Em 1920, o agricultor libanês Nametallah Tarraf decidiu abandonar sua terra natal para buscar uma vida melhor em outro continente. Em uma época de grande fluxo de migração libanesa para o Brasil, muitos vieram à procura de oportunidades no ambiente acelerado de industrialização e urbanização. Era exatamente isso que a família Tarraf almejava. “Paz e trabalho”, resume Olavo Tarraf Filho, bisneto de Nametallah. “É uma coisa que valorizamos até hoje.”
Com a esposa grávida de seu primeiro filho, Nametallah embarcou em um navio rumo ao Brasil sem muitos planos sobre onde se instalar após a chegada. Depois de mais de um mês de viagem, a família desceu em Santos e pegou um trem. “Eles chegaram no interior de São Paulo sem nem saber para onde estavam indo. Acabaram se estabelecendo em São José do Rio Preto”, conta Tarraf, que sempre ouviu atentamente as histórias contadas pelo seu avô, Zaia Tarraf, que nasceu em solo brasileiro em 1928.
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“Como eles tinham familiaridade com agricultura, começaram a vender hortaliças e tomates na feira da cidade. Meu avô era pequeno e sempre dormia na barraquinha”, conta o executivo. Criado nesse meio, Zaia logo se interessou pela vida no comércio. Como um bom negociante, começou a vender pneus junto de seus irmãos. A venda foi expandindo pela cidade, até que, em 1950, eles abriram uma concessionária própria. De pneus, passaram a comercializar carros.
“À medida que eles ganhavam dinheiro, contratavam engenheiros e construíam imóveis, tanto para uso próprio quanto para locação e venda. Foi assim, de forma instintiva, que eles conseguiram investir em uma construtora também”, diz Tarraf Filho. Após 20 anos de trabalho, a empresa, que foi batizada com o nome da família, já era conhecida na região de São José do Rio Preto. “Meu pai decidiu fazer faculdade e foi o primeiro engenheiro da família. Ele estudou na capital paulista e, quando voltou para a nossa cidade, começou a dar outro ritmo para a construtora. Basicamente, nos transformou em uma incorporadora.”
Identificar oportunidades, adquirir terrenos, estruturar os projetos dos empreendimentos e realizar estudos de viabilidade são atividades desempenhadas por incorporadoras que demandam conhecimentos técnicos de engenharia. E foi isso que Olavo Tarraf, hoje presidente da empresa, fez para impulsionar ainda mais o negócio da família. “Quando meu pai chegou, ele trouxe um novo modo de trabalhar e fez com que a construtora virasse a nossa maior força. Mais do que a concessionária, onde tudo começou.” Hoje, as duas concessionárias Tarraf faturam juntas cerca de R$ 100 milhões, e a incorporadora, R$ 250 milhões.
Olavo Tarraf Filho cresceu ouvindo a história de sua família, as dificuldades da fuga do país de origem em crise e o sucesso em um continente completamente diferente, onde nem o idioma nativo eles conheciam. “Quando temos um passado conturbado, com cenários de guerra, por exemplo, isso gera nas pessoas uma vontade de vencer muito forte. Vontade de fazer um futuro melhor. Minha família teve esse passado machucado e colocou o pé no chão para conseguir criar uma empresa”, afirma ele.
Com muito orgulho de todo o processo, o jovem nunca pensou em trabalhar em outro lugar. Entrou na companhia aos 17 anos, estudou administração e fez pós-graduação em finanças para manter o negócio na família. “Minha formação foi muito boa para o nosso crescimento. Meu pai tem o olhar voltado para o produto, e eu, para a gestão.” Como vice-presidente, aos 29 anos, o executivo aproveita dessa união de talentos para traçar planos ambiciosos para o futuro da incorporadora, projetando R$ 1 bilhão em lançamentos imobiliários no interior paulista até 2025.
O caminho para o bilhão
Para chegar ao bilhão, a empresa já colocou algumas estratégias em prática. Além do lançamento de, em média, dois empreendimentos por ano em São José do Rio Preto e nas cidades do entorno, como Catanduva, a ideia é expandir para municípios ainda maiores, como Ribeirão Preto. “É isso que vai impulsionar o nosso grupo”, ressalta Tarraf. “Este ano vamos lançar cinco empreendimentos, não dois. Para o ano que vem, a meta é sete. Ou seja, um crescimento cauteloso, mas que dá muito resultado.” Com isso, a ideia é alcançar cerca de R$ 450 milhões em lançamentos imobiliários já em 2022, metade da meta para 2025.
Mais do que prospectar novas regiões, no ano passado a empresa fez uma mudança importante para alcançar os resultados desejados. “Atuávamos como uma única marca tanto para empreendimentos econômicos quanto para os de alto padrão. Depois de um tempo, entendemos que isso não estava funcionando”, conta o vice-presidente. “Foi aí que criamos a Taflex, nosso braço para atuar no mercado econômico, e deixamos a Tarraf focada nos lançamentos de médio e alto padrão.”
Com espaço para sonhar com o segmento de luxo, ainda em 2020 a incorporadora lançou o Montelena by Tarraf, com apartamentos que chegam a ter 343 metros quadrados de área útil e são avaliados em mais de R$ 3 milhões. Com duas torres, o empreendimento foi inspirado em uma vinícola da região de Napa Valley, na Califórnia, e em residenciais verticais de luxo da Flórida. O VGV (valor geral de vendas) foi de R$ 65 milhões, e todas as 33 unidades foram vendidas um ano antes da entrega. Para o segundo semestre de 2021, o grande destaque é o projeto que conta com um trabalho de paisagismo e urbanismo assinado pelo renomado escritório do Burle Marx.
Em 2019, a Tarraf conquistou o Prêmio Master Imobiliário com o empreendimento Duo JK, em São José do Rio Preto. “O que faz essas coisas acontecerem é o nosso time”, diz Tarraf Filho. “Temos esse olhar da família. Um olhar de longo prazo que faz com que a gente tome as melhores decisões porque viemos de longe e queremos ir mais longe ainda.”
Com 320 funcionários no grupo inteiro – na incorporadora, são 150 –, o objetivo é passar sentimento de unidade familiar para todos os profissionais que trabalham para alcançar os objetivos da empresa. “É essa estrutura que nos dá segurança para crescer. Expandir não é uma decisão óbvia, embora pareça. O processo é trabalhoso e dói, mas nós temos uma boa equipe para nos ajudar nessa passagem.”
Para quem cresceu em meio a terrenos e stands de construção, Tarraf Filho enxerga essa nova fase como um grande presente. Seu avô, que faleceu em 1991, chegou a ver o sucesso da empresa, que já ia bem desde os anos 70. A nova geração se orgulha do futuro que planeja para a companhia que nasceu com a simples venda de pneus.
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