Mais de R$ 5 milhões. Essa é a estimativa de quanto pode custar a formação de um atleta de alto nível no Brasil, utilizando como base o exemplo de Daniel Dias, nadador paralímpico e recordista mundial, segundo avaliação de Ciro Winckler, pesquisador associado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), à Forbes.
Esse total leva em conta patrocínio (42%), bolsa atleta (25%), equipe técnica (20%), viagens internacionais (5%), próteses (4%), viagens nacionais (1%), instalações de treino (1%), e suplemento (1%), considerando o período de 2005, que foi quando Dias participou de sua primeira competição nacional e decidiu se tornar um atleta profissional, a 2021, ano em que se aposentou. Ou seja, mais de 15 anos de atividades.
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Alguns desses valores são públicos, como o bolsa atleta, do governo federal, que Dias ganhou de 2013 a 2020, totalizando aproximadamente R$ 1,2 milhão. Outros, Winckler concluiu a partir de suas próprias estimativas: “Novas próteses, por exemplo, eu considerei a cada quatro anos” – o que totaliza, por exemplo, R$ 50 mil por prótese.
O patrocínio, parcela de maior peso, representa R$ 2,2 milhões, e Dias já consolidou parcerias com alguns nomes de peso, como Adidas, Panasonic, Citibank, Visa, Ottobock, Mackenzie e GS1 Brasil. Nesse sentido, porém, ele é um ponto fora da curva, tendo em vista que muitos medalhistas olímpicos brasileiros, como a ginasta Rebeca Andrade e o canoísta Isaquias Queiroz, contaram com pouco apoio de empresas privadas nas Olimpíadas de Tóquio.
Mas o custo total varia de acordo com o esporte. “Daniel nada e precisa de piscina, mas demanda próteses e equipamentos para fazer o treino fora d’água”, destaca o professor. “Vinícius Rodrigues é amputado de perna e corredor, demanda próteses para o dia a dia e para competir. Jady Malavazzi, do ciclismo, precisa da handcycle para competir, e da cadeira de rodas no dia a dia. No caso dos cegos, há necessidade do atleta guia ou piloto. Então depende muito do esporte.”
Uma estimativa feita por Amir Somoggi, sócio-diretor da Sports Value, a partir da análise de esportistas do atletismo olímpico, e não paralímpico, chega a um número menor, mas ainda expressivo: R$ 3,8 milhões. Esse valor também considera o período de 16 anos para a formação de um atleta de alto nível, o equivalente a R$ 20 mil por mês.
A diferença entre as duas estimativas leva em conta alguns aspectos: uma equipe técnica qualificada para auxiliar uma pessoa com deficiência tem um custo mais alto do que uma equipe técnica padrão. Da mesma forma, as instalações de treino para um atleta paralímpico precisam contar com equipamentos adaptados, que são mais caros.
Custos de um atleta amador
Como comparativo, Somoggi calcula o gasto de um atleta amador por mês. Ou seja, a pessoa que trabalha de segunda a sexta, mas dedica o seu tempo livre a algum treino regular, possui o apoio de uma assessoria ou treinador e participa ocasionalmente de provas e competições.
“Vamos considerar um corredor, por exemplo. Vão, em média, R$ 400 de assessoria por mês e uns R$ 3 mil de tênis por ano”, diz. “Se a pessoa participa de provas, tem as inscrições. Se ela participa de várias, vai pelo menos R$ 1.000 por ano. E se, digamos, vai para uma maratona em Santa Catarina, tem o custo da viagem. Isso sem contar roupa, vitamina. Então, um ‘heavy user’ vai gastar pelo menos R$ 7 mil por ano, e pode chegar até a R$ 10 mil.”
Em 16 anos, para manter o período comparativo, se o atleta persistiu com a atividade, terá gasto R$ 160 mil. E Somoggi ressalta que mesmo atividades ocasionais e descompromissadas podem gerar custos altos, “Se vou no ‘beach tennis’, eu gasto R$ 60 com cada ida. E se isso acontece quatro vezes por semana, já são R$ 240 semanais. Eu, por exemplo, levei recentemente a minha filha para fazer escalada, e com os equipamentos de segurança inclusos, paguei R$ 65 por duas horas.”
Embora o custo seja bem menor em comparação com os atletas olímpicos, a maior parte desse valor vem do próprio bolso dos amadores, tendo em vista que eles não costumam contar com o apoio de um clube esportivo. Alguns esportes, porém, exigem isso: “É impossível você praticar salto com vara sem apoio, sem alguém para te treinar. E também não dá para comprar o local onde você vai saltar. Por isso os clubes são importantes.”
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