A nova gestão da Petrobras vive no momento uma prova de fogo por causa das altas do petróleo, fator-chave para a formação de preços de derivados, mas o aumento dos combustíveis nesta semana demonstra independência e “critério 100% técnico” da companhia para lidar com o tema, disse à Reuters o CEO da estatal Joaquim Silva e Luna.
Segundo o general da reserva escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para liderar a companhia, não houve nem haverá interferência externa no ritmo dos ajustes de preços de combustíveis, que agora não mais repassarão volatilidade das cotações internacionais.
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Em um cenário de recuperação do petróleo em meio a pressões da inflação e pandemia, Luna admitiu, ao ser questionado, que a companhia vive uma situação que a coloca à prova.
“É um fato, mas isso não muda a política de preços”, disse Luna.
Na segunda-feira (5), a Petrobras anunciou o primeiro aumento nos preços de diesel e gasolina na gestão Luna, que assumiu o cargo em 19 de abril, após Bolsonaro mostrar insatisfação com o constante sobe e desce de preços nos derivados na administração anterior da empresa.
O anúncio veio no mesmo dia da notícia do fracasso da reunião da Opep+ que poderia decidir pela ampliação na oferta de petróleo, o que na teoria, derrubaria os preços do barril do tipo Brent após máximas de dois anos e meio.
Quando a nova direção da estatal a assumiu a empresa, o barril do petróleo estava na casa dos US$ 65, e hoje (7) fechou acima de US$ 73.
Além das primeiras altas da gestão Luna para gasolina e diesel, a Petrobras também anunciou aumentos para o gás de cozinha e o gás natural nesta semana.
De acordo com especialistas, mesmo com os ajustes, ainda há uma defasagem nos preços de diesel e gasolina frente aos valores internacionais.
“Há pequena defasagem em alguns itens que tende a se ajustar no curto prazo. Se não ocorrer, será reanalisada a tendência”, comentou.
A nova gestão da companhia tem buscado evitar o sobe e desce dos preços e adotou um critério que prevê ajustes só quando houver justificativas estruturais.
A orientação é não repassar as oscilações apenas conjunturais aos preços internos.
Após o presidente Bolsonaro demonstrar anteriormente insatisfação com a escalada dos preços da Petrobras em meio à recuperação da cotação do petróleo, a “demora” na concessão do primeiro ajuste positivo levantou questionamentos sobre a autonomia da estatal.
“O critério de ajuste é 100% técnico, com visão de cenário futuro de curto prazo e abastecimento do mercado (importação). Relação estrutural versus conjuntural”, afirmou o CEO da Petrobras.
“Não trabalhamos com esta hipótese [de interferência externa sobre os preços]. A empresa possui governança corporativa muito sólida e consolidada”, adicionou ele.
Bolsonaro já negou algumas vezes intervenções na Petrobras, mas os combustíveis são sempre mencionados em suas declarações.
Hoje por exemplo, Bolsonaro disse que pediu a Luna que as refinarias brasileiras apresentem a composição detalhada do preço dos derivados, para que a população tenha ideia dos impostos federais e estaduais, além das margens e custos.
O CEO da petroleira garantiu à Reuters que Bolsonaro não foi consultado ou informado sobre o reajuste de preços desta semana, e que o aumento no diesel e na gasolina obedeceu rigorosamente análises internas e baseadas em movimentos estruturais de mudanças de cotações.
Uma das preocupações do governo é com os caminhoneiros, categoria que apoiou a eleição de Bolsonaro.
Na semana passada, Luna recebeu líderes dos caminhoneiros na Petrobras, e a categoria mais uma vez reivindicou o fim da política de PPI (Paridade de Preços Internacionais).
“Esse é um tema sensível que, imagino, deve estar sendo bem cuidado pelos atores competentes. O aumento na Petrobras fica na casa de centavos. Os preços nas bombas não estão no alcance da empresa.”
Caminhoneiros estão programando um ato nacional para o dia 25 deste mês. Em maio de 2018, a categoria parou o país com uma greve de mais de dez dias. De lá para cá, outros atos foram organizados, mas nunca mais tiveram a mesma força. (Com Reuters)
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