Um novo relatório indica que a Argentina ficou em 21º lugar no mundo em ganhos realizados com bitcoins no ano passado, movimentando cerca de US$ 200 milhões. E enquanto as lideranças políticas do país duelavam em torno dos subsídios de energia em um ano eleitoral, as medidas ajudaram a alimentar um boom na criptomineração em função dos baixos custos de eletricidade residencial.
Apesar da extrema volatilidade no mercado de criptomoedas – que viu o preço do bitcoin subir 550% e ir acima de US$ 60 mil em poucos meses, para depois recuar aos US$ 35 mil em apenas 13 dias – há uma grande efervescência no setor e a economia da Argentina tem se mostrado um terreno fértil para a popularização das criptos.
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Presos em uma desaceleração econômica que já dura décadas, com suas constantes rajadas de estagflação, diferentes governos no país têm apelado aos congelamentos de preços e às políticas monetárias para tentar conter a inflação. No entanto, a perda do poder de compra continua constante, levando muitos argentinos a buscar um caminho para o dólar norte-americano mediante o pagamento de um prêmio enorme pelo chamado “dólar azul”.
De acordo com um relatório do jornal “El Economista”, os argentinos detêm cerca de US$ 130 bilhões no sistema financeiro – representando aproximadamente 8% do estoque de dólares no mundo – e outros US$ 175 bilhões “embaixo do colchão”, como gostamos de dizer. As criptomoedas já estão sendo usadas para converter pesos em dólares, contornando as restrições do governo por meio de transações peer-to-peer a taxas de câmbio mais competitivas do que o dólar azul mencionado anteriormente. Essas transações subiram de US$ 200.000 no final de 2019 para US$ 600.000 no ano passado, de acordo com dados da ChainAnalysis.
A Bitfarms é uma empresa de mineração de bitcoin de capital aberto que anunciou o aumento em suas operações na Argentina de 60 megawatts para 210 megawatts, “o suficiente para sustentar aproximadamente 55 mil mineradores de nova geração, o que poderia gerar aproximadamente US$ 650 milhões em receita”. No mesmo comunicado, a Bitfarms disse que o custo de mineração de um bitcoin em Quebec, no Canadá – onde eles têm operações – ficou em US$ 7.500 no quarto trimestre de 2020, em comparação com uma estimativa de US$ 4.125 na Argentina.
A eletricidade representa cerca de 75% dos custos de mineração, o que ajuda a explicar a matemática por trás do pagamento da energia subsidiada em pesos, que levará à comercialização de bitcoins e ether – a segunda maior criptomoeda por capitalização de mercado – a um prêmio superior à taxa de câmbio oficial do dólar. A Argentina já tem mais de 20 fazendas de criptomoedas, com muitos mineradores aproveitando o clima frio da Patagônia para reduzir os custos de resfriamento.
Como a maioria das coisas no mundo das criptos, a última moda tem sido os NFTs (Tokens Não-Fungíveis). O mercado cresceu explosivamente e, é claro, também quebrou rapidamente. Esses NFTs são vinculados a peças de conteúdo digital, como destaques esportivos ou arte digital, e depois vendidos. A comunidade criativa da Argentina, com boa fama e baixo custo, tem uma grande oportunidade no mundo crescente dos NFTs. No campo esportivo, a AFA (Associação Argentina de Futebol) anunciou uma parceria que tornará a seleção nacional a primeira a lançar seu próprio token, juntando-se a uma série de clubes que já possuem tokens, incluindo o River Plate, o Racing Club e o Rosario Central.
Todo esse contexto parece ter florescido por uma série de razões. Além da tendência à crise e à desvalorização da moeda, que inerentemente faz todo argentino querer buscar soluções, a promessa de lucro futuro estimulou a comunidade cripto global a entrar em ação. Quer a tecnologia construa o futuro do dinheiro, ou quer a sua pegada de carbono nos destrua, o incentivo para se envolver com projetos de criptomoeda anda de mãos dadas com o potencial de retorno. Um dos principais benefícios locais é o fato de que ainda não há regulação na Argentina para as criptomoedas.
Mas isso não deve durar, uma vez que o Banco Central já iniciou investigações em fintechs que oferecem o pagamento de juros pelos criptoativos depositados. A Comissão de Valores Mobiliários local também juntou-se ao Banco Central do país para alertar aos investidores sobre os riscos dos investimentos em criptomoedas.
Há muita coisa acontecendo no mundo das criptomoedas na Argentina e, até agora, o país conseguiu passar razoavelmente despercebido. O bitcoin e os demais criptoativos não são apenas um instrumento de especulação financeira, mas criaram consigo criatividade e inovação. A Argentina tem, mais uma vez, uma oportunidade muito grande de estar na vanguarda. Com sorte, a classe política não perceberá tão cedo.
Este artigo foi publicado originalmente no Buenos Aires Times, o único jornal em língua inglesa da Argentina, e reproduzido por seu autor na Forbes.
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