O procedimento padrão do private equity é pedir emprestado, comprar e cortar custos implacavelmente. Mas ganhos inesperados advindos de investimentos na PetSmart e na Chewy ensinaram Raymond Svider que, às vezes, dobrar a aposta nos riscos é a melhor opção.
Svider, que preside a firma de private equity BC Partners, lembra da intensa pressão que sentiu nos dias que antecederam o Natal de 2017. O maior investimento de sua empresa, a varejista de ração para animais de estimação PetSmart, estava desmoronando. A tecnologia antiquada utilizada pela companhia precisava ser atualizada; os custos estavam disparando.
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O executivo dividia seu tempo entre o escritório da BC na Madison Avenue, em Manhattan, e a sede da PetSmart em Phoenix, no Arizona, onde era CEO interino. Os títulos da PetSmart eram negociados um pouco acima de US$ 0,60.
Logo após chegar em Phoenix, ele descobriu que a varejista, à época fortemente alavancada, havia congelado as contratações de novos funcionários para economizar dinheiro, forçando-a a depender de terceirizados caros.
“Eu não sabia que havia um congelamento de contratações”, lembra Svider, que cancelou a medida na hora, liberando seu CIO para fazer contratar 35 colaboradores. “Você precisa ser ágil e flexível. Às vezes, regras estritas forçam as pessoas a fazerem a coisa errada porque elas estão apenas seguindo as regras.”
À época, Svider agia na contramão de quase todas as convenções de negócios e investimentos. O especialista em compra alavancada criado em Paris, com mestrado em engenharia elétrica de uma das “grandes écoles” da França e MBA da Universidade de Chicago, Svider, então com 59 anos, estava fazendo dupla jornada – dois dias por semana administrando a sua empresa de private equity de US$ 40 bilhões de ativos, e três dias na PetSmart, que possui 1.650 lojas, pela qual a BC pagou US$ 8,7 bilhões em 2014.
Com US$ 6 bilhões em dívidas da aquisição alavancada e mais US$ 800 milhões em dividendos que Svider havia desviado, a PetSmart estava rumo à falência – não ajudava que os donos de animais estavam começando a fazer suas compras online. O procedimento padrão exigia cortes de custos implacáveis para desenterrar o dinheiro destinado a reembolsar os credores. Em vez disso, Svider dobrou a aposta e investiu mais.
Ele encontrou brechas nos contratos de crédito da PetSmart que permitiram que ele pegasse ainda mais dinheiro emprestado (irritando os credores) para que pudesse adquirir a Chewy, uma varejista online de alimentos para pets que não registrava lucros. Para o mundo exterior, era a versão do século 21 do notório caso da Pets.com, uma das mais famosas vítimas da bolha das PontoCom de 2000.
Mas Svider sabia que o fundador bilionário da Chewy, Ryan Cohen, estava superando todas as metas financeiras que ele havia estabelecido anos antes, quando os dois se conheceram.
Embora não fosse uma empresa lucrativa, a Chewy não estava queimando dinheiro e crescia rapidamente. Mais importante ainda, estava superando a Amazon em seu nicho.
Após inicialmente oferecer US$ 1 bilhão, Svider acabou pagando US$ 3 bilhões em dinheiro pela Chewy, derrotando a rival Petco, em abril de 2017. Céticos protestaram, os títulos da companhia despencaram e ações judiciais começaram a ser ajuizadas a torto e a direito. Mas quatro anos e um boom durante a pandemia do número de animais de estimação transformaram a aposta improvável de Svider em uma das maiores vitórias do private equity de todos os tempos.
A Chewy, agora com ações negociadas na Bolsa, vale mais de US$ 31 bilhões, e suas vendas dispararam quase dez vezes – a companhia projeta US$ 9 bilhões para 2021. A própria PetSmart está se desalavancando, tendo refinanciado sua dívida de aquisição em janeiro. Ao todo, os investidores de Svider estão sentados em uma fortuna inesperada de US$ 30 bilhões.
