O bilionário chinês Hui Ka Yan provavelmente está se preparando para uma reestruturação do enorme passivo de US$ 302 bilhões da incorporadora imobiliária Evergrande, já que a empresa chinesa tem feito pouco progresso para evitar uma crise que levou a protestos em frente à sua sede na manhã de hoje (14).
A Evergrande contratou dois consultores – Houlihan Lokey e Admiralty Harbor Capital – para avaliar sua estrutura de capital e a liquidez geral da empresa, disse a incorporadora listada em Hong Kong em um documento enviado hoje à bolsa de valores do território.
LEIA MAIS: EXCLUSIVO, XP lança mesa de gestão de fortunas em Miami para assessorias financeiras
Zhou Chuanyi, analista de crédito da Lucror Analytics, sediada em Singapura, disse que movimentos desse tipo geralmente indicam que uma reestruturação da dívida está no horizonte. Os investidores agora estão monitorando de perto seus pagamentos de juros e procurando pistas para saber se o processo começará em breve. “É muito provável que haja uma reestruturação”, disse a analista.
Os títulos em dólar da Evergrande já estão cotados sob o risco disso acontecer. O papel com rendimento de 8,25% da empresa, com vencimento em março de 2022, perdeu US$ 0,057, chegando a US$ 0,268, por volta do meio-dia em Hong Kong, de acordo com dados da Bloomberg. E as ações da empresa tiveram desvalorização de 83% em comparação com o ano passado.
Para crescer, a empresa usou financiamentos de juros baixos e expandiu, de forma alavancada, a segmentos como futebol, carros elétricos e água mineral. No entanto, ela agora parece estar ficando sem opções para pagar seus credores.
O jornal chinês Caixin relatou que muitos investidores e funcionários que compraram os títulos da Evergrande se reuniram na sede da empresa, na cidade de Shenzhen, para protestar contra o atraso nos pagamentos.
A Evergrande não respondeu às perguntas da reportagem. O documento apresentado pela empresa avisa os investidores que ela está enfrentando uma pressão de fluxo de caixa “tremenda”. As vendas de imóveis em setembro terão um “declínio significativo“, uma vez que as notícias negativas publicadas pela mídia têm diminuído a confiança dos compradores, disse a companhia.
Os outros esforços da Evergrande para levantar fundos, como vender participações em sua unidade de veículos elétricos que está listada na Bolsa, não alcançaram os “resultados esperados”, de acordo com o documento. “Tendo em vista as dificuldades, desafios e incertezas para melhorar nossa liquidez, não há garantia de que o grupo será capaz de cumprir suas obrigações financeiras nos termos dos documentos de financiamento e outros contratos.”
Zhou, da Lucror Analytics, diz que um momento decisivo pode ocorrer em março do próximo ano, quando vencem US$ 3,5 bilhões em títulos offshore da Evergrande. Com poucos meios para aumentar sua reserva de caixa, a empresa provavelmente entrará em default e, em seguida, iniciará um longo processo de reestruturação da dívida, diz a analista.
VEJA TAMBÉM: SoftBank renova aposta na América Latina com novo fundo de US$ 3 bilhões
Warut Promboon, sócio-gerente da empresa de pesquisa de crédito Bondcritic, com sede em Hong Kong, também acredita que uma reestruturação da dívida supervisionada pelos governos locais provavelmente acontecerá.
“O governo intervirá, já que Evergrande é muito grande e o impacto de uma liquidação desordenada será muito forte para [o mercado] suportar”, disse Promboon, que cita como exemplo o processo de reestruturação HNA Goup, um antigo conglomerado de companhias aéreas da China. “Assim como ocorreu com o HNA, a nova Evergrande será mais enxuta e manterá apenas os ativos essenciais.”
A questão, entretanto, é quanto os investidores em títulos podem esperar receber. Para cumprir a meta do governo de garantir a estabilidade financeira e social, a Evergrande pode optar por pagar os funcionários e fornecedores primeiro, diz Zhou. Outras contas a pagar, incluindo contratos comerciais que permitem à empresa pagar os fornecedores por bens e serviços já recebidos em uma data futura pré-determinada, cresceram 13,5% e chegaram a 829,2 bilhões de iuanes no ano passado. Várias empresas ameaçaram ou já ajuizaram ações contra a Evergrande por pagamentos em atraso.
Os investidores dos títulos em dólares da Evergrande podem receber apenas 25% de seu dinheiro de volta, escreveu Iris Chen, analista de crédito da Nomura, em Hong Kong, em uma nota de pesquisa de agosto. O pagamento será impulsionado principalmente pela venda de ativos em suas subsidiárias listadas, como a unidade de carros elétricos, que poderia sofrer um desconto de até 60% em seu valor atual “considerando a falta de lucratividade real do negócio e a perspectiva de crescimento”.
“A recuperação pode ser potencialmente melhor se Evergrande puder executar alienações de ativos acima do esperado. […] Mas realizar alienações de ativos muito cedo também pode ser ruim para a recuperação dos valores dos títulos em dólares, já que outros credores podem ser contemplados antes dos detentores de títulos”, afirma Chen.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.