Os fundos de investimento estão se tornando cada vez mais populares entre os investidores brasileiros. A indústria registrou captação líquida de R$ 43,4 bilhões apenas em julho, segundo a Anbima (Associação Brasileira de Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais). Considerando todo o primeiro semestre de 2021, o setor atingiu o recorde de R$ 206 bilhões captados.
O interesse não é por acaso. Luciana Seabra, fundadora e CEO da Spiti, explica que esses ativos podem ser usados na carteira de qualquer investidor, já que permitem investir em diferentes produtos financeiros, com níveis diversos de exposição a riscos e gestão profissional do patrimônio.
A estrutura regulada dos fundos, segundo Luciana, é outra característica que torna esse modelo mais seguro, e consequentemente mais atraente. Ela os compara com condomínios de apartamentos:
“O fundo tem a figura de um administrador, que cuida da burocracia, como cumprir as obrigações junto à CVM e ao mercado, assim como nos condomínios, que têm um responsável por cuidar da burocracia do prédio”, diz ela.
O gestor do fundo tem um papel que, neste exemplo, pode ser comparável ao de um síndico, “que é quem decide para onde vai o dinheiro do condomínio, se vai reformar primeiro a escada ou o elevador”.
As assembleias do fundo, por sua vez, equivalem a reuniões de condomínio, e a taxa de administração cobrada pelo fundo equivale à mensalidade que os moradores pagam pela estrutura comum do prédio, explica Luciana.
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Os fundos podem ser classificados de diferentes formas, conforme os produtos financeiros que têm em carteira.
Dentre as classificações comuns estão: os fundos de renda fixa, aquele que possuem pelo menos 80% de ativos dessa classe; os fundos de ações, que são compostos por, no mínimo, 67% em ações; os fundos cambiais, que investem ao menos 80% em ativos atrelados à variação de moedas estrangeiras; e os fundos imobiliários, que investem em imóveis físicos ou em títulos do mercado imobiliário.
Aqueles que combinam diferentes tipos de produtos financeiros em sua carteira, são classificados como fundos multimercado.
Custos e vantagens
A manutenção da estrutura do fundo tem um preço que pode ser cobrada em duas taxas. A primeira é a taxa de administração: em um fundo com gestão ativa, por exemplo, em que o investidor espera que a rentabilidade supere a média do mercado, essa taxa é normalmente encontrada com variações entre 1 e 3% ao ano sobre o seu patrimônio no fundo.
Existe ainda a taxa de performance: ela é cobrada quando o fundo supera a meta de rentabilidade (conhecido como benchmark). Essa taxa é como se fosse um bônus de 20% ao gestor, cobrado sobre a rentabilidade extra do fundo. Isto é, se a expectativa é de que o fundo renda 5% ao ano, mas em 2021 ele render 6%, o investidor pagará 20% sobre essa diferença entre o valor prometido e o obtido no final.
Apesar das taxas, a CEO da Spiti vê algumas vantagens nesse formato de investimento. Ela cita, por exemplo, que os fundos permitem uma maior diversificação para o investidor, já que há mais recursos para investir, o que reduz os riscos. Outra vantagem é que, por comprar grandes volumes, o gestor consegue obter preços melhores para os ativos e tem acesso a prazos diferentes de vencimentos de títulos.
“Alguns fundos têm emissão restrita a certos tipos de investidores, então a pessoa física, que tem um volume menor de dinheiro, não acha esses ativos no mercado”, explica Luciana. “Além disso, os fundos contam com equipes especializadas que operam exclusivamente com o dinheiro em custódia.”
Critérios de escolha
Não é o investidor que decide onde o dinheiro do fundo será investido, mas o gestor. Logo, cabe ao investidor escolher bem o fundo e o gestor que irá tomar essas decisões. Para escolher um fundo mais adequado ao seu perfil, é necessário analisar não apenas os números do fundo, mas quem são os gestores também.
Gabriela Mosmann, analista de investimentos da Suno Research, argumenta que um dos critérios mais importantes é a escolha da gestão, mas que avaliar as pessoas responsáveis pela alocação de recursos não precisa ser uma tarefa muito complexa.
“É preciso ver o histórico dos últimos 3 a 5 anos, nunca do curto prazo [últimos 12 meses]. Retornos passados são um guia para embasar as nossas expectativas [e permitem analisar o desempenho em] os momentos de crises do mercado e períodos de alto crescimento macroeconômico”, diz ela.
A especialista também recomenda conhecer as pessoas por trás do fundo. “Conhecer quem são as pessoas que trabalham na equipe, saber se elas estão juntas há muito tempo; e buscar uma comunicação com o gestor, para ver se esse é o tipo de relação na qual o investidor se sentirá confortável”, recomenda Gabriela. Você pode fazer isso por meio dos canais de comunicação do próprio fundo ou em busca em redes como o LinkedIn.
Além disso, a analista reforça a importância de comparar a rentabilidade líquida do fundo com o benchmark que ele se propõe a acompanhar. Isso significa que, para entender se a rentabilidade de um fundo foi realmente boa, é preciso compará-la com o indicador que ele se comprometeu a superar.
Há fundos que têm como referência, por exemplo, o CDI, outros terão como referência de rentabilidade o Ibovespa, ou seja, o seu fundo deve ter um histórico de rentabilidade melhor que esse benchmark, caso contrário talvez não seja uma boa opção para o seu dinheiro.
Após feita a escolha, Gabriela afirma que o investidor deve acompanhar o desempenho do fundo entre uma janela de meses, para que ele tenha uma percepção mais panorâmica do seu desempenho e não tenha sua visão distorcida pelas variações diárias do mercado, que são esperadas, ou seja, verificar a rentabilidade do fundo diariamente ou semanalmente não é recomendável. Estabeleça um período de alguns meses para fazer essa avaliação, e fique atento aos comunicados e cartas dos gestores do fundo
A especialista reforça, no entanto, que o ideal é gastar um tempo maior na hora de escolher um fundo, assim o investidor terá mais confiança na gestão e paciência para esperar os frutos em longo prazo.
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