O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, recuou hoje (28), em meio a um cenário externo misto e sob influência da queda das ações da Vale, na esteira da desvalorização do minério de ferro.
A mineradora foi a principal contribuição negativa para o índice, enquanto a JBS ficou na ponta oposta.
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O Ibovespa caiu 0,65%, a 104.864,17 pontos. O giro financeiro foi de cerca de R$ 16 bilhões — pouco mais da metade da média do começo do mês.
O Ibovespa operou em queda desde o início da sessão, quando os principais índices futuros de ações nos Estados Unidos ainda indicavam uma nova sessão positiva generalizada. As principais bolsas dos EUA e da Europa acumularam sequências de altas nas últimas sessões, impulsionadas principalmente por notícias positivas sobre a variante Ômicron da Covid-19.
Depois, o S&P 500 interrompeu sequência de quatro altas seguidas — o Ibovespa registrou três baixas nas últimas cinco sessões.
“O Ibovespa não acompanhou o movimento de alta da bolsa dos EUA em todo o segundo semestre”, disse a estrategista-chefe da Necton Investimentos, Bruna Marcelino. “O temor é como vai ser quando a bolsa norte-americana começar a corrigir”, acrescentou, lembrando que o país deve iniciar a subida na taxa de juros, ciclo já em andamento no Brasil e que afeta a renda variável.
No ano, o Ibovespa tem queda de cerca de 11,8%, enquanto o Dow Jones, o de pior desempenho entre os três principais índices acionários norte-americanos, teve alta de 18,9%.
No geral, as bolsas tiveram desempenho misto hoje, com o S&P 500 caindo 0,1%, o Nasdaq cedendo 0,6% e o Dow Jones subindo 0,3%, enquanto na Europa o índice pan-europeu STOXX 600 teve ganho de 0,6% e alcançou maior patamar em cinco semanas.
Na cena doméstica, seguiu no radar do mercado a pressão de auditores da Receita Federal sobre o governo pela liberação de recursos ao órgão e regulamentação do pagamento de bônus. A insatisfação ocorreu na esteira da aprovação no Congresso de Orçamento de 2022 com uma reserva de R$ 1,7 bilhão para reajustar salários de policiais.
O temor de investidores é de que ocorra uma pressão mais ampla por reajustes em outras categorias do funcionalismo, de modo que uma potencial aceno favorável do governo federal impacte as contas públicas.
Entre os dados divulgados, a taxa de desemprego no Brasil caiu para 12,1% no trimestre encerrado em outubro, divulgou o IBGE, ante expectativa de 12,3% em pesquisa Reuters. E o Banco Central apresentou relatório mensal de crédito.
Destaques
– VALE ON caiu 2,7% e USIMINAS PN recuou 1,93%, após contratos futuros do minério cederem 3,4% em Dalian. No caso da Vale, ainda houve contratempo nas negociações com credores envolvendo sua joint venture Samarco — em parceria com o grupo anglo-australiano BHP — em conversas para um acordo de recuperação judicial.
– PETROBRAS PN e ON ambas subiram 0,1%. O petróleo Brent avançou 0,4%, apoiado por interrupções no fornecimento e expectativas de que os estoques dos EUA tenham caído na semana passada. Notícias sobre disputas judiciais em alguns estados envolvendo o aumento de preços de gás pela Petrobras também ficaram no radar.
– CIELO ON disparou 4,1% e chegou a três sessões de alta. A companhia divulgou juros sobre capital próprio de R$ 235,8 milhões na semana passada.
– ASSAÍ ON recuou 3,96%, na quarta sessão consecutiva de queda.
– BR MALLS ON subiu 2,78%, IGUATEMI avançou 2,74% e MULTIPLAN ON teve alta de 1,54%, em nova sessão positiva para setor de shoppings, na sequência de notícias sobre dados preliminares das vendas no final de ano. No final da tarde, o Brazil Journal publicou, citando fontes, que a Aliansce Sonae contratou o BTG Pactual para avaliar a aquisição ou fusão com a BR Malls.
– HAPVIDA ON caiu 2,6%, em dia ex-direitos a juros sobre capital próprio. INTERMÉDICA ON, que está em processo de combinação de negócios com a Hapvida, caiu 3%, sua quarta baixa consecutiva. O setor de saúde mantém no radar o movimento de internações por síndromes respiratórias no país em meio à propagação da Ômicron.
– VIA ON subiu 1,85% e MAGAZINE LUIZA ON avançou 0,74%, após ações dispararem na véspera com otimismo dos investidores com o setor de varejo.
