Um levantamento realizado pelo Itaú Cultural em junho deste ano apontou que 64% dos brasileiros sentem falta do cinema na pandemia. Mas as redes de cinemas também sofrem com a ausência do público. Segundo levantamento da PwC, a receita das redes de cinema no Brasil caiu 86% em 2020 na comparação com o ano anterior. No mundo, o recuo foi de 70,4% no último ano. Em conversa com a Forbes, executivos do Kinoplex, Cinesystem e Cinesala contam que embora o futuro ainda seja incerto, a ‘ida ao cinema’ irá se transformar em uma ‘experiência diferenciada’ no pós-pandemia.
Bebendo em referências internacionais, o Cinesystem lançou cinco ‘escape routes’, no Rio de Janeiro, um jogo interativo em que os participantes precisam seguir dicas para encontrar a saída da sala – ganha quem encontra a saída antes do tempo limite.
Marcos Barros, presidente da companhia, diz que a ideia é oferecer entretenimento para o “público, que fica dando voltas no shopping ou sentados no espaço ociosos entre as salas de cinema e a bilheteria”, enquanto aguardam pelo filme.
Outras duas soluções introduzidas pelo Cinesystem para atrair o público são o cinematerna, uma programação destinada a mães com bebês e crianças, e o cinepets, em que o público pode ir com seus animais de estimação curtir um filme.
A companhia fechou as portas para o público em março de 2020 e, desde então, lida com as mudanças constantes nas regras sanitárias para combater o coronavírus, enquanto tenta conquistar a confiança dos espectadores.
A Cinesystem opera em 10 estados com 160 unidades e registrou no primeiro semestre deste ano um prejuízo líquido de R$ 29,6 milhões, 37,7% maior que o prejuízo de 2020 (R$ 21,5 milhões). No mesmo período, o público caiu de 1,6 bilhão para 379 milhões.
Desafios na saída da pandemia
Alguns desafios adicionais assombram a vida das redes de cinema. O primeiro é a insegurança do usuário em permanecer em uma sala fechada com desconhecidos.
A Cinesala, por exemplo, que retomou as operações na última terça-feira (24), sente no público ainda insegurança com as notícias sobre a falta de circulação de ar e as salas cheias.
Carolina Fung, de 24 anos, costumava ir ao cinema pelo menos duas a três vezes por mês antes da pandemia, e conta que cogita voltar à rotina, mas desiste porque tem medo de ficar numa sala fechada. “Além de tudo, também posso alugar filmes que vão estrear no cinema para assistir em casa, o que me dá mais segurança”, adiciona a jovem que pagou R$ 140 para assistir Viúva Negra e Jungle Cruise, em julho, no Disney+. “Eu ainda posso assistir mais de uma vez, o que no cinema não acontece”, conta.
No cenário global, um relatório da MPA (Motion Pictures Association) mostra um aumento de 26% em assinaturas nas plataformas de streaming, o que corresponde a 232 milhões de novas contas na pandemia. Forte consumidor de conteúdo digital, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de assinantes da Netflix em todo o mundo. De acordo com estimativa da Comparitech, a plataforma conta com aproximadamente 17,8 milhões de usuários no país.
Apesar da competição pelo mercado de entretenimento, o presidente do Kinoplex, Luiz Severiano Ribeiro, e o sócio da Cinesala, Paulo Velasco, acreditam que os canais de streaming não são inimigos dos cinemas. “A experiência do cinema ainda é única, com tela grande, sistema de som altamente potente e um ambiente totalmente imersivo, diferente do streaming”, avalia Ribeiro.
O custo mensal para assinar as principais plataformas combinadas – Netflix, TeleCine, HBO Max, GloboPlay, Disney + e Amazon Prime Video – é de R$ 144,40, segundo estimativas da Forbes. O valor médio de um ingresso de cinema na cidade de São Paulo é de R$ 33,00.
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Luz, câmera e AÇÃO
Para sobreviver à crise, as redes de cinema têm se reinventado. O Kinoplex, por exemplo, que tem 104 anos de operação e 271 salas localizadas em 19 cidades, está ajustando diariamente o preço dos ingressos, de cinema a cinema, para seguir com os clientes em meio ao isolamento social. O presidente da companhia afirmou que a maior dificuldade dos últimos meses foi “manter o emprego dos funcionários, a segurança do local e as operações financeiras do Kinoplex.”
Para o pós-pandemia, Ribeiro aposta em novas tecnologias e formatos de salas. Em julho, houve um aumento de 70% no público do Kinoplex, devido ao lançamento de títulos como “Velozes e Furiosos 9”, “Cruella” e “Invocação do Mal 3 – A Ordem do Demônio”.
Já Velasco, da Cinesala, conta que segue com lotação restrita a 80% da capacidade nos sete cinemas de rua da rede em São Paulo, mas acredita que a sensação de chegar e assistir filmes ainda é muito mais interessante “do que ficar procurando horas por algo no sofá de casa e não assistir nada.”
O sócio da Cinesala conta que a saída para manter as operações financeiras foi renegociar algumas despesas, como o aluguel. “Outro grande problema foi a falta de incentivos para os cinemas de rua. Nossa sorte é que contamos com a campanha de crowdfunding Viva Cinesala, que teve a colaboração de 452 pessoas [e arrecadou R$ 101 mil]”.
A companhia planeja usar os recursos para reformular as poltronas das salas, tornando-as mais confortáveis e adequadas para a higienização.
A rede também deseja reconquistar o público de 2019 (100 mil pessoas) por meio de um possível clube de sócios, ainda em fase de estudos.
“Apesar de estarmos ansiosos para a retomada das operações, criando salas novas e buscando otimizar a experiência do público, ainda seguimos no escuro; estamos navegando sem direção e não sabemos o que pode acontecer daqui para frente.” Uma das maiores preocupações de Barros é a variante Delta que vem assombrando a população nos últimos meses.
Segundo o balanço do Ministério da Saúde divulgado no último domingo (29), o Brasil registrou 1.573 casos de Covid-19 ocasionados pela variante Delta e 58 óbitos já foram confirmados. A primeira morte no Estado de São Paulo pela variante aconteceu ontem (31).
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.