“Você precisa ser implacável e muito rápido para se adaptar porque, em qualquer negócio, o mundo está mudando todos os dias de maneiras que você não pode prever”, diz Svider com seu sotaque francês, falando em sua mansão nos Hamptons, onde agora trabalha remotamente ao lado de seu esposa, três filhos e um par de gatos, Cashmere e Pearl. “Confiança é muito importante.”
Um investidor autodidata, Svider começou sua carreira na área após a onda de compras alavancadas dos anos 1980. Em 1989, ele foi recrutado pelos lendários negociadores Bruce Wasserstein e Joe Perella. Três anos depois, ele se mudou para o escritório de Paris do Baring Capital Investors, um pequeno braço de aquisições vinculado ao Barings Bank, com sede em Londres.
Em 1995, um corretor desonesto do Barings, Nick Leeson, perdeu mais de US$ 1 bilhão, deixando insolvente o banco de 300 anos. O Barings foi comprado pelo concorrente ING por centavos de dólar. Acabou sendo um golpe de sorte para Svider, que trabalhava ao lado do cofundador da divisão. A Baring Capital foi desmembrada e renomeada como BC Partners.
No início dos anos 2000, Svider mudou-se para Londres para fechar negócios no setor de telecomunicações – os mercados eram desregulamentados à época – e, em 2007, quando a BC Partners se expandiu para a América do Norte, Svider assumiu o seu comando.
O primeiro grande negócio da empresa nos EUA naquele ano foi uma aquisição de US$ 16 bilhões da endividada operadora de satélite Intelsat, que rapidamente se tornou problemática e acabou pedindo falência em 2020. Os acertos de Svider, porém, ultrapassaram em muito seus erros.
Nada caracteriza suas vitórias mais do que uma disposição para fazer apostas ousadas. Um exemplo é a GFL Ambiental, uma empresa de gerenciamento de resíduos com sede em Toronto que foi fundada pelo empresário canadense Patrick Divogi. Em 2018, a BC Partners recapitalizou a companhia por US$ 2 bilhões, construindo uma participação de 40% e planejando expandi-la para os EUA com aquisições.
Quando a crise do coronavírus chegou, a GFL estava preparando seu IPO. Svider recomendou a Divogi que eles seguissem em frente, apesar do tumulto do mercado. A GFL fixou sua oferta inicial em US$ 19 por ação, abaixo de uma faixa pré-pandêmica de US$ 20 a US$ 21. Ser negociada publicamente, acreditava Svider, ajudaria a GFL a capitalizar no futuro deslocamento do mercado.
Após uma queda inicial para US$ 13, as ações da GFL quase triplicaram, pois ela adquiriu ativos da Houston’s Waste Management e de outros concorrentes. As participações da BC Partners na GFL agora valem quase US$ 5 bilhões, aproximadamente três vezes o seu investimento inicial. “Raymond tem uma habilidade única de ignorar as besteiras e focar a visão do todo”, diz Divogi.
Apesar do hábito de longa data do private equity de realizar lucros o mais rápido possível, Svider parece ter pouco interesse em vender a Chewy, apesar do fato de que, desde meados de agosto, as ações caíram de US$ 96 para US$ 75, eliminando cerca de US$ 7 bilhões em ganhos, enquanto os gastos com animais de estimação vistos durante a pandemia diminuem.
BC Partners tem uma porção de 76% das ações, que agora valem quase US$ 25 bilhões.
Talvez ainda exista um movimento vitorioso na aposta de Svider no setor pet: o IPO da PetSmart, que poderia render uma avaliação de US$ 10 bilhões. A receita da varejista aumentou 17% no segundo trimestre, para US$ 2,3 bilhões, e no primeiro semestre gerou US$ 342 milhões em caixa. Os títulos anteriormente em declínio da PetSmart agora são negociados acima do valor nominal.
Svider insiste que o mercado de animais de estimação – incluindo um novo foco em tratamentos veterinários – continua subestimado. Ele quer consolidar seus ganhos com uma saída rápida? Não necessariamente. “Não sentimos que estamos com pressa”.
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