O Banco Central avalia que o choque de oferta provocado pela guerra na Ucrânia pode pressionar ainda mais a inflação, ressaltando que está pronto para ajustar a intensidade do aperto monetário caso o cenário evolua desfavoravelmente, embora mantenha a previsão de mais um aumento de um ponto percentual na Selic em maio, conforme ata do Comitê de Política Monetária publicada hoje.
Segundo a autoridade monetária, o Copom optou por uma trajetória de juros mais tempestiva do que a embutida em seus cenários, diante dessa conjuntura.
“O conflito na Europa adiciona ainda mais incerteza e volatilidade ao cenário prospectivo, e impõe um choque de oferta importante em diversas commodities”, afirmou, ressaltando que a boa prática recomenda que a política monetária reaja aos impactos secundários desse tipo de choque.
O documento apontou que a reorganização das cadeias de produção globais ganhou novo impulso com o conflito na Europa e as sanções aplicadas à Rússia.
“Na visão do Comitê, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens”.
Na semana passada, o BC aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, ao patamar de 11,75% ao ano, reduzindo a intensidade do aperto monetário após três altas consecutivas de 1,5 ponto.
“O Comitê reconhece o cenário desafiador para a convergência da inflação para suas metas e reforça que estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o cenário evolua desfavoravelmente”, disse na ata.
O documento ressalta que o ambiente externo se deteriorou substancialmente e que o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando no mundo.
Ao tomar a decisão na última semana, o BC informou que deverá fazer novo ajuste de um ponto na Selic na próxima reunião do Copom, em maio, buscando avançar “significativamente em território ainda mais contracionista” na tentativa de domar a inflação. Essas posições foram repetidas na ata divulgada hoje.
CENÁRIO ALTERNATIVO
Diante dessa volatilidade, o BC decidiu trabalhar com um cenário alternativo para a inflação que considera preços de contratos futuros de petróleo e projeções de agências do setor, que preveem convergência a valores mais baixos para o insumo ao fim de 2022.
“O Copom concluiu então que seria adequado manter a hipótese usual no cenário de referência, mas adotar como mais provável um cenário com hipótese alternativa para a trajetória de preços do petróleo até o fim de 2022”, afirmou.
De acordo com o BC, levando em consideração o maior peso atribuído ao cenário com hipótese alternativa para o petróleo, as projeções de inflação estão acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta para 2022 e ao redor da meta para 2023. Reforçou ainda que o horizonte relevante para a política monetária inclui este ano e “principalmente” 2023.
O documento afirma que sua avaliação levou em conta um incremento de pelo menos 0,75 ponto percentual no ciclo de juros projetado em todo o horizonte relevante. Segundo o BC, essa trajetória implica em patamar significativamente contracionista, com impacto principalmente sobre a inflação de 2023, movimento compatível com os efeitos do atual choque de oferta após o conflito na Europa.
A autoridade monetária ressaltou que se as avaliações para a tomada de decisão se mostrarem mais próximas do cenário de referência, não o alternativo, o ciclo de aperto deverá ser ainda mais contracionista.
Para o BC, a inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e mais persistente do que o antecipado. O documento aponta que a alta de preços de bens industriais não arrefeceu e a inflação de serviços acelerou ainda mais.
O cenário de referência considera ainda uma aceleração nos preços administrados, com projeção de 9,5% em 2022, ante 6,6% na ata da reunião anterior.
O Comitê reforçou que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas para a inflação.