Os ativos brasileiros ainda devem ser penalizados neste ano, como é típico em período eleitoral, mas algumas sinalizações iniciais de presidenciáveis sobre âncora fiscal e preços já descontados podem limitar os sobressaltos ao longo de 2022, avaliou nesta quinta-feira o economista da gestora Rio Bravo João Leal.
Mesmo fatores externos, sobretudo o provável início do aperto monetário nos Estados Unidos em meio a uma inflação elevada, parecem estar mais no preço, amenizando, assim, eventual impacto adicional sobre os mercados domésticos, disse o economista.
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Para Leal, o foco dos investidores hoje está nas indicações de como o futuro presidente da República lidará com uma “dura” restrição orçamentária em 2023.
O economista disse que acenos feitos na véspera pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a potenciais aliados de campos políticos tradicionalmente rivais enviaram um sinal positivo ao mercado sobre gestão mais responsável das contas públicas, mas que ainda há informações “desencontradas” acerca do tema vindas de economistas próximos ao petista.
“Sim, talvez a situação das contas públicas no ano que vem… haja uma gestão de responsabilidade fiscal, com Lula trazendo Geraldo (Alckmin) como vice-presidente. Talvez a gente tenha, se Lula eleito, um governo mais pragmático, mais perto do que foi 2002.”
Lula tem se mantido como líder nas mais recentes pesquisas de intenção de votos para a Presidência da República, seguido pelo atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, que está agora às voltas com demandas de categorias do funcionalismo público por reajuste salarial. O ministro da Economia, Paulo Guedes, mantém a defesa de que não seja concedido reajuste salarial a nenhuma categoria do funcionalismo.
“Nosso cenário-base é de um mercado que ainda vai operar sob tensão eleitoral no ano. Pode ser, contudo, que essa tensão seja historicamente menor, uma vez que as sinalizações dos presidenciáveis confirmem uma gestão de responsabilidade fiscal”, afirmou Leal.
Nesse contexto, com juros mais altos e boa parte das más notícias precificadas, a Rio Bravo até vê uma taxa de câmbio levemente mais apreciada ao fim de 2022, com o dólar valendo R$ 5,50, ante R$ 5,5735 do fim de 2021.
O dólar à vista caía a R$ 5,42 nesta quinta-feira, depois de forte baixa na véspera.
“A subida do juro no Brasil deve criar oportunidades na renda fixa, enquanto a cautela nos ativos de renda variável deve prevalecer, apesar de os níveis atuais de preços mostrarem ativos baratos”, disse a Rio Bravo em relatório de consenso macroeconômico.