No calendário comercial, o Dia dos Pais só perde para o Natal, Dia dos Namorados e Dia das Mães. Na dinâmica do comércio, há um grande planejamento para gerar lucro com essas datas, mas você já parou para pensar que este dia pode ser um momento de planejar riqueza para a vida dos seus filhos?
De acordo com um estudo divulgado pela B3 no final de 2020, o perfil predominante entre os investidores é de jovens (em média 32 anos) e 74% masculino. Isso leva a pensar que estamos frente a um cenário de mudança geracional interessante.
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Se, há algum tempo, tínhamos a geração que cresceu ouvindo dos pais sobre investimentos em imóveis como sinônimo de segurança, sobre o conservadorismo supostamente prudente da caderneta de poupança e da aposentadoria confiada exclusivamente à Previdência Social, hoje, começamos a ver uma geração de crianças e adolescentes que têm pais investidores e focados em independência financeira.
Você, que no último final de semana comemorou o Dia dos Pais dando ou recebendo presentes e homenagens, lembre-se que o maior presente de todos é a autonomia, a liberdade de ser e fazer o que quiser ao longo da vida e, para isso, infelizmente, você sempre irá precisar de dinheiro.
Ter pais atentos à importância de saber investir pode fazer toda diferença na educação financeira e na qualidade de vida da próxima leva de investidores que virá por aí. Se você, que já investe ou pensa em investir, ainda não tinha se visto por essa perspectiva de pai, te convido a pensar no impacto positivo de sua autoridade e referência ao ajudar seus filhos a vislumbrar sonhos, transformá-los em metas e ver, nos investimentos, um caminho possível para alcançá-las.
Não é incomum um filho impactar no planejamento financeiro da casa com a sua chegada. Fraldas, enxoval, a primeira escola e tantas outras demandas surgem e, com o crescimento da criança, só tendem a aumentar. Neste contexto, é fundamental que a rotina da família não deixe cair no esquecimento que, junto com o crescimento dos filhos e todas as despesas envolvidas, o planejamento financeiro deve contemplar também a construção de riqueza e a independência financeira.
As gerações nascidas até a década de 1980 cresceram ouvindo coisas como “ponha na poupança”, “compre um imóvel”, “tenha um emprego que lhe permita uma boa aposentadoria”. Essas crenças estavam alinhadas a um contexto histórico que, há bastante tempo, já não existe mais.
Hoje em dia, você, como pai ou figura que desempenha esse papel dentro da constituição familiar, tem a responsabilidade de formar uma personalidade investidora e evitar que seu filho ou filha passe pelo sentimento bem conhecido como “queria ter começado antes”, que assola a maioria dos investidores.
Novos tempos, novos paradigmas
Há algumas décadas, o Brasil vem debatendo a questão do desequilíbrio do sistema previdenciário e a necessidade de reformas devido ao aumento da expectativa de vida da população. Isso não seria um problema se a população economicamente ativa e que contribui para a previdência estivesse crescendo na mesma proporção. Contudo, não é o que está acontecendo, muito pelo contrário.
O cenário para a previdência social é desalentador, e a última reforma previdenciária é somente mais uma de muitas que ainda teremos pela frente. Sendo bem realista e direto com você: com o número de pessoas que recebem da previdência sendo maior do que o número de pagantes, não é preciso ser matemático ou economista para perceber que a conta não fecha.
Estou pontuando isso somente para te dizer que você precisa fazer o planejamento financeiro da sua vida sem contar com a aposentadoria do governo, pois não há nenhuma garantia de que você vai usufruir dela um dia. Sendo assim, investir mensalmente é imprescindível tanto para que você não se torne um idoso ou idosa que depende financeiramente dos filhos, como também para que essa cultura do investimento e da busca de independência financeira seja o seu legado para sua família.
Além disso, o mercado de trabalho também mudou. O que antigamente era garantia de estabilidade para a vida toda, o tal “emprego com carteira assinada”, hoje já não é garantia de nada. Um estudo do IFTF (Institute For The Future) aponta que em torno de 85% das profissões que terão relevância a partir de 2030 ainda nem existem. Veja, não estamos falando de um futuro remoto, é 2030!!! Tá logo aí adiante.
Sendo assim, sua responsabilidade em proporcionar educação financeira e consciência no uso do dinheiro aumentou ainda mais. Seus filhos viverão em um cenário totalmente novo, onde a capacidade de cuidar de si será um diferencial competitivo vital.
Educar pelo exemplo
Ensinar sobre consumo consciente e uso responsável do dinheiro é algo que deve começar logo cedo. Obviamente, os exemplos devem ser adequados à faixa etária dos seus filhos e, mais do que isso, é fundamental que as crianças percebam que, no dia a dia, você pratica aquilo que fala.
Você não precisa ser um especialista em finanças pessoais, mas precisa se empenhar em ter disciplina, planejamento e foco. Deve ter clareza quanto ao custo mensal familiar e administrá-lo com inteligência. Inclusive, experimente compartilhar com seus filhos as informações sobre receitas e despesas que compõem o orçamento familiar. Mais do que isso, planeje, junto com eles, qual o momento mais adequado para fazer determinados gastos, ensine sobre as formas mais eficientes de guardar dinheiro em cada fase da vida, demonstrando quais os benefícios disso.
No meu papel de pai, eu costumo usar coisas que fazem parte do universo da minha filha de 10 anos para demonstrar a ela a vantagem de investir. Por exemplo, ela gosta muito de um shopping aqui em São Paulo, que frequentávamos bastante antes da pandemia. Então, eu comprei fundos imobiliários deste shopping para ela, e sempre explico que, ao ter fundos desse shopping que ela tanto gosta, é como se ela fosse dona de uma pequena parte do local.
Além disso, temos um acordo quanto à mesada que ela recebe (e que é proveniente do rendimento dos próprios fundos): ela é livre para decidir se quer gastar todo o dinheiro ou investir parte dele, mas ela sabe que, toda vez que opta por investir ao invés de gastar, eu dobro o valor que ela investe. Mesmo com pouca idade, ela já compreendeu a vantagem envolvida nisso: toda vez que guarda ao invés de gastar, consegue comprar mais cotas do seu shopping preferido e vai se tornando dona de uma parte maior.
Percebe como algo lúdico se tornou, ao mesmo tempo, uma meta e uma ferramenta de construção de bons hábitos? Não faria nenhum sentido eu tentar fazer palestras teóricas sobre finanças para uma criança. Ela não entenderia nada, iria me achar um chato, e o pior: poderia “pegar ranço” do assunto.
Em vez disso, eu peguei algo que é divertido pra ela – seu shopping favorito – expliquei aos poucos o quanto pode ser legal se tornar “dona” do local, e mostrei qual o caminho para conseguir isso: guardar parte do seu dinheiro para alcançar esta meta.
Conforme ela for crescendo, vou adicionando outros exemplos e desafios lúdicos, sempre de acordo com a idade e com coisas do seu cotidiano. Dessa forma, a educação financeira irá acontecer naturalmente e, quando ela for adulta e eu tiver que falar com ela de forma mais técnica sobre planejamento financeiro e carteira de investimentos, isso não será algo complicado, pois já estará presente na sua rotina.
Por isso, você, que é pai (ou o correspondente a isso), pense também no seu papel como educador de um futuro adulto que tem a chance de ter uma vida financeira saudável e que não vai depender de você lá na frente (e você também não dependerá dele). Presentes são legais e muitos são memoráveis, mas lembre-se: a maior herança que você pode deixar é o conhecimento.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
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