atmosfera”, destaca Miranda.
De olho no futuro
A próxima fase de investimentos do Capria prevê um aporte de R$ 200 milhões a R$ 400 milhões apenas no X8 durante os próximos anos. Poole explica que os “bilionários e a gestora [Capria] esperam que o Brasil adote uma agenda de crescimento pelo lado macroeconômico, mas também que faça mudanças políticas tributárias, e mantenha um ambiente com segurança jurídica elevada”.
No passado, a X8 realizou 12 investimentos em outras empresas brasileiras, como a Flores Online, e-commerce de floricultura que trabalha com pequenos produtores e floristas pelo mundo. A perspectiva da gestora é de que cerca de 10 empresas recebam o capital até 2025, sendo duas a três por ano. Até o momento, o único investimento de 2021 foi na Home Agent.
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