O Mercado Bitcoin, maior plataforma de negociação de criptoativos da América Latina, fechou um acordo com a comercializadora de energia Comerc para explorar tokens de energia renovável, anteciparam à Reuters executivos envolvidos no projeto.
As companhias visualizam, neste momento, dois produtos digitais do gênero. Um relacionado ao “cashback” da geração distribuída (GD) da energia solar, que deve ser lançado até janeiro de 2022, e outro lastreado em certificado que documenta o consumo de eletricidade a partir de fontes renováveis.
Os tokens ainda poderão ser utilizados na aquisição de outras criptomoedas, atraindo mais agentes para um mercado que tem crescido fortemente.
“O token poderá ser tratado como qualquer outra moeda, mas tem um benefício adicional, ele é um token que representa uma geração renovável”, disse à Reuters Matheus Nogueira, CEO da Mori, empresa responsável pelos ativos de GD da Comerc, maior gestora de energia no Brasil.
Segundo o executivo ligado à Comerc, que recentemente anunciou outra parceria inovadora em energia renovável, para coinvestimentos em unidades de hidrogênio verde com a Casa dos Ventos, esse tipo de iniciativa com os tokens “toca” os três ‘des’ das “macrotendências inevitáveis” da economia contemporânea.
“Primeiro a descarbonização, o incentivo à energia limpa; o segundo é a descentralização, nossas plantas são de geração distribuída…, e por fim a digitalização.”
Para Roberto Dagnoni, CEO do Grupo 2TM, holding que controla o Mercado Bitcoin, a iniciativa agrega mais um token em um mercado que está pulsante.
A plataforma de bitcoins, que este ano recebeu um aporte de 1 bilhão de reais do SoftBank, já movimentou mais de 30 bilhões de reais em negociações de ativos digitais em 2021, volume superior ao registrado desde a criação da empresa em 2013 até o ano passado.
“Esta é uma tendência muito relevante… estamos até o final do ano para ter 100 moedas ou ativos listados, já virou uma bolsa com muitos ativos listados”, afirmou Dagnoni, ressaltando que o Mercado Bitcoin superou 3 milhões de clientes em setembro.
RETORNO RENOVÁVEL
O atual sistema de geração distribuída solar no país concede um incentivo para investidores. E, por meio deste esquema, assinantes da plataforma de GD da Comerc, a SouVagalume, também obtêm descontos em suas contas.
Esse desconto, ou “cashback” –equivalente a cerca de 15% a 20% do valor da conta, dependendo do tamanho consumidor–, é que lastreará um dos tokens negociáveis de energia renovável, conforme os planos da Comerc e do Mercado Bitcoin.
A Comerc vai oferecer aos clientes opções como a compra dos tokens, por um valor fixo. E posteriormente lançará este ativo digital para negociação no mercado secundário.
“Se tem um gasto mensal de mil reais, por exemplo, pode ser residência, comercial ou rural, o consumidor teria 150 reais por mês convertidos em tokens”, explicou.
A Comerc já superou 5 mil clientes que geram sua própria energia por meio da plataforma de GD, e até o final de 2022 a expectativa é de chegar a 150 mil clientes, o que aumentaria fortemente o potencial de geração de tokens.
“A pessoa converter o consumo dela em energia renovável, ganhando desconto e com liquidez em token, em uma plataforma, é uma oferta muito interessante, é mais interessante ganhar este token… um desconto na fatura materializa muito menos”, defendeu Dagnoni, CEO do Grupo 2TM.
O segundo token a ser lançado pelos empreendedores –ainda em fase preliminar de estruturação– deve ser lastreado em I-REC (International REC Standard), um certificado que documenta o consumo de eletricidade a partir de fontes de energia renováveis e é comumente usado pelas empresas para se enquadrar nos critérios de sustentabilidade internos e externos.
No caso do token lastreado em “cashback”, as companhias estão fechando os últimos detalhes legais e regulatórios, e Dagnoni espera ter o produto “na rua” entre o final de dezembro e meados de janeiro.
A parceria entre o Mercado Bitcoin e a comercializadora de energia é anunciada um mês depois da divulgação de um acordo para a venda de 50% do capital da Comerc para a distribuidora de combustíveis Vibra (ex-BR Distribuidora), que por sua vez tem buscado se reposicionar diante da transição para uma economia de baixo carbono.