O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, subiu hoje (7) e estendeu a recuperação da véspera, apesar de um clima cauteloso nos mercados externos, após a divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos.
Ações de empresas ligadas a commodities e ao setor financeiro novamente deram suporte ao índice.
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O Ibovespa subiu 1,14%, a 102.719,47 pontos, na máxima da sessão. Ainda assim, caiu 2% na semana por conta da baixa nos três primeiros pregões do ano. O volume financeiro da sessão foi de R$ 26,3 bilhões.
As bolsas norte-americanas tiveram desempenho misto, com destaque negativo para o Nasdaq, que cedeu quase 1% e fechou a semana com baixa de 4,5%. O índice segue pressionado pela perspectiva de alta de juros nos EUA, o que tem efeito especial sobre as empresas mais dependentes do crescimento e do custo de capital, como as de tecnologia.
A criação de vagas de trabalho fora do setor agrícola nos EUA em dezembro somou, em termos líquidos, 199 mil postos, disse o Departamento do Trabalho, contra estimativa de 400 mil em pesquisa Reuters com analistas.
O dado abaixo do esperado poderia jogar contra as discussões do Federal Reserve (Fed), divulgadas na quarta-feira, sobre subir os juros antes do previsto, já que ele próprio condicionou a alta nos juros a um mercado de trabalho com “pleno emprego”.
Mas na leitura do mercado, outros números divulgados hoje sobressaíram e reforçaram o discurso da ata. A taxa de desemprego, por exemplo, caiu para 3,9% em dezembro, contra estimativa do mercado de 4,1% e ante 4,2% no mês passado.
“O mercado americano continua bastante aquecido, isso a gente percebe na métrica de desemprego e nos salários subindo um pouco mais do que a expectativa”, disse Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos.
Em meio a essas discussões, o Ibovespa manteve-se no azul durante quase todo o dia.
“Parece que a gente está deixando um pouco de lado nossos problemas locais, que acabaram refletindo bastante nos primeiros pregões da semana”, disse Komura. Mas ressaltou que questões como incertezas sobre a atividade econômica e a pauta fiscal devem causar bastante volatilidade no ano.
Na Europa, o índice pan-europeu STOXX 600 caiu, após a inflação na zona do euro acelerar mais do que o esperado em dezembro e diante de aumento de casos de Covid-19 na região.
Destaques
– INTER UNIT disparou 15,46%, maior alta desde novembro, após o UBS BB elevar recomendação para o papel, de “neutra” para “compra”, destacando potencial de alta para o ativo, que vem de quedas recentes contundentes.
– XP subiu 2,4% em Wall Street após anunciar a compra de até 100% do Banco Modal. Modal, que não está no Ibovespa, saltou 44,9%.
– VALE ON subiu 5,8%, após o minério de ferro ampliar ganhos na bolsa de Dalian, com otimismo sobre potencial recuperação da demanda por aço. Siderúrgicas também tiveram pregão positivo, com USIMINAS PN avançando 4,8% e CSN ON marcando ganhos de 4,2%.
– AMERICANAS ON caiu 5,3%, LOJAS AMERICANAS PN cedeu 5,4%, VIA ON recuou 4,36% e MAGAZINE LUIZA ON teve queda de 0,48%.
– PETROBRAS PN subiu 0,46% e PETROBRAS ON teve alta 0,8%, enquanto 3R PETROLEUM avançou 6,9%, mesmo com o petróleo em queda. PETRORIO subiu 4,54%, após divulgar dados operacionais.
– ITAÚ UNIBANCO PN subiu 2,2% e BRADESCO PN teve alta de 1,45%, puxando papéis de bancos na sessão pelo segundo pregão consecutivo.
– ELETROBRAS PN e ON caíram 3,3% e 4,38%, respectivamente, na quinta baixa consecutiva. No radar dos investidores, está o processo de privatização da companhia.
– AMBEV ON caiu 1,62%, na nona queda seguida.
Wall Street
Wall Street encerrou a primeira semana do novo ano com perdas diárias e semanais, conforme investidores mostraram preocupação com a iminência de aumentos nas taxas de juros e com o desdobramento de notícias sobre a Ômicron.
Os índices S&P 500 e Nasdaq fecharam em queda hoje, depois de o mais recente relatório de empregos nos EUA ressaltar receios de investidores de que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) elevará os juros de forma agressiva para combater a inflação.
Dados do governo mostraram que o mercado de trabalho dos EUA está em pleno emprego ou próximo dele, embora a geração líquida de vagas em dezembro tenha ficado bem abaixo do esperado, em meio à escassez de trabalhadores.
