Duas estratégias predominantes no mundo dos investimentos em ações são value e growth, que se referem a investimentos de valor e de crescimento.
Enquanto a primeira se preocupa com a análise fundamentalista das ações, a fim de encontrar uma defasagem entre o seu preço atual e o preço intrínseco, a segunda busca ações corretamente precificadas, mas com potencial de crescimento futuro.
Analistas consultados pela Forbes explicam como operar dentro dessas duas estratégias e quais as vantagens e desvantagens de cada uma.
O que é value investing
A estratégia de investimento de valor, ou “value investing”, foi popularizada por Warren Buffett, bilionário dono do conglomerado de investimentos Berkshire Hathaway. Segundo o magnata, “Preço é o que você paga. Valor é o que você leva”.
Assim, o principal objetivo do investimento de valor é encontrar ações de empresas sólidas, com bons indicadores de desempenho, mas que estão subprecificadas. “Os preços de mercado não refletem a lucratividade corrente da empresa. A ideia é pagar barato por negócios que valem mais do que o valor de mercado deles”, resume Thiago Godoy, head de educação financeira da Xpeed.
Existem diversos fatores que podem levar a essa subprecificação, como influências externas do mercado como um todo, períodos cíclicos de baixa, mudanças políticas e até notícias negativas sobre a empresa. Porém, essas interferências não chegam a alterar as suas perspectivas de longo prazo.
Assim, os investidores aproveitam a oportunidade para adquirir essas ações a um preço descontado, já pensando no rendimento futuro. É também por isso que o investimento de valor é considerado uma estratégia de longo prazo.
Um exemplo de uma ação considerada subprecificada pelo mercado é a Petrobras PN (PETR4), que foi incluída na carteira recomendada de janeiro da XP justamente por esse motivo. “Enxergamos a empresa como muito bem posicionada e barata para o setor e sua performance”, afirmaram os analistas em relatório.
Porém, ao operar seguindo essa estratégia, é preciso tomar cuidado para não cair nas “value traps”, ou armadilhas de valor.
“[Essas são] empresas com números muito bons, preços muito baratos, mas sem perspectivas de correção. Em outras palavras, a empresa parece barata, mas na verdade ela está nesse preço por um bom motivo. Questões de governança e concorrência são motivos comuns”, explica Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama.
Para evitar cair nessas armadilhas, os analistas recomendam que o investidor faça uma pesquisa aprofundada para identificar as razões por trás dos preços baixos.
Se for uma razão estrutural, como o surgimento de uma tecnologia que pode revolucionar o mercado no qual aquela empresa está inserida, o preço baixo pode ser justificado.
O que é growth investing
Já o investimento de crescimento, ou “growth investing”, se preocupa com as ações que estão precificadas corretamente, mas que apresentam potencial de gerar grandes rendimentos no futuro. Em geral, essas empresas atuam em mercados em expansão, onde há uma demanda cada vez maior de seus serviços.
“Essas são as ações de companhias que não têm rentabilidade satisfatória hoje, mas cujos negócios estão crescendo aceleradamente”, diz Soares. “A ideia aqui é comprar a ação da empresa hoje e aguardar um avanço muito expressivo dentro de alguns anos. Depois disso, a empresa deverá já ter números satisfatórios em relação ao investimento feito no passado.”
Esse é o caso de empresas do setor de tecnologia, que muitas vezes não apresentam lucros expressivos, pois reinvestem o caixa no próprio crescimento. Inclusive, esse é um dos motivos que leva grandes nomes de tecnologia do exterior, como Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google, a não pagar dividendos a seus acionistas.
Enquanto ações de valor costumam abarcar empresas maiores e mais estabelecidas, ações de crescimento podem envolver também small, mid e large-caps. Esses papéis retêm o seu status de crescimento até que os analistas considerem que eles já atingiram o seu potencial máximo.
Outra diferença é que, nesse caso, o preço das ações não é necessariamente baixo. O que importa é apenas a perspectiva de crescimento futuro.
A fim de identificar quais são as ações de crescimento, Godoy recomenda que o investidor faça uma análise profunda tanto sobre a empresa, quanto sobre o seu setor: “Analise a perspectiva do mercado, o percentual de participação dessa companhia no mercado, e a sua taxa de crescimento.”
“[É preciso] saber identificar, por exemplo, que uma empresa com uma despesa maior que a receita e sem resultados positivos provavelmente não vai ter crescimento”, conclui ele.
Qual estratégia escolher?
Os analistas explicam que, de maneira geral, o investimento de valor é mais indicado para investidores conservadores, que podem se sentir mais confortáveis com uma empresa que possui um patrimônio robusto.
O investimento de crescimento, por sua vez, visa lucros maiores, com riscos diretamente proporcionais. Por isso, ele é mais indicado para investidores arrojados.
Ainda assim, cada estratégia conta com vantagens e desvantagens próprias. No caso da estratégia de valor, é possível identificar um lastro real para o investimento, e o investidor tem a garantia de que adquiriu o ativo por um bom preço, mas é difícil encontrar boas opções.
Já na estratégia de crescimento, a principal vantagem é o alto potencial de apreciação da ação. Por outro lado, se a tese não se materializar, não há lastro que justifique o investimento, o que implica em um potencial grande de queda. Outra desvantagem é a baixa taxa de sucesso de investimentos desse tipo.
É possível, ainda, aplicar as duas estratégias em uma mesma carteira. “O que a pessoa pode fazer é testar, começar aos poucos, e também aprender a fazer análise. Investir nessa aprendizagem. E claro, ter a clareza que ela pode errar, né? Mas errar faz parte do processo, especialmente quando se trata de renda variável”, conclui Godoy.