O mês de junho foi de desvalorização do dólar frente ao real, ampliando a correção da moeda norte-americana no semestre, que fechou os primeiros seis meses de 2021 com recuo de 4,84% ante à moeda nacional. Esse movimento reflete diferentes aspectos do cenário econômico brasileiro e reforça o quanto as mudanças no câmbio impactam diretamente o dia a dia de pessoas e empresas.
Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office, elenca três fatores determinantes para orientar a valorização ou desvalorização da divisa norte-americana: o crescimento do Brasil, os juros e o risco.
LEIA MAIS: Tudo sobre finanças e o mercado de ações
“Quando o Brasil está crescendo mais do que o esperado ou mais do que os demais países, o dólar cai. Quanto maiores os juros, mais o país se torna atrativo para investimentos, e mais o real tende a se valorizar [fazendo o dólar cair]. E quanto menor o risco brasileiro, mais atraímos capital, o que também faz o real subir”, explica o especialista.
O objetivo final do país é atrair os investidores estrangeiros e valorizar o real frente a outras moedas, a fim de mantê-lo em um ponto de equilíbrio. “Nós temos um câmbio que exagera para um lado, e exagera para o outro”, diz Vanei Nagem, responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos. “O bom seria o real ter uma flutuação com menos picos, para podermos fazer escolhas futuras sem encontrar oscilações loucas.”
O dólar na economia
A variação do dólar tem um impacto direto na inflação e nas exportações brasileiras.
“[A queda do] dólar não vai mudar totalmente o índice de inflação, mas ela tira um pouco da pressão”, afirma Nagem. Com o dólar mais caro, há um impacto no preço dos produtos que são comprados em moeda estrangeira por empresas brasileiras. “Com o câmbio mais caro, há uma consequência direta no valor do produto. Isso pode desestimular a compra no mercado consumidor e diminuir a margem de lucro das empresas”, explica Gibertoni.
Por outro lado, a valorização do dólar beneficia empresas e setores exportadores, que vendem seus produtos em moeda estrangeira. “Como o real está mais valorizado e o custo das empresas do Brasil é em reais, elas acabam tendo mais competitividade no mercado externo para a exportações. Fica possível competir com o preço lá fora”, diz o analista da Portofino.
Gibertoni explica que esse impacto é ainda maior no caso do Brasil, já que a economia brasileira depende fortemente da venda de commodities. Os exportadores se beneficiam de um dólar mais alto, que viabiliza ganhos maiores na venda ao exterior, enquanto setores que importam grande parte de seus produtos, como os de tecnologia e varejo, são beneficiados em momentos de dólar mais baixo.
“As empresas varejistas tendem a se beneficiar de um dólar mais baixo, porque o produto tem baixa de preço e há uma margem maior de venda”, diz Gibertoni.
O dólar nos investimentos
A variação cambial também interfere nos investimentos brasileiros e um dos principais fatores dessa equação é a taxa de juros brasileira, que define o rendimento dos investimentos de renda fixa e influencia diretamente o valor do dólar ante o real. O Banco Central definiu a taxa de juros para o país em 4,25%, e os economistas consultados pela pesquisa Focus calculam a taxa em 6,50% para o fim de 2021; nos Estados Unidos, o Federal Reserve manteve os juros entre 0,0% e 0,25% em sua reunião de junho.
Nesse cenário, a renda fixa brasileira fica mais atrativa para o capital estrangeiro, porque os juros pagos por essas aplicações no Brasil são superiores aos pagos em economias desenvolvidas, como a norte-americana. A entrada do capital estrangeiro no mercado doméstico representa a entrada de dólares na economia, colaborando para a queda da divisa norte-americana em relação ao real.
“Quando o Banco Central decidiu aumentar os juros, ele tornou a economia brasileira mais atraente para investimentos externos. Isso gera fluxo cambial para o Brasil e faz com que o real se valorize”, explica Thomas Gibertoni.
Em um cenário de dólar valorizado, os ativos de renda variável negociados no Brasil e, portanto, em reais, podem também oferecer oportunidades de entrada para os investidores estrangeiros, favorecendo assim o desempenho da bolsa de valores doméstica.
Dólar Turismo
Outro aspecto importante para entender a flutuação cambial é a cotação do dólar turismo, que serve de termômetro para alguns agentes no mercado e para potenciais turistas, além de poder indicar uma bolha de aquecimento de turismo interno. “Hoje, os dados para o final do ano mostram que os hotéis nacionais estão quase todos esgotados, porque o turismo internacional é inexistente [favorecendo as viagens dentro do país], então você tem o segmento de moeda turismo parado”, explica Nagem. As transações com a moeda caíram 95% após o início da pandemia.
O especialista alerta os investidores para prestarem mais atenção no segmento, que ele considera significativo para entender o aquecimento econômico como um todo. “Normalmente, quem viaja tem um dinheiro sobressalente, o que serve como um termômetro de como as contas estão apertadas e também de como os outros países estão fechados para o Brasil”.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.