Dois anos atrás, escrevi que atingir a marca de US$ 10.000,00 não seria suficiente para o bitcoin, considerando os fundamentos do ativo e a dinâmica do mercado. Hoje, o bitcoin é negociado acima de US$ 60.000,00 e eu aprendi uma lição valiosa sobre as armadilhas de ser conservador ao fazer projeções para o público.
Embora eu não esteja encorajando você a mergulhar de cabeça no mar de opções de bitcoin que apostam em US$ 100 mil até o final do ano, há três razões simples para otimismo dos investidores em criptomoedas.
Motivo 1: Bitcoin não é mais uma solução sem problemas
Já se passaram 11 anos desde as pizzas de US$ 612 milhões (R$ 3,38 bilhões) de Laszlo Hanyecz, mas o bitcoin ainda não está nem perto de atingir o pico de maturidade. Pelo contrário, ainda estamos montando firmemente o pico do gráfico, com a adoção de criptografia do ano passado observando uma taxa de crescimento fenomenal de 881%, de acordo com Chainalysis.
Em 2010, Hanyecz ofereceu 10 mil bitcoins em um fórum online para quem lhe entregasse duas pizzas, episódio que ficou conhecido como uma das primeiras compras com a criptomoeda. À época, o programador desembolsou cerca de US$ 41,00.
A adoção do bitcoin tem sido particularmente forte em países asiáticos como Índia, Paquistão e Vietnã, onde pesquisas recentes descobriram que mais de 40% dos entrevistados possuem criptomoedas. Para ter uma ideia de quão longe os países europeus e os EUA estão, compare esse número os menos de 10% dos entrevistados britânicos e norte-americanos que afirmaram possuir criptoativos.
A situação está mudando rapidamente, no entanto. Na semana passada, vimos o primeiro ETF de bitcoin lançado pela ProShare. Além disso, novos fundos de ETFs baseados em futuros devem ser lançados por Invesco, VanEck, Valkyrie Digital Assets e Galaxy Digital, entre outros. Ao mesmo tempo, El Salvador fez do bitcoin sua moeda oficial e mais de 80% dos bancos centrais em todo o mundo estão ativamente engajados com moedas digitais.
No lado do consumidor, a plataforma norte-americana Robinhood já tornou o investimento em criptografia mais fácil, e processadores de pagamento como o Venmo estão surfando nessa onda. Tanto o Google quanto o Facebook suspenderam parcialmente suas proibições de anúncios sobre criptomoedas nos últimos meses.
O que estamos testemunhando é a popularização em ritmo acelerado de bitcoins e criptomoedas. Ter o bitcoin embutido mais profundamente em nossos sistemas financeiros terá um impacto maior do que muitos de nós imaginamos.
Mais importante, podemos esperar um crescimento contínuo da demanda por bitcoin em todos os aspectos da vida cotidiana, desde pagamentos diretos a carteiras de investidores institucionais – o que contribuirá para manter a criptomoeda em trajetória ascendente nos próximos anos.
Motivo 2: Bitcoin e cryptos são uma classe de ativos única que só crescerá em demanda
Há alguns anos, Charlie Munger classificou o bitcoin de “ouro artificial sem valor” e, se você ignorar o segundo adjetivo, Charlie acertou em cheio.
Assim como o ouro, o bitcoin oferece uma forte segurança contra inflação, turbulências na economia global e outros sustos que o mercado pode dar a um investidor. Na verdade, o bitcoin e as demais criptomoedas conseguiram ultrapassar a linha tênue entre especulação, jogo de azar e diversificação não tradicional com muito mais sucesso do que o ouro jamais poderia.
Por exemplo, durante o período de 2012-2020, a correlação do bitcoin com o S&P 500, títulos, imóveis nos EUA, petróleo e moedas de mercados emergentes variou de -0,1 a 0,03, tornando-o uma ferramenta ideal para diversificar quase qualquer portfólio.
Em suma, o bitcoin bate o ouro facilmente quando se trata de correlações com outros ativos defensivos, como títulos do Tesouro – nada mal para uma moeda artificial e sem valor.
Os últimos anos nos deram uma amostra de como nosso futuro provavelmente será marcado pela insegurança geopolítica e pelo agravamento da devastação causada pelas mudanças climáticas. Em um contexto cada vez mais instável, a combinação única de capacidade defensiva e apelo especulativo do bitcoin o torna mais à prova de incertezas do que muitas outras classes de ativos hoje, abrindo o caminho para os US$ 100 mil e além.
Motivo 3: Economia para iniciantes
Existem hoje aproximadamente 18,4 milhões de bitcoins de um total de 21 milhões que foram minerados. Destes, os especialistas estimam que entre 10 a 30% estão fora do mercado devido a senhas perdidas e falhas de hardware, por exemplo.
Do ponto de vista da integridade dos sistemas, os próximos “halvenings” (queda da oferta pela metade) e o eventual fim das recompensas por bloco é um não-evento. Por volta do ano 2140, quando é esperado que isso aconteça, as mineradoras continuarão operando as redes (de preferência com energia renovável) com taxas de transação para incentivar seus esforços.
O mesmo não pode ser dito para o preço nominal do bitcoin, no entanto. Como qualquer pessoa que tenha conhecimentos básicos de economia lhe diria, uma diminuição na oferta combinada com um crescimento na demanda levará a um aumento inevitável no preço.
E a demanda certamente crescerá. Mesmo se colocarmos a adoção sistêmica e as questões de hedge de lado, existem inúmeras fontes inexploradas de demanda prontas para serem exploradas.
Uma delas são as transações entre varejistas e consumidores, que ficaram para trás em grande parte devido à falta de apoio de instituições financeiras. No primeiro semestre de 2021, a Visa (e seus parceiros BlocFi, Circle e Coinbase) movimentou mais de um bilhão de dólares por meio de seus cartões de criptomoedas. A MasterCard também está apostando nas criptomoedas, e podemos esperar que seu cartão vinculado ao bitcoin se torne um item básico do consumidor nos próximos anos.
No final das contas, há uma boa razão para acreditar que US$ 60 mil não será o fim do aquecimento do mercado de bitcoins, e, embora certamente seja um caminho acidentado, as perspectivas parecem boas para aqueles que estão dispostos a comprar e esperar.