O Brasil enviou 276 atletas e conquistou 20 medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris. Já nos Jogos Paralímpicos, foram 255 atletas, com a melhor atuação da história da delegação brasileira: o 5º lugar na classificação geral de medalhas, com 89 pódios conquistados.
Em Tóquio, não foi diferente: o país enviou 302 atletas e conquistou 21 medalhas nos Jogos Olímpicos de 2020. Já nos Jogos Paralímpicos, foram 259 atletas e 72 medalhas conquistadas. O que está por trás dessa diferença é a gestão dos recursos destinados aos atletas paralímpicos e a subdivisão das modalidades paralímpicas.
“O Brasil é potência paralímpica, e isso é um processo que já vem de bastante tempo”, afirma Amir Somoggi, sócio-diretor da Sports Value. “Foi feita a Lei das Loterias, que destina parte do faturamento das loterias aos esportes olímpicos e paralímpicos, mais ou menos 70% para um e 30% para o outro. Em termos relativos, parece muito pouco para o paralimpismo. Mas a estrutura, o modelo sustentável que foi criado, veio de uma gerência interna que soube o que fazer.”
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Somoggi cita o Centro de Treinamento Paraolímpico Brasileiro, localizado na Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, como um dos exemplos de bons investimentos realizados: “É de primeiro mundo, nos moldes norte-americanos. Todos os esportes estão ali.” Além de abrigar instalações esportivas que apoiam 15 modalidades, o centro conta com área residencial com capacidade para 300 pessoas.
“E também existe uma conotação própria do brasileiro de ir bem no paralimpismo”, argumenta. “Em várias modalidades de esportes adaptados nós somos muito melhores do que seríamos no tradicional. Temos um DNA de paralimpismo muito maior.” E o diretor ressalta, ainda, a contradição que isso representa em relação à condição geral das pessoas com deficiência no Brasil, que muitas vezes têm necessidades básicas, como locomoção nas cidades, não atendidas.
A subdivisão das modalidades também gera a diferença no quadro de medalhas. Nas Paralimpíadas, os atletas são divididos de acordo com três tipos de deficiências: intelectual, visual e física – que inclui potência muscular prejudicada, amplitude de movimento prejudicada, deficiência de membros, diferença de comprimento das pernas, hipertonia, ataxia, atetose e baixa estatura -, totalizando dez deficiências elegíveis.
Dessa forma, muitos esportes contam com mais de uma classe a fim de incluir um maior número de deficiências elegíveis. O vôlei sentado, por exemplo, conta com nove classes que abrangem amputações simples e duplas realizadas abaixo e acima dos cotovelos e joelhos. Isso faz com que, nas Paralimpíadas, a quantidade de eventos esportivos chegue a 539, sendo que nas Olimpíadas esse número está em 339.
“Ou seja, você tem várias medalhas em disputa. Nas Olimpíadas, o Brasil não conseguiu ter essa oportunidade de ter mais atletas disputando. Porque, afinal, lá essa força está nos esportes coletivos, com algumas raras exceções.”
O Brasil parece estar em uma curva de ascensão no que se refere ao seu desempenho nos esportes. Nas últimas edições, referentes aos anos de 2012, 2016 e 2021, o país ganhou 17, 19 e 21 medalhas nos Jogos Olímpicos, e 43, 72 e 72 os Jogos Paralímpicos. Mas Somoggi ressalta que, ainda assim, o Brasil está atrasado. “O que justifica a Holanda estar na nossa frente? Existem vários países que não tinham uma tradição olímpica mas que conseguiram se superar. E a gente?”
Em um estudo publicado em agosto de 2021, o diretor argumentava que algumas soluções eram claras: é preciso criar uma estrutura para treinamento em larga escala no país, e um sistema que efetivamente contribua para a massificação da prática de esportes e que permita a detecção sistemática de novos talentos.
Parece que, para 2024, a estratégia deu certo.
*matéria atualizada com os resultados dos Jogos Olímpicos de 2024