As taxas de juros futuros na B3 disparavam hoje (8), sobretudo no chamado miolo da curva, após o IPCA bem mais salgado que o esperado colocar em dúvida um cenário de fim do ciclo de altas da Selic entendido pelo mercado financeiro a partir das últimas comunicações do Banco Central.
Os vencimentos médios sentem mais a pressão uma vez que seriam os maiores beneficiários de uma parada da alta da Selic. Com o ciclo de alta chegando ao fim, a expectativa seria de queda em algum momento a partir de 2023, movimento que reduziria os prêmios no próximo ano e em 2024.
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A inflação deu o maior salto em 28 anos para um mês de março, sob o impacto da alta dos combustíveis e com disseminação generalizada por vários grupos de produtos e serviços, e atingiu 11,30% em 12 meses, acima do esperado pelo mercado e mais de três vezes a meta do governo para o ano. A taxa mensal de março foi de 1,62% –acima das expectativas de analistas, que previam alta de 1,30% no mês e de 10,98% em 12 meses.
Por alguns cálculos, a surpresa com o IPCA –a diferença entre a taxa real e a taxa esperada– foi das maiores em décadas. De acordo com a LCA, a inflação pelo IPCA nunca esteve tão espalhada, com a parcela de produtos e serviços que tiveram aumento de preços em março voltando a bater recorde a 76,1%.
Na curva de DI, o mercado passou a colocar 18% de chance de aumento de 125 pontos-base na Selic em maio. Até a véspera, havia inclusive apostas num aumento de apenas 75 pontos-base. O cenário central, contudo, segue de elevação de 100 pontos-base no próximo mês.
A dúvida mesmo é se o BC consegue finalizar o ciclo já em maio. A taxa de janeiro de 2024 –um indicativo dos rumos da Selic entre hoje e o fim de 2023– chegou a superar 12,4% ao ano, cerca de 60 pontos-base acima das mínimas recentes. O movimento sugere expectativa de que os juros tenham de permanecer mais altos por mais tempo.
“Existe boa correlação entre ‘pace’ (ritmo de variação) da Selic e surpresa do IPCA nos últimos 12 meses. Olhando a relação, se o BC fosse fazer algo era acelerar o ‘pace’. Não precisa levar ao pé da letra, mas parar de subir em maio que ficou bem difícil”, disse Alessandro del Drago, gestor na ASA Investments.
Um analista de um banco estrangeiro ponderou que a taxa de câmbio mais apreciada e a nova bandeira tarifária (que mudou de vermelha para verde) devem ajudar a amenizar o número geral do índice cheio. A questão, segundo ele, é a dimensão do repasse aos preços, e, nesse caso, o mais prudente seria o BC não encomendar movimentos específicos nos juros para as reuniões posteriores e, em vez disso, observar.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, a leitura preliminar dos dados do IPCA reforça a perspectiva de uma alta dos juros também em junho.
“Ou seja, teremos uma alta de 100 pontos-base em maio, fazendo a Selic subir para 12,75%, e mais outra de pelo menos 50 pontos-base em junho, o que fará a taxa chegar em 13,25%”, afirmou.