O ciclo de aperto monetário em curso nos Estados Unidos vai enxugar a disponibilidade de recursos para o Brasil e exigir que o país ofereça retornos maiores para atrair investidores, avalia o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, argumentando que esse cenário demanda uma aceleração das privatizações, em especial da Eletrobras.
Em entrevista à Reuters, Mac Cord reconheceu que a chegada das férias de verão no hemisfério norte pode diminuir *nos próximos meses* o apelo da operação junto a investidores internacionais, mas frisou que a principal preocupação do governo é com o aperto dos juros norte-americanos.
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“O mais preocupante é essa curva de aumento dos juros americanos. Cada meio por cento que eles aumentam, isso drena muito dinheiro, dá uma enxugada boa de liquidez. Então a corrida contra o tempo é por isso”, afirmou.
No início deste mês, o banco central dos EUA elevou sua taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, maior aumento em 22 anos, e indicou novos apertos à frente para enfrentar uma inflação alta e persistente. As próximas decisões de política monetária do Federal Reserve estão previstas para 15 de junho e 27 de julho.
“O quanto antes”
Na terça-feira, o CEO da Eletrobras, Rodrigo Limp, afirmou que a empresa quer fazer a operação “o quanto antes”, possivelmente em junho.
Aposta mais audaciosa do até agora tímido cardápio de privatizações do governo Jair Bolsonaro, a operação da Eletrobras estava sendo planejada para maio, com a expectativa de que a análise do TCU seria encerrada em abril, o que acabou não ocorrendo em meio a questionamentos sobre o potencial valor da transação.
Mac Cord também saiu em defesa da privatização da Petrobras enquanto o petróleo ainda tem relevância global significativa, embora ressalte que sua secretaria não recebeu comando formal para estudar a operação após indicação de Adolfo Sachsida ao Ministério de Minas e Energia.
O secretário esteve em reuniões na terça-feira para discutir o tema da Eletrobras com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o chefe da pasta de Minas e Energia.
Ao dizer que Sachsida tem pensamento econômico “extraordinário” e 99% alinhado ao seu, Mac Cord ponderou que o processo de capitalização da Eletrobras depende pouco da atuação do novo ministro, estando agora nas mãos do TCU (Tribunal de Contas da União).
O governo espera que o TCU dê a aprovação à privatização da estatal ainda nesta semana em julgamento programado para ser retomado nesta quarta-feira.
Mac Cord ressaltou que a alta de juros no Brasil também contribui para um cenário de menor liquidez.
“O dinheiro sobrou bastante nos últimos anos porque os juros (domésticos) despencaram, então os investidores começaram a procurar onde conseguem achar retorno. Agora, com os juros subindo, esse dinheiro vai sendo enxugado, vai sendo canalizado para a renda fixa de novo, principalmente para Treasuries (títulos de dívida pública dos Estados Unidos)”, disse.
“A gente quer que o dinheiro venha para cá, então tem que acelerar. Cada vez que tem menos dinheiro você precisa oferecer mais retorno. Hoje ainda estamos em cenário positivo e identificamos excesso de liquidez”, completou, ressaltando que uma demora na venda dos ativos pode inviabilizar as operações.
Apesar do cenário mais restritivo à frente, o secretário disse que a alta de juros no Brasil é conjuntural e que investidores que aplicam em projetos ligados a privatizações e concessões fazem análises de longo prazo. Mac Cord avalia que o país está em melhores condições com a aprovação de marcos legais nos últimos anos para estimular investimentos privados.
No cargo desde agosto de 2020, após o então secretário Salim Mattar pedir demissão fazendo reclamações sobre a demora na venda de ativos da União, Mac Cord afirmou que o governo agora está pronto para a privatização de uma lista de empresas públicas, que podem ir à venda ainda neste ano.
Segundo ele, além da Eletrobras, o governo está muito próximo de ofertar ao setor privado a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de Belo Horizonte, a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), a Ceasa Minas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais) e os portos de São Sebastião e de Santos (ambos em São Paulo).
IMÓVEIS
Apesar de Guedes ter mencionado algumas vezes ao longo do governo que a União tem mais de 1 trilhão de reais em imóveis, em defesa da venda desses ativos, o secretário disse que o governo tem hoje cerca de 100 bilhões reais que de fato são passíveis de venda.
Na tentativa de fazer essa agenda decolar, o governo lançou um programa para que imóveis e propriedades da União sejam reunidos em fundos imobiliários, que seriam negociados na bolsa de valores de São Paulo. A ideia é ampliar a liquidez desses ativos por meio da negociação de cotas dos fundos.
De acordo com o secretário, cada fundo deve reunir ativos com valor total de até 500 milhões de reais. A implementação do programa depende de validação do TCU, mas o governo já fez sondagens no mercado.
“Nas próximas semanas, a expectativa é que a gente lance os quatro primeiros fundos”, disse.
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