Órgãos reguladores chineses ganharam reputação por serem agressivos, mas mesmo investidores calejados ficaram chocados com o anúncio de uma investigação à empresa de transporte de passageiros por aplicativo Didi apenas dois dias após sua estreia na Bolsa de Valores de Nova York.
Embora o IPO (Oferta Pública Inicial) da Didi tenha mencionado que havia alguns riscos regulatórios à operação, não havia indicações de que a CAC (Administração do Ciberespaço da China, na sigla em inglês) começaria a investigar a empresa e proibiria que ela aceitasse novos usuários durante a revisão.
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A Didi afirmou hoje (5) que não estava ciente antes do IPO da investigação anunciada pelo regulador chinês em 2 de julho. As ações haviam fechado em queda de 5,3% na sexta-feira (2) e não estavam sendo negociadas hoje em razão de feriado nos Estados Unidos.
Dois dias depois, o regulador emitiu uma ordem para que o aplicativo da Didi fosse removido das lojas de aplicativos da China, dizendo que a empresa havia coletado dados pessoais de usuários de maneira ilegal.
“Antes do IPO, a Didi não tinha conhecimento das decisões da Administração, com anúncios em 2 e 4 de julho de 2021, a respeito da revisão de ciberssegurança e a suspensão do registro de novos usuários na China e a retirada do aplicativo Didi Chuxing das lojas de aplicativos da China, respectivamente”, afirmou a Didi em comunicado enviado à Reuters.
Notícias sobre a ordem para retirar os aplicativos pegaram desprevenidos seis fundos de investimento que participaram do roadshow da Didi, incluindo dois aos quais ações haviam sido alocadas.
Uma fonte de um hedge fund afirmou que a notícia do regulador chinês era bizarra e inesperada por ter chegado tão pouco tempo depois do IPO.
O regulador afirmou que suas ações eram para proteger a segurança nacional e os interesses públicos, mas investidores assustados afirmaram que o timing coloca uma sombra sobre os planos de outras empresas de tecnologia chinesas de listar suas ações nos Estados Unidos ou levantar fundos em mercados globais.
A medida foi interpretada como uma forma de aumentar a pressão sobre empresas de tecnologia chinesas, o que começou com a sabotagem do IPO de US$ 37 bilhões planejada pelo Ant Group, afiliado da Alibaba, no fim do ano passado.
“O Partido [Comunista Chinês] já havia visado o Ant Group, que planejava um IPO e foi forçado a cancelá-lo”, disse Ryan Fedasiuk, analista de pesquisa no Centro para Segurança e Tecnologia Emergente de Georgetown.
“Mas esse passo é uma escalada porque é retroativo, efetivamente punindo investidores que haviam participado de um IPO completo. A Administração começou a revisão e suspendeu a presença da Didi em lojas de aplicativos da China apenas dias depois da sua estreia em público”, acrescentou.
Hoje, a Didi disse que a ordem para retirar seu aplicativo das lojas na China poderia prejudicar suas receitas.
“Pegou todo mundo de surpresa, mas ações antitruste ocasionais é o que podemos esperar de nomes da tecnologia”, disse o analista sênior de mercado da Saxo Markets, Edinson Pun.
“A suspensão [do download do aplicativo da Didi] definitivamente prejudicará a confiança do investidor, porque havia acabado de ser listado no mercado dos EUA, e levará tempo até os investidores ajustarem a avaliação”, acrescentou.
NOVA JORNADA PARA DIDI
A Didi também está sendo investigada pela SAMR (Administração Estatal para Regulação do Mercado da China, na sigla em inglês), órgão supervisor de antitruste, para saber se usou práticas anticompetitivas contra rivais menores de maneira injusta, publicou a Reuters mês passado.
A investigação da SAMR também está averiguando se o mecanismo de preços do seu serviço de transporte de passageiros por aplicativo é transparente o bastante.
A Didi, que domina o mercado de transporte de passageiros na China, afirmou na época que não comentaria a especulação.
A Didi listou suas ações em Nova York em 30 de junho, após roadshow, reuniões com investidores e ligações telefônicas a partir de 11 de junho. O IPO de US$ 4,4 bilhões avaliou a empresa o em US$ 67,5 bilhões, uma queda dos US$ 100 bilhões que a Didi esperava no começo do ano, após investidores hesitarem sobre o ritmo e a rentabilidade da sua expansão.
A maioria dos roadshows da Didi foram apresentados pelo cofundador Jean Liu, o vice-presidente sênior Stephen Zhu e o chefe de mercados de capital David Xu, e no geral eles falaram sobre suas operações e crescimento dos negócios, segundo pessoas que estiveram nas reuniões.
Houve pouca informação sobre problemas regulatórios nas reuniões, além do que foi divulgado no prospecto da Didi, acrescentaram.
A Didi mencionou a nova Lei de Segurança de Dados da China no seu prospecto, que deve entrar em voga em setembro, dizendo que poderia exigir ajustes às suas práticas de negócios.
Incomum para uma empresa chinesa, a Didi estreou na bolsa com pouca pompa e circunstância.
“Não tocamos o sino ou comemoramos de forma conspícua porque a listagem não é o fim, mas o começo de uma nova jornada”, disse uma carta enviada pelo fundador Will Cheng e por Liu aos funcionários da Didi na quarta-feira (30).
“Isso significa que precisamos estar mais abertos e transparentes e precisamos aceitar mais responsabilidade social e expectativas”, acrescentaram, segundo uma cópia da carta vista pela Reuters.
A Didi não respondeu ao pedido por comentários sobre a carta.
Para Jonas Short, chefe do escritório de Pequim da Everbright Sun Hung Kai, a medida da SAMR levanta preocupações de que algo mais virá no futuro.
“A repercussão da investigação da SAMR que a Didi mencionou no seu prospecto ainda precisa ser comprovada. A expectativa de multas da SAMR ainda existe”, disse Short. (Com Reuters)
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