O risco-país é usado para medir a capacidade de um governo honrar suas dívidas e cumprir com seus prazos de pagamento. Já que o mercado de capitais funciona com base na confiança futura, os investidores internacionais e credores diversos precisam ter convicção do ambiente favorável gerado pelo governo de um país.
“Toda vez que alguém investe, é preciso avaliar quanto risco se corre, o que envolve olhar para a capacidade de haver um calote. A partir dessa percepção, a disposição dos investidores internacionais para depositar dinheiro no Brasil varia a depender do cenário político-econômico local”, afirma Lavínia Martins, fundadora da FLUXO investimentos.
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Em 2019, os pagamentos da dívida da Argentina ao FMI (Fundo Monetário Internacional) ganharam algum destaque no noticiário quando o país declarou moratória à instituição financeira. O termo ‘moratória’ significa um pedido de adiamento da dívida externa do país. O governo argentino havia adquirido um crédito internacional de US$ 57 bilhões em 2018 e, com o pedido, admitiu que não poderia pagar a dívida naquele momento.
O caso recente ainda dos nossos hermanos não é incomum na história econômica brasileira. O país viveu uma situação semelhante em 1987, no governo José Sarney, quando anunciou a suspensão do pagamento da dívida pública por tempo indeterminado. Segundo a Folha de S. Paulo, à época, o governo tinha US$ 3,9 bilhões em caixa, e não poderia pagar uma dívida superior a US$ 4 bilhões, após gastar US$ 55,8 bilhões com juros nos anos anteriores.
As expressões “adiamento da dívida” e “moratória” possuem sinônimos mais populares, e um pouco mais pejorativos, no português: calote, ou em inglês, default. O perigo de um calote por parte de algum país é constantemente monitorado pelos investidores internacionais, que o estudam por meio do conceito de risco-país.
Calculando o risco-país
Para medir esse risco, existem diferentes indicadores que, com metodologias diversas, indicam onde é mais ou menos seguro a perspectiva de retorno do investimento. Mas, de maneira geral, é feita uma comparação com o “risco soberano”, ou seja, o investimento com menor risco no mundo, por ser quase 100% certo de que o pagamento será feito no prazo.
Esses são os ativos do Tesouro norte-americano, ou Treasuries, os títulos de dívida do governo dos Estados Unidos. O mercado considera que esse governo jamais deixaria de honrar suas dívidas, pois, em último caso, poderia emitir moeda para pagar investidores.
Nesse sentido, para enxergar o risco Brasil diante do risco soberano é necessário levar em conta a imprevisibilidade fiscal do país, segundo Rachel de Sá, chefe de economia da Rico. “A pior coisa para os investidores é a falta de previsibilidade”, afirma.
Por isso, alguns fatores recorrentes podem ser levados em consideração como indicação de que o risco-país está alto. Como a taxa de juros, a inflação, a taxa de câmbio ou a instabilidade política. Quando esses indicadores estão muito desalinhados com as projeções do mercado, ou quando se torna muito difícil enxergá-los no longo prazo, o medo acerca da possibilidade de um calote cresce.
Rachel nota que, atualmente, o risco do governo brasileiro cometer um calote é muito baixo. “A reserva do Brasil se encontra em um nível historicamente alto, nosso nível de moedas estrangeiras é bem elevado, e praticamente não temos dívida externa, pois ela é quase toda em reais.” A analista ressalta que esse risco pode existir em outros ativos. “Isso não quer dizer que não existe risco ao investir no Brasil atualmente. O nosso risco fiscal e político está sendo precificado em outros ativos, como dólar.”
Investir pensando no risco
Para a carteira dos brasileiros, quanto menor for a disposição de investimentos estrangeiros no Brasil, maior a necessidade de oferecer um retorno financeiro. Essa é a relação risco/retorno: quanto maior o risco do investimento, mais retorno o investidor quer por ele. “Se estão correndo mais risco querem ganhar mais, porque a possibilidade de não receber é maior”, resume Lavínia.
Por isso, quanto maior o risco-país, mais juros o governo terá de oferecer em troca dos títulos de dívida. Nesse sentido, o Banco Central tende a elevar a curva de juros, ou seja, aumentar a perspectiva dos rendimentos de renda fixa futuros, pagando mais aos investidores para compensar o risco maior.
Rachel explica que todos os ativos de renda fixa são baseados na precificação do Tesouro (o título do governo). “Como o título do Tesouro sobe, todos os outros sobem junto, então você tem diversas oportunidades em renda fixa, para comprar títulos prefixados e títulos híbridos (atrelados à inflação).”
Por outro lado, os investimentos de renda variável sofrem o efeito contrário. Em momentos em que o risco de investir no país é maior, os ativos variáveis também se tornam menos garantidos.
Isso acontece porque existe uma relação entre as taxas de juros e os ativos da Bolsa. “Os títulos do governo são sempre a base, então quando ele passa a oferecer taxas mais altas, todos os investimentos terão de fazer o mesmo, mas os riscos serão maiores [do que a renda fixa].”
Nesse contexto, a renda variável perde sua atratividade relativa, pois segundo a perspectiva de risco/retorno, outros investimentos compensam mais. Além disso, se torna mais caro para as próprias empresas conseguirem empréstimos, já que a taxa de juros está mais alta.
“Enquanto as empresas têm mais dificuldade de captar dinheiro nesses momentos, e o governo tira o dinheiro que poderia ser investido no mercado privado, o investidor nacional enxerga oportunidades para comprar títulos públicos”, afirma Lavínia.
Mas independentemente do momento de alto ou baixo risco para depositar dinheiro em um país, proteger a carteira de investimentos é fundamental para se prevenir. “O importante é se proteger da volatilidade”, diz Rachel.
“Diversificar tanto em classes de ativos, oportunidades de renda fixa, avaliar as empresas e as suas teses de crescimento (na renda variável), mas também diversificar em outras geografias Proteger-se dessa volatilidade [é mais importante] do que pensar em quando ela vai embora.”
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