O Ibovespa fechou hoje (3) estável com leve variação de -0,01%, a 115.165 pontos, sustentado pelo fluxo de capital estrangeiro e pelo aumento dos preços das commodities. Após abrir em alta, a Bolsa virou para o vermelho na tarde desta quinta acompanhando Wall Street, que opera sob pressão do conflito na Ucrânia.
A interrupção dos fluxos globais de matérias-primas devido ao conflito entre Moscou e Kiev elevou os preços do gás natural, carvão, alumínio e petróleo para máximas recordes – a Rússia é uma das maiores exportadoras de commodities.
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Os preços do trigo acompanharam o movimento de alta e subiram 7,08% hoje – a commodity acumula alta de mais de 30% nas últimas duas semanas. Juntas, Rússia e Ucrânia controlam juntas cerca de 29% do mercado global de exportação de trigo, de acordo com dados recentes do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).
O barril de petróleo Brent ampliou os ganhos e chegou a US$ 120 na madrugada, maior pico em quase uma década, após uma nova rodada de sanções de Washington que visam o setor de refino russo. Além disso, os estoques dos EUA, o maior consumidor de petróleo do mundo, atingiram mínimas de vários anos.
A cotação da commodity inverteu o sentido e começou a cair no pregão de hoje após correr pelo mercado uma informação não confirmada de que os EUA estariam prestes a fechar um acordo nuclear com o Irã. O movimento arrefeceu os ganhos da Petrobras (PETR3, PETR4), que fechou com queda de 1,24%.
“A Petrobras hoje segura o índice por causa da diferença entre o preço da gasolina nacional e o da internacional. O não reajuste vai causar uma queda nas ações da Petrobras. Por causa disso, o mercado já precifica algo nessa linha”, analisa Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.
O alumínio atingiu US$ 3.741,00 a tonelada na Bolsa de Metais de Londres, enquanto o níquel subiu 8% e chegou ao maior patamar dos últimos 11 anos. Siderúrgicas brasileiras se beneficiaram do movimento: a CSN (CSNA3) fechou em alta de 4,72%, a Gerdau (GGBR4), de 4,28%, e a Usiminas (USIM5), de 3,64%.
A alta das commodities pode ajudar na recuperação da balança comercial brasileira, que registrou superávit no segundo mês do ano. Segundo o Ministério da Economia, o resultado de fevereiro foi de US$ 4,05 bilhões, o maior para o mês desde 2017 (e mais de 100% maior do que o registrado no mesmo mês de 2021).
No cenário corporativo, a privatização da Eletrobras (ELET3) avançou com documentos protocolados hoje pelo executivo. No entanto, ainda tramitam no Congresso projetos de lei para modernização do setor elétrico e a abertura do mercado livre de energia. Os papéis da empresa recuam 1,24%.
A Embraer é destaque negativo do pregão, com queda de 4%. A companhia suspendeu a execução de serviços de manutenção e de fornecimento de peças de reposição para aeronaves de clientes na Rússia e em algumas regiões na Ucrânia.
Os principais índices de Wall Street fecharam em queda hoje sob pressão das consequências econômicas do conflito na Europa, que tem alimentado temores de um agravamento da inflação (especialmente dos preços de energia e alimentos).
O índice Dow Jones recuou 0,29%, a 33.794 pontos. O S&P 500 cedeu 0,53%, a 4.363 pontos, e o Nasdaq perdeu 1,56%, a 13.537 pontos.
Papéis de crescimento, que incluem Alphabet Inc, Microsoft Corp, Meta Platforms, Amazon.com, Nvidia Corp e Tesla Inc, registraram quedas entre 0,4% e 2,3%.
O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, fez um novo discurso nesta tarde e alertou que a guerra na Ucrânia pode atingir a economia norte-americana por uma variedade de frentes – desde inflação até a redução de gastos governamentais.
“O que sabemos até agora é que os preços das commodities subiram significativamente, os preços da energia em particular. Isso vai afetar a economia dos EUA na forma de inflação mais alta, pelo menos no curto prazo”, disse ele.
“Além disso, podemos ver um declínio no sentimento pró-risco, então pode haver menos investimento. É possível ver as pessoas diminuindo os gastos. É difícil ver qual será o efeito tanto na oferta quanto na demanda”, completou.
O fluxo de moeda estrangeira no Brasil e a alta no preço das commodities pressionaram o dólar, que caiu 1,55%, a R$ 5,0260.
“São 11 pregões ininterruptos com grande entrada de capitais, com mais de R$ 70 bilhões de investidores estrangeiros. O dólar vem se fortalecendo frente às moedas mundiais, exceto ao real, o que é um ponto positivo para o país”, avalia Costa, da Fatorial Investimentos.
“O Brasil antecipou o movimento de juros mais rápido que outros países. Além disso, somos um grande exportador de commodities e nosso índice é pautado grande parte por mineração e petróleo”, conclui. (Com Reuters)