O filme “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin, mostra norte-americanos desempregados e extremamente pobres enfrentando longas filas nas ruas para receber pratos de comida, num retrato dos impactos da Grande Depressão nos Estados Unidos, resultado de um fenômeno perigoso para as economias: as bolhas financeiras – no caso, a de 1929.
Ricardo Humberto Rocha, professor de finanças do Insper, explica que uma bolha financeira acontece quando há uma forte valorização em um determinado tipo de ativo, sem fundamentos (razões) que justifiquem isso. “Há uma busca por aqueles ativos, eles se valorizam, mas quando você faz uma análise técnica, não tem justificativa para o preço estar naquele valor. Uma hora essa bolha vai furar.”
Mas por qual motivo esses ativos se valorizam mesmo sem justificativa? Rocha afirma que, às vezes, as pessoas são movidas a comprar por excesso de liquidez (muito dinheiro na economia). Mas as bolhas podem também se formar porque há muita demanda por determinados ativos, aumentando assim os seus preços.
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Como começam as bolhas?
Para entender esse mecanismo é preciso avaliar a dinâmica do mercado. Keyler Rocha, professor aposentado da Faculdade de Economia e Administração da USP, explica que o mercado de capitais funciona com base na lei da oferta e demanda – os preços diários das ações sobem e descem seguindo essa lógica. “Esses valores são baseados no futuro, no que se imagina que pode acontecer com a empresa: se ela vai aumentar o seu rendimento, lucro, fluxo de caixa, etc. O mercado reage a essas perspectivas.”
Quando os investidores apostam em massa em determinado ativo, mas não existem fundamentos, essa expectativa é frustrada com o tempo e, por fim, as bolhas estouram. Foi o que aconteceu com a Bolsa de Nova York em 1929 e com o mercado imobiliário norte-americano em 2007, por exemplo.
Em 1929, os Estados Unidos assistiram a uma redução de 50% em seu PIB e a taxa de desemprego saindo de 4% para 27% entre o início da crise até 1933.
Momento atual do mercado
Mesmo com a pandemia do novo coronavírus, as bolsas continuam a subir e atingir novos recordes. Estamos vivendo em uma bolha econômica sem saber?
“Essa pergunta vale alguns bilhões de dólares. A economia, de forma geral e em função da pandemia, desacelerou fortemente, mas está voltando a crescer à medida que os países confiam que a vacina tem eficácia”, diz Ricardo Rocha, que julga que ainda há muito a se recuperar, em termos de crescimento.
“Outra questão é que a economia norte-americana tem um grau de produtividade e de tecnologia que surpreende a cada ano, então é muito difícil pensar numa correção de rota de ativos nos EUA nos próximos dois ou três anos, pelo menos.”
Veja abaixo algumas das bolhas financeiras mais famosas do mundo:
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iStock Bolha das tulipas (séc. 17)
A primeira bolha financeira aconteceu na Holanda, no século 17, provocada pela especulação do preço das tulipas. Na época, a economia do país prosperava, e a flor da tulipa, uma novidade no mercado trazida de Constantinopla, se tornou um símbolo de riqueza e status, o que aumentou a demanda pelo produto, e consequentemente o seu preço.
O valor do seu bulbo se valorizou mais de 20 vezes, foi trocado por terras e imóveis, e alguns ainda negociavam os direitos sobre a compra. O mercado holandês passou a depender dos contratos futuros da flor.
Não se sabe ao certo se foi um carregamento de flores que não chegou, ou se um comprador não respeitou seu contrato, mas por causa de um pequeno movimento na contramão, todo o mercado desabou.
Os contratos futuros de tulipas na Bolsa de Valores de Amsterdã foram vendidos em um movimento de cascata, fazendo com que os preços – e os patrimônio de quem investiu na flor – despencassem da noite para o dia.
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DEA PICTURE LIBRARY/GettyImages Bolha de 1929
Na década de 1920, os EUA viviam um momento de prosperidade econômica: a população consumia, tinha crédito e muitos davam os primeiros passos na Bolsa de Valores, com o intuito de revender suas ações por um preço maior. Com o aumento da demanda por ações, os preços dos papéis subiram, fazendo com que ficasse mais difícil para o cidadão comum adquiri-las.
As pessoas passaram então a tomar empréstimos em bancos, com juros baixos, para poder investir na Bolsa. A situação começou a se complicar quando o aumento dos preços das ações foi maior que o crescimento dos salários, minando o poder de compra dos investidores. Muitos norte-americanos passaram a vender seus ativos ao mesmo tempo, em um movimento de massa, o que fez os preços despencarem.
Ao mesmo tempo, houve um movimento cascata: ao revender as ações por um preço mais baixo do que o de compra, as pessoas ficaram sem dinheiro para pagar os empréstimos e consumir como faziam antes. Quebraram todos ao mesmo tempo: as famílias, os bancos e as empresas que produziam, mas não tinham para quem vender.
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REUTERS/Brendan McDermid Aurora Innovation, pioneira em tecnologia de direção autônoma, viu suas ações recuarem mais de 70%
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Witthaya Prasongsin/GettyImages Bolha do Subprime (2007)
Ao longo dos anos 2000, os bancos dos EUA ofereceram empréstimos com juros muito baixos para as pessoas financiarem a compra de imóveis, que eram dados em garantia pelo empréstimo. No entanto, grande parte dos tomadores de crédito não possuía renda suficiente para, de fato, financiar as propriedades.
Como os juros se mantiveram baixos, a procura por imóveis aumentou, fazendo os preços subirem.
Quando os juros do país – e consequentemente dos financiamentos – começaram a subir, muitos não conseguiram pagar as parcelas. Com isso, famílias deixaram de honrar os seus financiamentos – precisando deixar suas casas por isso, e bancos passaram a lidar com um profundo problema em suas operações de crédito. A crise de 2008 não ficou restrita aos EUA, mas impactou todo o mundo.
Bolha das tulipas (séc. 17)
A primeira bolha financeira aconteceu na Holanda, no século 17, provocada pela especulação do preço das tulipas. Na época, a economia do país prosperava, e a flor da tulipa, uma novidade no mercado trazida de Constantinopla, se tornou um símbolo de riqueza e status, o que aumentou a demanda pelo produto, e consequentemente o seu preço.
O valor do seu bulbo se valorizou mais de 20 vezes, foi trocado por terras e imóveis, e alguns ainda negociavam os direitos sobre a compra. O mercado holandês passou a depender dos contratos futuros da flor.
Não se sabe ao certo se foi um carregamento de flores que não chegou, ou se um comprador não respeitou seu contrato, mas por causa de um pequeno movimento na contramão, todo o mercado desabou.
Os contratos futuros de tulipas na Bolsa de Valores de Amsterdã foram vendidos em um movimento de cascata, fazendo com que os preços – e os patrimônio de quem investiu na flor – despencassem da noite para o dia.
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