Durante um depoimento na última quarta-feira (14) perante o Comitê de Serviços Financeiros dos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deixou claro que, embora o Banco Central norte-americano continue a estudar a viabilidade de um dólar digital, ele não será forçado a lançar uma moeda do tipo e não irá sucumbir à pressão externa dos países que estão saindo na frente.
Ele também observou que, quando os EUA lançarem uma moeda digital soberana, ela poderá tornar as criptomoedas e as stablecoins (criptomoedas cujo valor é atrelado a um ativo estável) desnecessárias. “Um dos argumentos a favor é que, se houvesse uma moeda digital dos EUA, você não precisaria de stablecoins ou de criptomoedas”, disse Powell quando questionado pelo deputado democrata Stephen Lynch (Massachusetts) sobre os benefícios que uma ação rápida do Fed teria nas moedas digitais.
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Atualmente, o Fed está trabalhando em um relatório com previsão de publicação em setembro que busca explorar os benefícios, riscos e pontos que devem ser levados em consideração quando se aborda formas de pagamentos digitais, como criptoativos e stablecoins, e a formação de uma CBDC (moeda digital de um banco central, na sigla em inglês). O documento tem como base o trabalho que o Fed empreendeu no ano passado em uma parceria com uma iniciativa de moeda digital do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) para explorar a ideia de uma CBDC.
Sobre o escopo do estudo, Powell disse que será abordado “todo esse conjunto de questões e de mecanismos de pagamento, que achamos que estão em um ponto crítico em termos de regulamentação adequada, e, no caso da CBDC, mostrar ao público o que ela pode trazer de bom, quais seriam os custos e benefícios disso”.
Dito isso, há um forte argumento de que os EUA estão ficando para trás no que diz respeito ao desenvolvimento de uma CBDC. A China está quase implementando o yuan digital; no ano passado, as Bahamas lançaram a primeira CBDC do mundo; e, na quarta-feira (14), o Banco Central Europeu lançou a próxima fase de seu projeto do euro digital. De acordo com um estudo de janeiro de 2021 do Banco de Compensações Internacionais, 86% dos bancos centrais começaram a estudar projetos de CBDCs.
Esses desenvolvimentos não passam despercebidos por alguns legisladores. Durante o seu tempo para perguntas, Lynch expressou preocupação a Powell de que se o Fed demorasse muito para explorar a ideia de uma CBDC, o dólar poderia inadvertidamente perder seu status de moeda de reserva.
Powell defende que o status do dólar como moeda de reserva é indiscutível. “O dólar é a moeda de reserva. Realmente não existe um bom concorrente lá fora, porque todos os requisitos que você precisa para ser a moeda de reserva realmente estão nos Estados Unidos.” Quanto a explorar a ideia de uma CBDC, Powell adverte que existem riscos, assim como benefícios, mas observa que depende das circunstâncias de cada país. “Acho que é muito mais importante fazer certo do que rápido”, acrescenta ele.
O deputado republicano Patrick McHenry (Carolina do Norte) também perguntou ao presidente do Fed sobre preocupações que ele pudesse ter sobre a implementação de ativos digitais como stablecoins, que cresceram em popularidade ao ponto de que mesmo a Visa anunciou que liquidará pagamentos em USD Coin (stablecoin lastreada em dólar), uma concorrente da Tether, atual líder do segmento.
Em resposta, Powell comparou stablecoins a fundos do mercado monetário e até a depósitos bancários, mas sem os regulamentos que ambos têm. Powell observou que, historicamente, os EUA têm uma forte estrutura regulatória para outros ativos, como fundos do mercado monetário, mas ativos digitais, como stablecoins, são pouco regulados. “Isso não existe para stablecoins, e se eles vão ser uma parte significativa do universo de pagamentos, o que não pensamos que criptomoedas ou mesmo stablecoins possam ser, então precisamos de uma estrutura regulatória apropriada, que ainda não existe”, diz Powell.
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