No último ano, a África tem sido amplamente reconhecida como um dos mercados de crescimento mais rápido para a adoção de criptomoedas. Agora, a partir de um novo relatório da empresa de análise e pesquisa de blockchain Chainalysis, é possível compreender o quão rápido esse avanço ocorre.
O mercado de criptoativos africano cresceu mais de 1.200% em termos de valor captado entre julho de 2020 e junho deste ano. A Chainalysis estima que os países do continente receberam, juntos, cerca de US$ 105,6 bilhões no período. No entanto, a África ainda é a menor criptoeconomia de todas as regiões que a pesquisa estuda.
LEIA MAIS: Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Aqui, valor captado e valor emitido referem-se ao custo em dólares da criptomoeda recebida ou enviada pelo continente africano.
O relatório apresenta quatro grandes tendências de cripto na região, incluindo: crescimento na adoção prática; aumento da popularidade de plataformas ponto a ponto (P2P); transferências com base em criptos; criptomoeda como ferramenta para preservação de riqueza.
Adoção na prática
Apesar da criptoeconomia relativamente pequena da África, a Chainalysis observou que o continente “tem uma das mais altas taxas de adoção prática do mundo”. “Quênia, Nigéria, África do Sul e Tanzânia estão classificados no top 20 de nosso Índice de Adoção de Criptomoeda Global.”
Uma maneira de determinar o uso prático é avaliar a parte do volume geral de transações de uma região que apresenta negociações equivalentes ao patamar de varejo. Para a África, esse número é pouco mais de 7%, maior do que a média global de 5,5%, segundo a pesquisa.
De acordo com o relatório: “Aprofundando ainda mais, a África também vê uma parcela maior de seu volume de transações composta por pagamentos de grandes e pequenos varejistas do que a média global. Esses números são grande parte do motivo pelo qual tantos países africanos têm uma classificação elevada em nosso índice, já que tamanhos de transferência menores sugerem maior adoção de base entre os usuários diários.”
Plataformas P2P são cada vez mais populares
Apesar de os volumes P2P (ponto a ponto), transações realizadas diretamente entre os usuários, representarem uma pequena parte (2,6% para bitcoin e 1,6% para todas as criptomoedas) de todo o volume de transações africanas, nenhuma outra região utiliza esses serviços em uma taxa mais alta do que os usuários do continente.
Um importante impulsionador dessa tendência é o fato de que os governos da Nigéria e do Quênia, dois dos principais países africanos em termos de adoção de criptos, tornaram difícil para essas empresas (como as exchanges) trabalhar com os bancos.
Em janeiro, o Banco Central da Nigéria enviou um boletim aos bancos do país, declarando que as instituições financeiras regulamentadas estão “proibidas” de “negociar em criptomoedas ou facilitar pagamentos para trocas desses ativos.”
O movimento anti-bitcoin da autarquia nigeriana ocorreu cerca de três meses após o protesto “End SARS”, que viu os jovens exigirem que seu governo controlasse a brutalidade policial no país. O bitcoin, entre outras criptomoedas, foi uma parte significativa de como o protesto recebeu financiamento, depois que os bancos nigerianos limitaram as contas associadas à manifestação.
Em 2018, o Banco Central do Quênia também alertou outros bancos de países da África Oriental contra as negociações de criptomoedas ou a facilitação de transações para entidades relacionadas aos produtos cripto. Em 4 de junho, o veículo local BitcionKE relatou que alguns bancos quenianos começaram a enviar e-mails de advertência para clientes que já haviam feito transações de criptoativos usando seu cartão de débito ou crédito.
Portanto, não é surpresa que os residentes desses dois países estejam se voltando para as plataformas P2P.
Transferências com base em criptos
Entre julho de 2019 e junho de 2020, o valor negociado entre regiões da África foi o mais alto de todas as regiões que a Chainalysis estuda. Isso sugere que, potencialmente, mais africanos estão recebendo remessas via criptomoedas.
O relatório também apontou para o crescimento mensal de pagamentos de criptomoedas abaixo de US$ 1.000 (tanto volume como contagem de transações) como um sinal de um aumento nas remessas baseadas em cripto para a África. A empresa de pesquisa considera US$ 1.000 como o limite superior das transações estimadas enviadas para o continente.
Para referência, a África Subsaariana recebeu cerca de US$ 48 bilhões em remessas em 2019, cerca de metade foi destinada à Nigéria, de acordo com um estudo do Brookings Institute.
Além disso, os dados de transações do Banco Mundial mostram que a região é constantemente considerada a mais cara para o envio de dinheiro. O bitcoin e as criptomoedas em geral há muito são alardeados para ajudar a reduzir a velocidade e o custo das remessas.
Preservação de Riqueza
O risco cambial é o mais alto do mundo em muitos países africanos. Por exemplo, o Banco Central da Nigéria desvalorizou a naira, a moeda do país, em cerca de 35% nos últimos cinco anos. Para um país que consome mais bens importados do que exporta, a desvalorização constante corrói a riqueza dos nigerianos.
Artur Schaback, diretor de operações e cofundador da exchange P2P Paxful, disse à Chainalysis que o crescimento da plataforma na Nigéria se acelerou no ano passado durante os períodos de desvalorização da moeda. Em consonância, os dados dos pesquisadores apoiaram a afirmação de Schabacks, com os volumes P2P habitualmente experimentando um pico após desvalorizações da moeda – na Nigéria e no Quênia.
Alertas sobre os dados da Chainalysis
O tráfego da web é uma parte fundamental de como a empresa de análise determina a origem e o destino das transações em cripto, explicou Kimberly Grauer, diretora de pesquisa da Chainalysis.
Como resultado, os últimos números do relatório são apenas estimativas e podem diferir significativamente da realidade.
“Há muitas advertências no relatório, mas esta é a melhor estimativa que você receberá”, disse Kimberly. “Algumas das advertências são coisas como VPNs (Rede Privada Virtual, na sigla em inglês); por exemplo, descobrimos que a Nigéria proibiu o Twitter. Então, para as pessoas acessarem o Twitter, elas precisam usar uma VPN.”
“Nossos dados de tráfego da web não têm uma forma de contabilizar VPN, o que é uma objeção.”
Além disso, o relatório inclui dados de apenas 31 países africanos. A África tem 54 países. Dentre os países excluídos está o Egito, que o Chainalysis agrupa na região do Oriente Médio.
“Temos quantidades de dados estatisticamente significativas sobre os 31 países da África para nos sentirmos confiantes de que podemos estimar o tamanho da região.”
Embora os números não estejam absolutamente precisos, Grauer acredita que está “direcionalmente correto”.
Além disso, o foco da Chainalysis na Nigéria e no Quênia em suas discussões também se destaca. Isso potencialmente dá a impressão de que a Nigéria e o Quênia são, em sua maioria, os líderes de criptomoedas da África. Esse não é necessariamente o caso, advertiu Kimberly.
“Se você olhar para o valor absoluto, a África do Sul é de longe o maior mercado de cripto, mas se você ponderar coisas como PIB e população, então a Nigéria e o Quênia se destacam.
“Começamos a suspeitar que algumas coisas estavam acontecendo no Marrocos, e alguns outros países da África se destacam por outros motivos. Togo foi outro país que sempre teve um desempenho muito alto em nosso índice em todas as métricas.”
A Chainalysis classifica os países em seu índice de adoção de criptoativos ponderando o volume geral de transações em cripto de cada país segundo a paridade de poder de compra per capita.
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.