Após o desenvolvimento e a estruturação do sistema de pagamento Pix, o Banco Central do Brasil já está em curso para lançar mais uma novidade para os clientes bancarizados do país: o open banking.
Com a premissa de que cada correntista é dono dos seus dados bancários – o que inclui extrato, transferências e histórico de acesso a crédito, por exemplo –, a iniciativa do BC tem como objetivo permitir que os usuários de serviços financeiros no país compartilhem suas informações com outras instituições – e não apenas com aquela da qual é cliente –, mediante uma autorização expressa para essa movimentação.
Siga todas as novidades do Forbes Tech no Telegram
O open banking é mais um projeto do órgão regulador brasileiro na chamada “Agenda BC#”, iniciativa lançada em 2019, com foco em inovação e desburocratização do sistema financeiro. “Esta é uma pauta de trabalho centrada na evolução tecnológica para desenvolver questões estruturais do sistema financeiro”, diz a descrição do programa no site oficial.
Segundo o BC, a iniciativa tem como objetivo democratizar o acesso a serviços financeiros, promovendo competitividade no setor e a inclusão bancária da população brasileira – a estimativa é de que 34 milhões não possuem vínculo com instituições bancárias. O Pix, por exemplo, faz parte desse escopo.
PASSO A PASSO DA IMPLEMENTAÇÃO
As primeiras conversas do Banco Central com as instituições financeiras sobre o open banking começaram em maio do ano passado. À época, se discutia os termos e as estruturas regulatórias e tecnológicas para sustentar o volume de transferência de dados bancários entre os mais de 280 bancos, cooperativas de crédito, adquirentes e meios de pagamento parceiros da iniciativa.
Depois de pouco mais de um ano, a primeira fase de implementação começou em fevereiro de 2021. Neste momento inicial, as instituições passaram a transferir entre si suas informações internas, como as características de seus produtos e serviços. Nenhum dado de cliente foi compartilhado nesta etapa.
Para a executiva de compliance e risco da fintech Zoop, Mareska Tiveron, o pontapé inicial do open banking funcionou mais como um teste para validar a estrutura tecnológica, checando se ela será capaz de suportar o volume de transferências, além de garantir a segurança dos dados dos clientes.
“Endereços de agências bancárias, taxas praticadas e produtos e serviços ofertados foram algumas das informações que as instituições tiveram de trocar entre si”, diz a executiva. “O BC exigiu que os parceiros do open banking desapegassem dessas informações para que a interoperabilidade do sistema fosse testada e homologada.”
A partir desta sexta-feira (13), tem início a segunda etapa. Nessa fase, as financeiras começarão o compartilhamento de dados sensíveis dos clientes, caso estes autorizem. Sendo assim, o correntista é quem solicitará o repasse de suas informações bancárias para outra instituição de sua preferência.
O plano do BC é de que, até o dia 24 de outubro deste ano, informações cadastrais (nome, CPF, telefone e e-mail), bancárias (transferências e transações) e de operações de crédito (cartão, financiamento e empréstimos) possam ser compartilhadas 24 horas por dia entre os parceiros da iniciativa, limitado ao máximo de 10% da base de clientes em sua totalidade, seja pessoa física, seja pessoa jurídica, das instituições que detêm as informações.
AS POSSIBILIDADES DO OPEN BANKING
O principal ponto que o open banking traz para o sistema é que as instituições financeiras não possuem exclusividade perante os dados bancários de seus correntistas. Esse movimento dá poder ao cliente, que agora passa a ter controle de suas informações, podendo compartilhá-las ou não com os bancos, cooperativas de crédito, adquirentes e meios de pagamentos parceiros incluídos na iniciativa do BC.
Para o líder da área de produtos financeiros e bancários da companhia de tecnologia para serviços financeiros Matera, Bruno Samora, essa mudança de controle dos dados possibilitará que os correntistas atuais tenham uma nova relação com os bancos. “O cliente vai poder pegar essas informações, que estão trancadas a sete chaves em uma instituição financeira, e repassar para outros bancos avaliarem e oferecerem produtos e serviços com melhores condições”, afirma.
VEJA TAMBÉM: Pesquisa inédita revela receio dos brasileiros sobre open banking
Esse compartilhamento de informações tem como consequência direta uma maior competitividade entre o setor bancário. “Com o poder na mão do usuário, as instituições financeiras terão que se esforçar mais não só para capturar os clientes, mas também para retê-los [com boas opções de produtos]”, diz Samora.
O open banking também formará uma plataforma aberta, na qual será possível comparar produtos e serviços de todas as instituições financeiras participantes. Com isso será possível, por exemplo, avaliar as taxas aplicadas em financiamentos ofertados por bancos diferentes, assim como o valor das cestas básicas de serviços. “A conexão entre todos os bancos permitirá que o usuário final faça comparações e escolha aquilo que é melhor para ele”, afirma Mareska, da Zoop.
Além disso, essa possibilidade de comparação de produtos, na visão dos especialistas, criará catálogos virtuais que os clientes poderão acessar para escolher as melhores condições de contratação de serviços financeiros. “Veremos o open banking nos aplicativos dos bancos, mas também veremos essas comparações em ‘plataformas concierge’, uma instituição terceira que recomendará produtos”, diz o executivo da Matera.
Segundo Mareska, o open banking vai criar “shopping centers financeiros”, que consolidarão as informações coletadas na plataforma aberta do BC sobre os produtos e serviços de bancos e outros parceiros. “Esses novos locais podem pertencer aos próprios bancos ou serem negócios independentes”, afirma. “Cada cliente vai enxergar um cardápio de opções sob medida, com base nas suas próprias informações.”
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.