– ITAÚ UNIBANCO PN e BRADESCO PN cederam 0,37% e 0,36%, após a divulgação de estatísticas mensais de crédito pelo BC. O estoque total de crédito no Brasil subiu 1,8% em novembro sobre outubro, enquanto a inadimplência no segmento de recursos livres teve leve alta, e o spread bancário subiu a 23,4 pontos percentuais. Ainda no setor financeiro, BTG PACTUAL UNIT caiu 2,8%.
Wall Street
O S&P 500 fechou em leve baixa após bater um recorde intradiário hoje, conforme um rali de quatro dias perdeu força em negociações com baixo volume e investidores repercutiram interrupções de viagens e fechamentos de lojas causadas pela Ômicron.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) encurtaram para cinco dias o tempo de isolamento recomendado para norte-americanos com casos assintomáticos de Covid-19, ante orientação anterior de 10 dias. A atualização segue a aprovação de novos comprimidos e mais vacinas para combater o vírus, o que ajudou investidores a minimizar as preocupações com milhares de cancelamentos de voos e o fechamento de lojas da Apple, devido ao aumento de casos do coronavírus.
“Esta é uma semana encurtada pelo feriado. Portanto, os movimentos diários provavelmente serão exagerados por causa de um baixo volume relativo”, disse Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research em Nova York.
Sete dos 11 principais índices setoriais do S&P 500 subiram hoje. Tecnologia e Serviços de Comunicações lideraram quedas.
O índice S&P 500 fechou em baixa de 0,10%, a 4,786.35 pontos. O Dow Jones subiu 0,26%, a 36,398.21 pontos. O Nasdaq cedeu 0,56%, a 15,781.72 pontos.
Dólar
O dólar fechou praticamente estável contra o real hoje, em sessão sem grandes catalisadores e de baixa liquidez devido à aproximação do final do ano, com a disseminação global da Covid-19 e a saúde fiscal do Brasil no radar de investidores.
A moeda norte-americana à vista teve variação negativa de 0,01%, a R$ 5,6390 na venda, depois de mudar de sinal várias vezes durante as negociações, indo de R$ 5,6210 na mínima (-0,32%) para R$ 5,6629 na máxima do dia (+0,41%).
Na B3, às 17:20 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,03%, a R$ 5,6310.
O destaque da sessão, segundo participantes do mercado, foi o baixo volume de negócios devido à aproximação do final do ano, o que explicaria o vaivém da moeda visto mais cedo.
“Importante ratificar que estamos em uma semana de baixíssima liquidez nos mercados financeiros, por ser a última do ano, e acaba sendo difícil termos alguma ‘tração’ ou movimento que de fato nos traga para algum novo patamar”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da assessoria de câmbio FB Capital. “Devemos encerrar o ano assim, a despeito dos dois pregões que ainda temos na semana.”
Ele afirmou que a movimentação no mercado de câmbio local está em linha com o comportamento internacional do dólar, cujo índice frente a uma cesta de rivais fortes tinha leve alta nesta tarde, depois de passar boa parte do dia perto da estabilidade.
No exterior, o clima era de menor preocupação com a variante Ômicron do coronavírus e suas consequências econômicas, o que deu algum suporte a ativos mais arriscados, como as ações europeias [.EUPT] e algumas moedas latino-americanas, como sol peruano e peso chileno. O peso mexicano, importante par do real, tinha estabilidade no fim da tarde desta terça-feira.
“A pandemia está sendo lida como mais uma ‘onda’ pontual”, comentou em blog Dan Kawa, CEO da TAG Investimentos, sobre o ambiente benigno para ativos considerados arriscados, citando “cenário de curto prazo mais construtivo, mas com riscos ainda elevados e crescentes de longo prazo”.
Entre os pontos de cautela, ele apontou a inflação global e a redução dos estímulos de grandes bancos centrais.
No Brasil, receios fiscais seguiam sob os holofotes, com agentes locais monitorando a situação dos auditores da Receita Federal que entregaram seus cargos em ato contra cortes orçamentários.
“A pressão por reajustes salariais e mais gastos públicos segue intensa, mantendo um pano de fundo de incerteza e fragilidade”, disse Kawa.
Temores sobre despesas adicionais no próximo ano vêm depois de o governo ter conseguido, por meio da PEC dos Precatórios, alterar a regra do teto de gastos para abrir o espaço fiscal necessário para financiar auxílio à população no valor de R$ 400 por família.
Isso gerou entre parte dos mercados a percepção de que as regras fiscais do Brasil poderiam estar sujeitas a mais alterações no futuro de forma a comportar mais gastos, o que minaria a confiança de investidores estrangeiros no país.
Para Bergallo, da FB Capital, esse tipo de receio “deve continuar na entrada de 2022”.
Com o desempenho desta terça-feira, o dólar acumula agora alta de 8,62% contra o real em 2021, faltando apenas dois pregões para o fim do ano.