De olho na retomada do setor cultural, a XP lançou um novo fundo de direitos creditórios não padronizados dedicado a investir na compra de shows de artistas brasileiros. A captação inicial de R$ 260 milhões já garantiu cerca de 1.600 eventos com nomes como Seu Jorge, Xuxa, Alexandre Pires, Daniel, Leonardo, Bruno e Marrone, Raça Negra e Roupa Nova.
Além dos direitos dos shows, o fundo espera capitalizar sobre receitas secundárias, como operação de bares, transmissão ao vivo e patrocínios. “A ideia é que as empresas patrocinadoras possam oferecer um ‘Meet & Greet’ no backstage dos shows, por exemplo, que elas possam criar experiências construtivas para o cliente que agreguem à marca, não só colocar o nome”, diz um dos idealizadores do fundo, o empresário e apresentador de TV Álvaro Garnero.
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Os fundos de direitos creditórios são mais conhecidos no mercado pela compra de precatórios, valores em recuperação judicial e derivativos de créditos. No entanto, o setor cultural tem atraído a atenção dos investidores. Em maio deste ano, o cantor sertanejo Gusttavo Lima vendeu todos os 192 shows da sua turnê de 2022 ao fundo de investimentos Four Even por um total de R$ 100 milhões.
“É uma operação inovadora e que acontece em um momento de demanda reprimida do mercado, em que as pessoas anseiam pela normalização de suas atividades, incluindo os shows. Com a retomada da indústria, alguns artistas já estão sinalizando turnês no exterior”, diz Filipe Mattos, head de Special Situations da XP Asset, em comunicado.
A iniciativa da XP é feita em parceria com a Opus Entretenimento, empresa sediada em Porto Alegre que atua há 45 anos na produção de eventos e gestão de carreiras artísticas. Os espetáculos comprados pelo novo fundo acontecerão nos próximos dois anos, começando em 2022, e podem ser produzidos pela própria Opus ou vendidos a empresas terceiras.
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Garnero conta que o projeto, lançado em menos de dois meses, começou com uma ligação no início de junho. Ele já conhecia Mattos, da XP, de outros projetos. “A gente estava conversando um dia e o Filipe [Mattos] me falou: ‘Álvaro, você viu o que o Gusttavo Lima fez? Porque a gente não faz algo maior, no ramo de entretenimento?'”, conta o empresário. Foi então que Garnero telefonou para Celso Giunti, da Opus, nome conhecido no meio cultural por sua carreira de radialista e por agenciar grandes artistas brasileiros.
A conversa rendeu e logo foi marcado um almoço na segunda-feira seguinte com Matheus Possebon, sócio de Giunti e vice-presidente da Opus, e Marcelo Duarte, sócio de Garnero, para tirar a ideia do papel. O apresentador afirma que teve que adiar uma viagem de 20 dias ao Pantanal na qual gravaria episódios de seu programa. “Eu liguei para o Filipe [Mattos], que estava no meio de uma reunião de board da XP, mas eu disse ‘você tem que vir aqui agora porque eu estou indo embora amanhã. Já está tudo desenhado’. Ele respondeu: ‘Não é possível’ e saiu correndo da XP [para o restaurante]”, conta o apresentador.
A ideia inicial, segundo Duarte, sócio de Garnero, era arrecadar R$ 50 milhões. “Mas o Matheus [Possebon] transformou em R$ 400 milhões, com parte dos aportes feitos pela Opus, que entrou junto com a XP no risco do negócio”, diz. “Se fosse para ficar no patamar que estava no início, a gente tinha feito com recurso próprio”, acrescenta o ex-radialista Giunti.
Nostalgia inédita
Giunti e Possebon, que se concentram na parte cultural do negócio, apostam na nostalgia para garantir o sucesso das turnês que serão financiadas pelo novo fundo, mas sem deixar a novidade de lado. “Pensamos em projetos especiais que o público não está acostumado a ver, são coisas inéditas”, diz Possebon, citando como exemplo a turnê “Força do Amor”, que trará 35 shows do cantor Daniel com o grupo Roupa Nova; a “Irmãos”, por sua vez, é uma parceria de Seu Jorge com Alexandre Pires; e o projeto “Samba, Sertão e Brasa”, que terá Daniel e Alexandre Pires fazendo churrascos aos domingos.
O fundo também aposta na volta de nomes populares nas décadas de 1990 e 2000, como o KLB, que se apresentará sete anos após o último show, e Xuxa, que fará a turnê “O último voo da nave” antes de se aposentar definitivamente dos palcos.
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O grupo por trás do fundo afirma que no próximo mês serão anunciados mais cerca de 500 eventos, aumentando a captação de R$ 260 milhões, já realizados, para R$ 400 milhões. “Nossa ideia é levar esses shows para fora do Brasil, além de trazer artistas internacionais para cá, que é o nosso próximo passo”, diz Possebon.
Uma das novidades a ser anunciada é uma turnê de Seu Jorge cantando Legião Urbana em homenagem aos 25 anos da morte de Renato Russo.
Negócios à parte
Duarte afirma que a gestão do setor de entretenimento “é desorganizada”, o que o grupo considera uma oportunidade. “Vemos o segmento como mato alto. Há muitas possibilidades de crescimento, por exemplo, com verticalização”, diz ele. A Opus é dona de seis teatros, entre eles o Bradesco, em São Paulo, além de uma plataforma online de venda de ingressos, a Uhuu, na qual serão vendidas as entradas para todos os eventos financiados pelo fundo.
Para Giusti, a iniciativa é também uma forma de fomentar a retomada econômica do entretenimento. “Algo que nos motiva muito é a quantidade de oportunidades que vamos criar para um setor que sofreu absurdamente. O show business estagnou. A chance que estamos tendo agora de gerar novos trabalhos é enorme”, diz ele.
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