O preço da gasolina chegou a R$ 7,00 na última semana em alguns postos pelo país. No acumulado deste ano até julho, o valor pago pelo consumidor brasileiro é 27,51% maior, enquanto o preço do diesel subiu 25,78%, segundo informações do (IPCA) Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A alta dos combustíveis impacta não só os donos de carros ou usuários do transporte público – ela tem sido um dos principais responsáveis pela inflação, que deve encerrar o ano com crescimento de 7,27%, segundo a mais recente pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central.
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“Os combustíveis estão relacionados ao preço final de qualquer mercadoria”, explica Fernanda Delgado, professora e assessora estratégica na FGV Energia. “Tudo precisa de transporte para chegar ao consumidor final. O diesel é especialmente relevante porque a matriz de transporte nacional é basicamente rodoviária, então, quando você tem uma alta desses preços, ela é repassada para o valor final da mercadoria que é entregue”, diz ela.
A disparada dos preços dos combustíveis foi tão alarmante que, em março deste ano, poucos dias após a Petrobras anunciar reajuste nas refinarias, o presidente Jair Bolsonaro decidiu remover o executivo Roberto Castello Branco do comando da companhia. O general Joaquim Silva e Luna foi indicado pelo governo para substituí-lo. Com a mudança, as ações da petroleira chegaram a despencar mais de 20% em um único pregão, fazendo a companhia perder mais de R$ 100 bilhões em valor de mercado.
Mas, afinal, por que os preços estão subindo? Para entender esse movimento, primeiro é preciso compreender o papel da Petrobras. Segundo Delgado, o Brasil tem uma peculiaridade: há quase um monopólio do mercado de derivados do petróleo, já que a petrolífera é dona de 98% da capacidade de refino do país. Por isso, é a Petrobras quem acaba determinando o preço dos combustíveis vendidos pelas refinarias, já que o valor praticado por ela será o mesmo para (quase) todo o mercado.
Mas a companhia não é a única responsável pela formação de preços, que são compostos por cinco elementos: imposto estadual (ICMS), impostos federais (Cofins, Cide e outros), preço dos biocombustíveis, custo de distribuição e revenda e, por fim, o chamado “preço de realização da Petrobras”.
Esse “preço de realização” é o valor pelo qual o combustível será vendido pelas refinarias da Petrobras às distribuidoras, e é o único elemento desse cálculo sobre o qual a companhia tem controle. Ele é definido de acordo com uma política adotada em 2016 pela Petrobras que equipara os preços do barril de petróleo no Brasil ao praticado no mercado internacional – o chamado petróleo Brent.
Delgado afirma que é a volatilidade do preço do barril de petróleo Brent que tem puxado a alta dos combustíveis no país. “Quando o preço do petróleo varia lá fora, ele também varia aqui. E essa oscilação ocorre por causa de várias questões – políticas, econômicas e geopolíticas, por exemplo.”
Ilan Arbetman, analista de pesquisas da Ativa Investimentos que acompanha o mercado de petróleo de perto, argumenta no mesmo sentido. “Existe um nível de volatilidade muito grande no preço do petróleo. Talvez os dois produtos mais difíceis de fazer algum tipo de previsão seja o petróleo e o dólar. Ele sofre influência de questões climáticas, geográficas; é muito difícil a gente definir com precisão o preço futuro da commodity”, diz ele.
O Brent é cotado em dólares, o que também ajuda a explicar a alta no Brasil. A moeda norte-americana subiu 3,73% no acumulado de 2021 até a última sexta-feira (20).
Para Delgado, a tendência é que os combustíveis fiquem mais baratos até o fim do ano. “A perspectiva hoje é de baixa, porque estamos vendo algumas economias voltando a se fechar por causa da variante Delta. Houve um movimento de recuperação econômica, mas agora temos algumas incertezas em relação à retomada, em especial a da China”, diz ela, acrescentando que há um aumento sazonal nos preços no fim do ano, por causa do aumento do consumo durante o inverno no hemisfério norte.
Saiba mais sobre as cinco parcelas que determinam a composição do preço da gasolina e do diesel, de acordo com dados da Petrobras que consideram as médias entre os estados brasileiros.
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Paulo Whitaker/Reuters Realização da Petrobras
Peso no preço da gasolina: 33,6%
Peso no preço do diesel: 52,4%Preço cobrado pela Petrobras na refinaria, e única parcela onde a estatal apresenta alguma ingerência. Considera o valor do produto, taxas e custos de frete, movimentação, armazenamento e serviços associados. É aqui que incidem as oscilações do mercado internacional, através da política de paridade de preços de importação, influenciada pela taxa de câmbio e pelo preço internacional do barril do petróleo.
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Getty Images ICMS
Peso no preço da gasolina: 27,6%
Peso no preço do diesel: 15,9%Significa “Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços”, e incide quando um produto ou serviço circula entre cidades, estados ou mesmo de pessoas jurídicas para pessoas físicas. Seus valores variam de estado para estado. Hoje, em São Paulo, o ICMS representa 25% do preço da gasolina, enquanto no Rio de Janeiro, essa fatia é de 29%. A variação está atrelada ao perfil de cada estado: tamanho populacional, atividades econômicas, industrialização, entre outros aspectos.
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Marcelo Teixeira/Reuters Etanol anidro ou biodiesel
Peso no preço da gasolina: 16,9%
Peso no preço do diesel: 11,2%Assim como à gasolina é adicionada uma pequena porcentagem de etanol anidro, o diesel também é composto por uma parcela de biodiesel. A mistura é obrigatória, e tem como principal objetivo reduzir as taxas de emissão de CO2 na atmosfera. Apresentando origem vegetal, o etanol anidro, por exemplo, compensa as emissões de CO2 durante o seu ciclo como cana-de-açúcar, ao transformar esse gás em oxigênio, e também apresenta um teor de carbono menor do que a gasolina, reduzindo o impacto durante a queima do combustível.
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Ricardo Moraes/Reuters Cide, PIS/Pasep e Cofins
Peso no preço da gasolina: 11,5%
Peso no preço do diesel: 6,9%São tributos federais. O Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) tem a finalidade de assegurar um montante mínimo de recursos para investimentos em infraestruturas de transporte, subsídios à compra de combustíveis e programas ambientais para reduzir os efeitos causados pelo uso da gasolina e do diesel.
O PIS (Programa de Integração Social) e o Pasep (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público) são programas nos quais empresas e órgãos públicos depositam contribuições a fim de custear benefícios para os seus empregados.
E o Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) serve para financiar algumas esferas básicas da seguridade brasileira, como a previdência social, a saúde pública e outros programas de assistência.
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Mario Tama/Getty Images Distribuição e revenda
Peso no preço da gasolina: 10,4%
Peso no preço do diesel: 13,4%Etapa em que o preço final é definido. Abarca desde o custo do frete para transportar os combustíveis aos postos de abastecimento, aos custos de operação das distribuidoras, incluindo manutenção, aquisição de equipamentos, pagamento de funcionários, e despesas como energia elétrica e água.
Realização da Petrobras
Peso no preço da gasolina: 33,6%
Peso no preço do diesel: 52,4%
Preço cobrado pela Petrobras na refinaria, e única parcela onde a estatal apresenta alguma ingerência. Considera o valor do produto, taxas e custos de frete, movimentação, armazenamento e serviços associados. É aqui que incidem as oscilações do mercado internacional, através da política de paridade de preços de importação, influenciada pela taxa de câmbio e pelo preço internacional do barril do petróleo.
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