O Banco Central informou nesta quinta-feira a saída do diretor de Política Econômica, Fabio Kanczuk, ao fim do seu mandato neste ano, no terceiro anúncio de partida da autarquia em 2021.
A renovação no alto escalão da autoridade monetária vem a despeito da possibilidade de recondução dos diretores, aberta pela lei de autonomia formal do BC sancionada neste ano.
Dentre os diretores indicados pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em 2019, ano em que assumiu o cargo, apenas Bruno Serra, de Política Monetária, seguirá na autarquia em 2022. O mandato de Serra vai até março de 2023.
Além dos nomes que escolheu, Campos Neto manteve no BC diretores que faziam parte do colegiado na gestão do ex-presidente Ilan Goldfajn, seu antecessor, e que seguem em seus postos até hoje: Carolina Barros (Administração), Paulo Souza (Fiscalização), Otávio Damaso (Regulação) e Mauricio Moura (Relacionamento Institucional).
O mandato de Kanczuk se encerra 31 de dezembro de 2021 e o economista-chefe da Itaú Asset Management, Diogo Abry Guillen, foi indicado por Campos Neto para o seu lugar, disse o BC, em nota.
Guillen também é professor vinculado ao Insper, sendo bacharel e mestre pelo Departamento de Economia da PUC-Rio e PhD em economia pela Princeton University.
Em março, o BC havia informado que a economista Fernanda Nechio deixaria o cargo de diretora de Assuntos Internacionais por razões pessoais, e que seria substituída por Fernanda Guardado, que assumiu em julho.
No fim de outubro, foi a vez de a autarquia divulgar que o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, João Manoel Pinho de Mello, também só permaneceria no BC até o fim do seu mandato, no encerramento deste ano. Para o seu lugar, Campos Neto indicou Renato Dias de Brito Gomes, professor da Escola de Economia de Toulouse e pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique.
Tanto Gomes quanto Guillen ainda deverão ser sabatinados pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, sendo que as indicações precisam ser posteriormente aprovadas pelos senadores no plenário da Casa.
Além da atuação no BC no governo Jair Bolsonaro, tanto Kanczuk quanto Pinho de Mello assumiram cargos no Ministério da Fazenda do governo do ex-presidente Michel Temer.
Kanczuk foi secretário de Política Econômica de 2016 a 2018. Já Pinho de Mello foi, entre 2017 e 2018, chefe da assessoria especial para Reformas Microeconômicas, secretário de Promoção da Produtividade e secretário de Política Econômica, assumindo a cadeira deixada por Kanczuk.
Uma fonte com conhecimento direto do assunto disse à Reuters que os baixos salários da diretoria e a volumosa carga de trabalho e responsabilidade acabam abreviando o interesse na permanência no BC para os profissionais.
Segundo dados do Portal da Transparência, a remuneração básica bruta de Kanczuk em setembro foi de 10.396,59 reais e a de Pinho de Mello, de 17.327,65 reais.
Kanczuk e Pinho de Mello sairão do BC num momento em que a autarquia conduz um agressivo ciclo de aperto monetário para domar as persistentes pressões inflacionárias. Desde março, quando tirou a Selic de seu piso histórico de 2%, o BC já elevou a taxa básica em 5,75 pontos, ao patamar atual de 7,75%, indicando que deve promover outro ajuste na sua próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro.
A perspectiva é de que a inflação termine este ano em 9,33%, segundo economistas ouvidos pelo BC na mais recente pesquisa Focus, muito acima da meta central de 3,75%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Por conta do estouro, o BC deverá escrever uma carta aberta, no início do próximo ano, justificando ao ministro da Economia o porquê do descumprimento da meta de inflação.