A formação de preços dos ativos de renda variável é complexa e envolve a análise de muitos fatores, mas o preço das ações oscila muitas vezes influenciado por motivos menos técnicos: os boatos. Notícias não confirmadas, especulações e rumores podem ser o combustível para altas ou baixas bruscas nos preços em curto prazo, mesmo que a longo prazo o mercado se ajuste à realidade dos fatos.
No início deste mês, rumores de que a rede de Lojas Marisa poderia ser comprada pela Lojas Americanas fizeram disparar os papéis da varejista de roupas femininas. Os papéis da Marisa fecharam o pregão de 6 de agosto a R$ 7,86, com variação de 6,79% em um único dia.
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Contudo, na época, a Marisa divulgou um fato relevante informando que “não possui neste momento qualquer acordo concreto para a realização de uma operação, seja com as Americanas S.A., seja com outro participante de mercado.”
Após a divulgação da nota, os papéis da companhia fecharam a última segunda-feira (9) cotados a R$ 8,05, com alta de 2,42%. Nos cinco dias seguintes, a ação caiu 9,67%
A notícia foi desmentida, mas a Lojas Marisa também esteve no centro de outra informação não confirmada. Desta vez, a possível compra seria realizada pela também varejista de vestuário Renner. O boato levou as ações da Marisa para alta de 13,81% no fechamento de 16 de abril.
O professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo), José Carlos de Souza, explica que esse processo de “sobe e desce” dos ativos relacionados a notícias é natural. “O preço de um papel se altera quando investidores recebem informações operacionais de uma companhia e projetam como será o fluxo de dividendos da empresa no ano.”
O especialista recomenda que essas situações não devem ser encaradas como “oportunidades”, já que ainda não foram confirmadas, e que o investidor busque informações oficiais da empresa na página de RI (Relação com Investidores) ou em sites de notícias confiáveis antes de vender ou comprar ações.
Em fevereiro deste ano, Bruno Madruga era head de renda variável da Monte Bravo Investimentos quando surgiu um boato sobre a substituição do então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, por Joaquim Silva e Luna. Em cinco dias, as ações da petroleira caíram 37,9%, mas, neste caso, o boato se concretizou em 12 de abril.
“A escolha por realizar uma operação por causa de um boato é normalmente feita por investidores, nós [corretoras] esperamos que o fato se concretize para saber se vendemos, compramos ou deixamos passar”, diz Madruga.
Matheus dos Santos, de 26 anos, foi um dos investidores que acabou realizando uma operação seguida de um boato e perdeu dinheiro. Ele investiu R$ 4 mil em ações da OI esperando por uma valorização nos papéis da companhia após ler boatos sobre o potencial de ganhos com a venda da companhia. Após um ano, o investimento acumula prejuízo próximo de 43%.
Nos Estados Unidos, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) costuma questionar as companhias quando ocorre alguma oscilação atípica nos papéis. No Brasil, papel semelhante é desempenhado pela CMV (Comissão de Valores Mobiliários). Procurada pela Forbes, a CVM não informou quantos processos relacionados a boatos estão sob investigação atualmente.
Veja sete boatos no Brasil e no exterior que movimentaram para cima e para baixo ações de diferentes empresas nos últimos anos:
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Sergio Moraes/Reuters Empresa: Petrobras
Período: Abril de 2008
Movimento: +5,63% em um único pregãoO diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo) à época, Haroldo Lima, anunciou ter recebido informações não oficiais de que o bloco BM-S-9, na Bacia de Santos, teria reservas até cinco vezes maiores do que as estimativas para a área, tornando o campo o terceiro maior do mundo. Contudo, a Petrobras anunciou posteriormente que ainda não era possível calcular o potencial da área e que o campo ainda estava em estudo.
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Reprodução/Forbes Empresa: United Airlines
Período: Setembro de 2008
Movimento: -99,9% em seis minutosUma notícia falsa informando que a United Airlines havia entrado com pedido de falência foi divulgada em 8 de setembro de 2008. Após seis minutos, os papéis da companhia já haviam caído 99,9% e as negociações foram interrompidas na Bolsa de Nova York. A empresa de voos informou que os rumores do mercado eram falsos e que as suas operações seguiam com sucesso.
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Getty Images Empresa: Société Générale
Período: Agosto de 2011
Movimento: -14,47% em um único pregãoBoatos de que o banco francês Société Générale estava com problemas financeiros e poderia entrar em falência derrubaram o preço das ações em quase 15% em agosto de 2011, apesar da instituição desmentir as informações. Dois dias depois, a AMF (Autoridade dos Mercados Financeiros da França) anunciou que iria investigar as informações falsas.
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Getty Images Empresa: ImmunoCellular Therapeutics
Período: Janeiro de 2012
Movimento: +263% em 12 diasO site norte-americano Seeking Alpha publicou em janeiro de 2012 um artigo chamado “ImmunoCellular Therapeutics pode renascer, de novo”, que destacava o trabalho da companhia em desenvolver um remédio contra o câncer, o ICT-107. Com a informação, as ações subiram 263% naquele mês. O conteúdo, no entanto, havia sido pago pela empresa, que foi investigada pelo tribunal de Nova York e pelas autoridades regulatórias dos EUA por influenciar o desempenho dos papéis.
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Getty Images Empresa: Gol
Período: Outubro de 2012
Movimento: +10,3% em um único pregãoA Gol convocou o mercado em 1º de outubro de 2012, no pós-pregão, para fazer um anúncio, sem dar mais detalhes. Enquanto os investidores especulavam o tema do anúncio, boatos de que a companhia aérea iria vender uma fatia de 15% das suas operações para uma companhia estrangeira começaram a surgir. Isso fez com que os papéis subissem 10,3%. A notícia real era a compra de 60 aviões Boeing 737 MAX, no valor de US$ 6 bilhões.
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Reuters Empresa: Positivo
Período: Março de 2013
Movimento: +4,05% em um único pregãoEm 28 de março de 2013, a Positivo foi vítima de um boato sobre os possíveis planos da empresa para fechar seu capital. A notícia foi negada pela companhia à imprensa horas depois. A Positivo segue com capital aberto e negociada na B3, com o ticker POSI3.
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Brendan McDermid/Reuters Empresa: Twitter
Período: Julho de 2015
Movimento: +8% em um único pregãoUm site chamado Bloomberg.Market, que possui o nome parecido com a agência de notícias Bloomberg, noticiou que o Twitter seria vendido em uma operação de US$ 31 bilhões. Em função da similaridade dos nomes, muitos investidores se confundiram e compraram os papéis da rede social acreditando na venda. Os ativos subiram 8% em um dia.
Empresa: Petrobras
Período: Abril de 2008
Movimento: +5,63% em um único pregão
O diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo) à época, Haroldo Lima, anunciou ter recebido informações não oficiais de que o bloco BM-S-9, na Bacia de Santos, teria reservas até cinco vezes maiores do que as estimativas para a área, tornando o campo o terceiro maior do mundo. Contudo, a Petrobras anunciou posteriormente que ainda não era possível calcular o potencial da área e que o campo ainda estava em estudo.
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