Na quarta-feira, a ata da reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de 14 e 15 de dezembro mostrou que as autoridades da instituição viram o mercado de trabalho como “muito apertado” e sinalizou que o Fed pode ter de aumentar as taxas de juros mais cedo do que o esperado para conter a inflação.
“A conclusão do investidor é que o mercado de trabalho continua apertado, apesar da decepção com o número da manchete”, disse Michael Arone, estrategista-chefe de investimentos da State Street Global Advisors em Boston. “Os investidores estão preocupados com o fato de o Fed ser mais agressivo (na política monetária) do que o esperado.”
O índice S&P 500 fechou hoje em queda de 0,41%, a 4.677,03 pontos. O Dow Jones teve variação negativa de 0,01%, a 36.231,66 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq Composite recuou 0,96%, a 14.935,90 pontos.
O S&P 500 caiu 1,87% na semana, o Dow Jones cedeu 0,29%, e o Nasdaq Composite despencou 4,53% – esta a pior marca desde o fim de fevereiro de 2021.
Dólar
O dólar interbancário fechou em queda hoje, tomando distância do nível psicológico de R$ 5,70 superado pela manhã, em meio a uma correção global de baixa na divisa norte-americana conforme o mercado tenta decifrar dados mistos de emprego nos Estados Unidos e seus impactos sobre o cenário de alta de juros por lá.
O recuo de hoje, porém, não impediu que o dólar completasse a primeira semana de negócios de 2022 em alta no Brasil.
A moeda negociada no mercado à vista caiu 0,85% nesta sexta-feira, a R$ 5,6318, menor patamar desde 30 de dezembro (R$ 5,5735).
Ainda assim, a cotação acumulou na semana ganho de 1,05%, após duas semanas consecutivas de perdas.
Na máxima da sessão, o dólar foi a R$ 5,7114, alta de 0,55%. Esse pico foi alcançado nas reações iniciais de investidores ao relatório de empregos dos Estados Unidos, que mostrou metade da geração de postos esperada, mas também queda na taxa de desemprego em dezembro e sinais de pressão nos salários, indicativo de que a inflação pode se manter alta – o que por sua vez levaria o banco central dos EUA a manter o plano de subida dos juros.
Juros mais altos nos EUA aumentam a atratividade do dólar ao mesmo tempo que prejudicam o cenário para ativos de países emergentes, caso da moeda brasileira.
“Vejo hoje como um ponto fora da curva nos mercados de câmbio no mundo e aqui também, já que fora o número da manchete todos os demais dados (de emprego nos EUA) são fortes”, disse Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original.
O dólar tanto no Brasil como no mundo veio de dias de firmes altas, patrocinadas pelas expectativas de aperto monetário nos EUA e, aqui, por renovadas dúvidas sobre a trajetória das contas públicas. O mercado, portanto, em parte realizou lucros.
“Nas próximas semanas teremos novos eventos importantes, mas não vejo neles potencial para tirar a força do dólar”, disse Caruso, citando as audiências no Congresso norte-americano para avaliar a renomeação do chefe do banco central dos EUA, Jerome Powell; a indicação de sua vice, Lael Brainard; e dados de inflação ao consumidor no país em dezembro.
As duas quedas seguidas do dólar ao fim desta semana deixaram a moeda mais próxima de sua média móvel linear de 50 dias (R$ 5,6186), que serve como uma zona de resistência técnica – portanto, um limitador a novas baixas. Pela análise das Bandas de Bollinger – uma outra ferramenta de análise técnica –, o dólar nos patamares atuais está mais próximo da linha inferior (hoje em R$ 5,5945), abaixo da qual a moeda teria dificuldades para cair.
O índice de força relativa de 14 dias – um indicativo de quão fora de padrão estão as variações de preço – para o dólar está em 48,17, indicando certa neutralidade, já que está no meio do caminho entre as marcas de 70 (que apontaria uma moeda que subiu muito rapidamente em pouco tempo, portanto, com espaço para recuar) e 30 (queda muito acelerada em curto período, aumentando chances de ajuste para cima).
Em relatório, a Santander Asset Management decidiu manter avaliação neutra para o real.
“O diferencial de juros em relação às economias desenvolvidas e o ciclo de commodities favorecem a alocação em moeda brasileira. Por outro lado, as incertezas de natureza fiscal e o potencial aumento de juros no exterior geram efeito contrário”, disseram. A casa estima que o dólar feche 2022 em R$ 5,60, próximo dos patamares atuais.