Com 40,7% dos brasileiros totalmente imunizados, a vacinação tem dado fôlego para diversos setores que tiveram gargalos financeiros com a pandemia. Segundo o Ministério da Economia, o transporte aéreo foi a segunda segmento econômico mais afetado pela Covid-19, atrás apenas de atividades artísticas e espetáculos. Mas uma área importante para o setor tem recuperado, ainda que gradualmente, o público e o tempo perdido: as viagens corporativas.
Em agosto, o segmento faturou 11% a mais que em julho, segundo a Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas). Apesar da alta, o patamar alcançado ainda é 62% mais baixo que o registrado no mesmo período de 2019, antes da pandemia.
As viagens corporativas, feitas por funcionários de empresas ou profissionais autônomos com o objetivo de prestar um serviço, realizar reuniões, entre outros, representaram “65% de todos os voos realizados em agosto no Brasil”, informa Gervasio Tanabe, presidente da Abracorp.
De acordo com o portal Agência Brasil, as companhias aéreas realizaram 1.680 viagens diárias no mês passado, 70% do operacionalizado em março de 2020, no período pré-pandêmico. Deste total, o segmento corporativo responderia por 1.090 viagens diárias em agosto, o que equivale a aproximadamente 32 mil voos ao longo do mês.
A LTN Brasil, gestora de eventos e viagens corporativas, e a Wemoov, empresa especializada em planejar voos empresariais, se prepararam para o momento da retomada do setor. Em novembro de 2020, as companhias se uniram para ampliar o volume de negociações, otimizar os processos e dividir o mesmo escritório, conta Pedro Garcia, sócio da Wemoov.
“Graças à demanda de serviços desde 2017 a 2019, como uma convenção de clientes que fazemos anualmente em abril, conseguimos seguir operando sem precisar fechar nossos serviços”, diz Garcia. Na Destino Férias, plataforma de viagens da Weemov, o volume de vendas alcançou, na primeira quinzena de setembro, 65% do total registrado no mesmo período de 2019.
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Ao mesmo tempo, a LTN, que também não interrompeu as operações em 2020, conseguiu vender, na primeira quinzena de setembro, 60% do volume médio para o mês registrado na pré-pandemia. “Seguimos com nossos negócios ativos, pois remarcamos, cancelamos e renegociamos [contratos de viagens e eventos]”, afirma Bernhoueft.
Em fevereiro de 2021, a LTN e a Weemov se juntaram com a agência de turismo de luxo Tereza Pérez, e criaram um consórcio de viagens corporativas, a TP Corporate. “Era esperado que viagens corporativas retomassem em algum momento, porém o principal desafio era a imprevisibilidade de quando essa retomada aconteceria”, conta Cibeli Marques, diretora de vendas da TP Coporate.
“Com o início da vacinação e a criação de protocolos de segurança, começamos a ver uma retomada no segundo semestre de 2021”, diz Cibeli. Até 2024, o TP planeja chegar ao faturamento de R$ 100 milhões. Além disso, as companhias irão criar uma holding de viagens e eventos corporativos, a DESTINOS.INC, com previsão de lançamento para a segunda quinzena de outubro.
Para Tanabe, da Abracorp, a recuperação ainda é lenta no segmento como reflexo da falta de segurança das empresas. “Mas começamos a notar que algumas empresas multinacionais esboçam um reaquecimento, o que nos leva a acreditar que, para o último trimestre de 2021, poderemos vislumbrar uma recuperação muito mais sólida”, afirma.
A Weemoov e a LTN, por exemplo, planejam atingir a marca de R$ 130 milhões em vendas neste ano, puxada por uma recuperação mais acelerada no quarto trimestre. Em 2019, quando estavam separadas, a Weemov movimentou R$ 74 milhões em vendas e a LTN, R$ 120 milhões. Já em 2020, foram R$ 12 milhões e R$ 24 milhões, respectivamente.
Para Mariana Aldrigui, presidente do conselho de turismo da FecomercioSP, os grandes executivos do turismo apostam em uma recuperação das viagens de negócios a partir de abril de 2022, afirma. “Mas diria que, no Brasil, teremos de ser mais cautelosos com estas projeções. E certamente temos que aguardar [o avanço] da vacinação.”
Segundo ela, a saída para as companhias é mapear os clientes para entender o novo público. “O mais importante é manter o contato com os consumidores para não apenas entender as demandas, mas construir soluções”, diz.
O outro lado da moeda
A tensão, mesmo que menor, ainda está presente entre os viajantes. Jorge Miguel, de 59 anos, viajou pelo menos uma vez por mês a trabalho em 2019, mas não pegou nenhum voo em 2020. A falta de viagens no ano passado reduziu sua receita pessoal em 45%. Neste ano, ele retomou os voos e acabou pegando Covid-19 em junho. “Mesmo eu já tendo tomado duas doses [da vacina], apenas viajarei quando for extremamente necessário”, afirma Miguel.
A consultoria McKinsey & Company aponta que, com a pandemia, surgiram quatro estilos de passageiros: os que nunca deixarão de viajar; os que não voltarão para os aviões corporativos; os que sofrem Síndrome de Fomo, “aqueles que têm medo de não pegar um voo e estar perdendo algo importante no destino”, segundo o relatório; e os que vão esperar para ver, ou seja, conseguiram encontrar outras saídas em vez de viajar.
Um estudo da PWC, realizado entre abril e maio deste ano com 165 empresas ao redor do mundo, apontou que as expectativas para o futuro do setor de viagens corporativas são positivas. De acordo com a consultoria, 62% das companhias entrevistadas preveem um aumento no número de viagens corporativas de forma frequente até 2023, considerando o patamar médio anterior à pandemia.
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