Adquirir ações de uma empresa pode vir com vantagens adicionais. Os dividendos são parte do lucro líquido de uma empresa que é dividido entre os acionistas como uma forma de remuneração complementar aos ganhos que as ações em si podem gerar. Porém, embora sejam utilizados como modo de conquistar investidores, existem aspectos que podem influenciar a sua atratividade.
O principal indicador utilizado para avaliar quanto cada ação paga em dividendos é o dividend yield (ou, em português, rendimento dos dividendos). O cálculo é feito com a divisão do dividendo anual de uma ação por seu preço no momento atual. Quanto maior o dividend yield, mais aquela ação paga em dividendos. Ou seja, ao investir em um papel com dividend yield de 10%, pode-se esperar 10% de retorno sobre o valor investido.
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O valor pago por ação pode ser fixo ou definido por percentual. Se for fixo, um investidor que tem cem ações de uma companhia que paga R$ 4 por ação, por exemplo, vai receber R$ 400 em dividendos. Se for percentual, um investidor que tem o mesmo total de ações, a R$ 20 cada, e cujos dividendos são 5% por ação, ganha R$ 100 em dividendos.
“Quando olhamos para o histórico de pagamentos de dividendos das empresas listadas na Bolsa de Valores, notamos que parte delas não tem um histórico muito regular”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos. “Assim, mesmo se elas apresentarem um bom dividend yield, isso não garante que irão pagar esse mesmo rendimento nos próximos 12 meses. Portanto, é preciso ter cuidado, porque o indicador pode ficar um pouco distorcido.”
Tradicionalmente, bancos e empresas do setor elétrico apresentam um histórico de pagamentos regular, e isso decorre da própria natureza desses negócios, que possuem uma demanda mais previsível. Segundo um levantamento da própria XP, realizado em setembro, Copel, Banco do Brasil e Engie Brasil são algumas das empresas que mais pagam dividendos no país. Outras, dos setores de consumo e commodities, são mais voláteis nesse critério.
Segundo a Lei das Sociedades Anônimas, mais conhecida como Lei das S/As, todas as empresas na Bolsa que registram lucro líquido têm a obrigatoriedade de distribuir uma parcela aos acionistas. Apesar de a porcentagem mais comum ser de 25%, não há um patamar mínimo definido. Cada companhia estabelece a parte mais conveniente para os negócios no estatuto social.
Também não existe uma regra que defina a regularidade com a qual esses dividendos serão distribuídos. Isso pode ocorrer mensal, trimestral, semestral ou anualmente, embora o último caso seja mais comum. Assim, um investidor deve levar isso em consideração na hora da escolha dos papéis.
Como saber se dividendos são para você
“Assim como ocorre na renda variável como um todo, os dividendos são indicados para o investidor que tem apetite a risco, que sabe que podem existir perdas”, argumenta Thiago Godoy, head de educação financeira da Xpeed School. Segundo o educador, investidores que têm um baixo apetite ao risco devem destinar apenas 5%, no máximo 10%, da carteira de investimentos às ações que pagam dividendos.
Para investidores intermediários, essa porcentagem pode chegar a 20%, enquanto, para os mais arrojados, e que possuem um patrimônio mais sólido, é possível atingir 40%. “É importante lembrar que essa é uma estratégia de construção a longo prazo. Não é ficar comprando e vendendo ações no mesmo dia, operando no curto prazo, pois essa é uma estratégia de day trading para quem conhece muito o mercado. Com os dividendos, é preciso ter paciência.”
Nem todas as pessoas que compram ações de uma empresa têm direito a receber dividendos. Por isso, é preciso ficar atento à data ex-dividendos, frequentemente chamada apenas de data-ex. Quem compra ações antes desse dia recebe os dividendos, enquanto quem compra depois fica de fora. Essa data é definida pelo conselho de administração da empresa e divulgada publicamente. No dia 16 de setembro, por exemplo, a Vale anunciou que iria distribuir dividendos de R$ 8,10 por ação para aqueles que as adquirissem até o dia 23 de setembro, com pagamento efetuado no último dia do mês.
Uma vez com os dividendos em mãos, o investidor pode optar por transferir o valor ao banco ou então reinvesti-lo em mais ações da própria empresa. Segundo Li, essa última opção se assemelha a uma “bola de neve positiva”, tendo em vista que, quanto maior for a base de ações que uma pessoa tem, maior será a parcela de lucros que receberá da empresa.
Mas, considerando uma tendência de alta da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, a atratividade dos dividendos pode mudar. Hoje, a Selic está em 6,25% ao ano, o que significa que os investimentos de renda fixa, como os títulos do Tesouro Direto e os CDBs (certificados de depósito bancário), estão começando a render mais do que rendiam uma ano atrás, quando a taxa estava em 2%. A segurança que a renda fixa oferece geralmente leva à preferência em relação a investimentos de renda variável.
“À medida que a Selic sobe, a renda fixa se torna mais atrativa”, explica a estrategista. “É por isso que, na XP, nós fazemos um relatório recorrente, que é divulgado após toda reunião do Copom [Comitê de Política Monetária], das ações que apresentam um dividend yield acima da Selic.”
Outro aspecto que influencia essa atratividade é a perspectiva de tributação sobre esses proventos. Atualmente, os dividendos são isentos de tributação no Brasil – mas isso pode estar prestes a mudar com a reforma do Imposto de Renda. No primeiro semestre de 2021, o texto-base da proposta previa uma nova alíquota de 20% sobre lucros e dividendos. Em setembro, essa taxa foi reduzida para 15%. Embora ainda exista a possibilidade de que a isenção de impostos se mantenha, o momento é de incerteza.
Alternativas
“Se a reforma passar, as ações com dividendos não deixam de ser boas opções, porque você está investindo em busca do crescimento da empresa, da apreciação do preço das ações”, afirma Li. “Mas existem algumas alternativas para quem busca bons rendimentos, como os FIIs.”
Os FIIs, ou fundos de investimentos imobiliários, têm a obrigação de repassar, no mínimo, 95% dos seus lucros líquidos para seus acionistas, e isso ocorre mensal ou semestralmente. Além disso, esses proventos, por enquanto, também não são tributados. Outra alternativa comum aos dividendos são os juros sobre capital próprio, que apresentam a mesma premissa básica dos dividendos, mas são tributados em 15%, que sofrem retenção na fonte.
A diferença é que, do ponto de vista fiscal, esses valores não são extraídos do lucro líquido das empresas, mas são considerados despesas, fazendo com que elas não precisem pagar impostos sobre eles. Os JCPs são uma invenção brasileira, e não contam para a obrigatoriedade que as empresas da Bolsa têm de distribuir dividendos aos seus acionistas. A periodicidade do pagamento é equivalente, e com eles também é preciso ficar atento à data-ex, ou data-com.
Existem também empresas que não pagam dividendos. Isso pode ocorrer, geralmente, por duas razões: a empresa registrou prejuízo no período indicado ou decidiu reinvestir todo o lucro nas próprias operações. No segundo caso, mesmo com a ausência de dividendos, investir na empresa ainda pode ser uma boa ideia.
“No caso dessas empresas de alto crescimento que não pagam dividendos, elas provavelmente estão projetadas para entregar resultados altos no futuro”, diz a estrategista. “Eu daria como exemplo as grandes empresas de tecnologia no exterior, como as FAANG [Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google], Tesla, Uber… Elas são grandes empresas, todo mundo conhece, mas todo lucro que têm, elas reinvestem no seu próprio crescimento. Isso acaba sendo bom para a empresa a longo prazo, e para o acionista também, porque tende a levar a uma apreciação do preço da ação.”