Se você acompanha o noticiário do mercado, certamente viu que, no dia (27), a Bolsa de Valores fechou em 109.349 pontos, uma leve alta de 1,05% que interrompe, finalmente, a sequência de sete pregões em baixa. No dia anterior, a Bolsa havia encerrado em queda de 2,23%.
A última vez em que tivemos um cenário com tantas quedas consecutivas foi em 2016. E as razões para este desempenho de agora, similar ao de 2016, são fatores de ordem macroeconômica que resvalam nos resultados das empresas.
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Obviamente, não seria possível separar as coisas. Afinal, o contexto macroeconômico e as questões políticas internas e externas serão sempre o combustível do complexo ecossistema ao qual o setor financeiro pertence.
Apesar de a Bolsa ter apresentado essa pequena recuperação ontem, até o momento em que escrevo este artigo a semana apresenta queda acumulada de 1,56%.
Quero me ater, portanto, a essa sequência de baixas. Temos aí alguns pontos relevantes que você deve compreender para evitar tomar decisões precipitadas que podem trazer prejuízo aos seus investimentos.
Por que nossa Bolsa teve tantas quedas nos últimos dias?
As quedas da Bolsa brasileira são consequência de uma combinação de fatores internos e externos.
As bolsas internacionais caíram ante a preocupação com novo lockdown na China, cujos reflexos colocam toda a economia mundial em alerta, pressionando para baixo as projeções de crescimento econômico global.
Além disso, a divulgação de dados de inflação acima das expectativas nos Estados Unidos e a perspectiva sinalizada pelo Federal Reserve, o banco central dos EUA, de aumento da taxa de juros em meio ponto percentual foram agravantes de peso. Tudo isso levou à movimentação dos investidores em busca de proteção.
Como você certamente já sabe, em momentos de incerteza, prevalece no comportamento do investidor a aversão ao risco. Resultado? O dólar sobe e as bolsas caem.
Essa aversão ao risco, gerada pelas incertezas quanto à inflação global, está ocasionando aqui no Brasil uma reversão do fluxo de capital estrangeiro que vínhamos vendo desde o final de 2021, quando a alta das commodities e a elevação das nossas taxas de juros tornaram o mercado brasileiro extremamente atrativo para o investidor internacional.
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Por mais que nossa Bolsa continue descontada e com ótimas oportunidades, as tensões no cenário macroeconômico mundial vêm crescendo, levando o investidor a buscar abrigo em moedas fortes e economias mais consolidadas.
Internamente, tivemos a divulgação, pelo Banco Santander (SANB11), dos resultados do primeiro trimestre. Os números vieram abaixo do esperado e a análise do mercado quanto aos índices de inadimplência acabaram por derrubar as ações do banco, influenciando todos os papéis do segmento, e causando uma queda generalizada das ações do setor.
O setor bancário é um dos maiores da Bolsa: representa quase 20% da carteira teórica do Ibovespa. Sendo assim, qualquer sinalização que o mercado entenda como ruim para uma instituição bancária exerce influência nos demais players do setor e na Bolsa como um todo.
Ciclos de alta e baixa sempre irão se suceder
Os ciclos de alta e baixa fazem parte da dinâmica do mercado. Sempre foi assim e sempre será. Em análise técnica, usamos muito a Teoria das Ondas de Elliott para identificar padrões nos movimentos das ações.
Apesar de seus fundamentos técnicos e matemáticos, o ponto de partida para o desenvolvimento dessa teoria foi a observação do comportamento humano e sua tendência natural de repetir padrões de reação frente a situações similares.
Claro que, a partir disso, Ralph Nelson Elliott desenvolveu estudos altamente complexos sobre os ciclos financeiros até chegar à sua Teoria das Ondas, entretanto, meu objetivo não é entrar propriamente neste tema. Há vasto material na internet sobre as ondas de Elliott e eu sugiro que você leia a respeito, pois é um assunto realmente fascinante.
O que pretendo aqui, ao falar desse tema, é mostrar que grandes eventos econômicos, como guerras, epidemias, crises políticas ou financeiras, sempre vão acontecer e a sucessão desses eventos leva a reações do mercado que refletem padrões aprendidos anteriormente em situações análogas.
Uma rápida olhada nos gráficos da Bolsa de Valores em variados períodos de eleições presidenciais, por exemplo, corrobora o que estou dizendo. Pesquise e depois me conte!
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Compreender os ciclos e as tendências decorrentes deles não vai tornar você um especialista em finanças, mas irá ajudar a conter a sua ansiedade e a entender que tentar acompanhar todos os movimentos e alterar sua carteira a cada mudança de ciclo só irá fazer você perder dinheiro.
Por isso eu insisto tanto na importância de você estruturar sua carteira com várias categorias de ativos, em proporção equivalente ao dinheiro de que você necessita para suas metas, levando em conta também os prazos que pretende manter em cada aplicação financeira. Essa, sim, é a principal medida que você precisa tomar para ter tranquilidade quanto aos seus investimentos, em qualquer cenário.
Isso não significa que você não deva acompanhar o noticiário econômico. Entender os acontecimentos e as análises é útil para que você não decida apenas acompanhando a manada.
Você não precisa adivinhar os rumos do mercado
Com todos os fatores que impactam a pauta global, o mercado financeiro ainda vai chacoalhar bastante antes de começar a reversão do atual ciclo.
Sendo assim, em vez de ficar movimentando o seu dinheiro no ritmo dos acontecimentos, tenha um bom planejamento, aceite que você não vai ganhar em todas as pontas o tempo todo e que essa é a magia da diversificação mantendo o equilíbrio de sua carteira.
Se você tiver uma carteira que considera diversificada e, dentro de um determinado contexto de alta ou baixa, estiver com prejuízo em todos eles ou com lucro em todos eles, provavelmente não há diversificação nessa carteira, mas, sim, pulverização.
Estude sobre cada ativo em que pretende investir. Conhecimento é poder. Mais importante do que tentar adivinhar para onde vai o mercado é saber definir para onde você deseja ir. Dessa forma, terá mais facilidade para encontrar alternativas, seja qual for o cenário.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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