O Ibovespa se descolou de Wall Street e fechou hoje (23) em leve alta de 0,16%, a 117.457 pontos. O forte peso das commodities na Bolsa brasileira e a entrada de dólar no país contrabalançaram as perdas internacionais e levaram o índice ao sexto pregão consecutivo de alta.
O avanço dos preços de matérias-primas aumentou o fluxo de capital estrangeiro, que já vem se mantendo em patamar elevado devido aos sucessivos aumentos da taxa Selic.
Como resultado desse movimento, o dólar se manteve em queda e fechou em baixa 1,43%, a R$ 4,8438. A moeda operou abaixo dos R$ 4,90 durante a maior parte do pregão, seu sexto seguido de desvalorização.
Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), chamou a atenção para o fato de a moeda brasileira ter fechado a véspera (22) numa máxima em nove meses frente ao dólar.
“Naquela época (junho passado), o rali veio quando os mercados se concentraram na grande desconexão entre os preços altíssimos das commodities e um real muito fraco”, afirmou em post no Twitter. “É o mesmo agora, só que supercarregado”, acrescentou, dizendo enxergar os 4,50 reais por dólar como patamar “justo” para a taxa de câmbio.
O real está na liderança global de valorização acumulada no ano. O patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 11,75%, serve como impulso adicional à moeda local. Até agora em 2022, o dólar cai quase 13% ante o real.
O câmbio pesou sobre ações de empresas exportadoras como Vale (VALE3), Suzano (SUZB3), JBS (JBSS3), e BRF (BRFS3), que registraram quedas de 0,22%, 2,38%, 1,60% e 2,83%, respectivamente.
“Por mais que o minério de ferro esteja em um dia de alta, a Vale acaba sofrendo os reflexos do dólar mais baixo. Durante os últimos meses, o mercado pagou um prêmio pelo retorno a mais gerado pelo câmbio. Pelo visto, a hora desse desconto chegou, e o pregão de hoje mostra isso no preço das exportadoras”, diz Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
Os destaques positivos do dia ficaram por conta da economia local. O Grupo Soma (SOMA3) teve alta de 7,15%, a Renner (LREN3) subiu 5,54% e a CVC (CVCB3) avançou 4,52%.
A alta do petróleo impulsionou a Petrobras (PETR3, PETR4), que subiu 0,97% e 1,36%, respectivamente. As petroleiras privadas acompanharam o movimento: PetroRio (PRIO3) avançou 2,94% e 3R Petroleum (RRRP3) ganhou 2,95%.
A sessão de hoje foi marcada por um cenário externo negativo. As negociações de paz entre Rússia e Ucrânia seguem indefinidas, e a possibilidade de países europeus imporem restrições à compra do petróleo russo desanimou os mercados.
Em Wall Street, investidores seguem atentos às sinalizações de autoridades do Federal Reserve, banco central dos EUA, depois que alguns membros de seu comitê de definição da política monetária defenderam nesta semana doses maiores de aumento dos juros. Na semana passada, o Fed elevou os custos dos empréstimos em 0,25 ponto percentual, a primeira alta desde 2018.
O Dow Jones fechou em baixa de 1,29% a 34.358 pontos; o S&P 500 perdeu 1,23%, a 4.456 pontos; e o Nasdaq recuou 1,32%, a 13.922 pontos. (Com Reuters)