O agronegócio é um dos setores que mais cresce na economia brasileira: mais de 27% do PIB (Produto Interno Bruto) de 2021 veio das companhias do segmento. Para investir nesse mercado, é possível optar por diferentes produtos e ativos de renda variável e fixa, que devem ser avaliados de acordo com riscos locais e globais.
Afinal, como ressalta Bruno Eiras, sócio-fundador da gestora Devant Asset, esse mercado não passa imune por eventos globais como a guerra na Ucrânia.
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“A escassez das commodities exportadas pelos países envolvidos no conflito trouxe um aumento relevante dos preços”, diz. “Por outro lado, manter ou elevar a produção local com uma quantidade limitada de fertilizantes, itens que importamos da Rússia e Ucrânia, se tornou um desafio.”
A perspectiva, porém, permanece positiva. Eiras explica que o agronegócio deve continuar a representar uma parcela considerável da economia nacional, e destaca que o setor vem conquistando novos recordes de produtividade e exportação, apesar da alta nos insumos.
Para os próximos anos, Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP Investimentos, ressalta que vale a pena acompanhar como o agronegócio irá se adaptar às discussões sobre sustentabilidade. “Esse é um setor que usa muita água para o cultivo e a criação de gado, por exemplo. Portanto, ele é chave para a transição verde.”
Já Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos, acrescenta que vale a pena destinar parte da carteira de investimentos ao agronegócio. “É uma forma de colocar dinheiro na economia real, além de promover a diversificação”, afirma.
A seguir, confira as principais formas de investir no agronegócio:
Ações de empresas
Na renda variável, uma das formas mais diretas de investir no agronegócio é através da aquisição de ações de empresas que atuam no ramo. Algumas das principais são Brasil Agro (AGRO3), Boa Safra (SOJA3), Kepler Weber (KEPL3), JBS (JBSS3), Raízen (RAIZ4), SLC Agrícola (SLCE3) e São Martinho (SMTO3).
Os especialistas destacam que, para realizar bons investimentos nessa modalidade, é aconselhável que o investidor esteja familiarizado com a empresa e seu setor de atuação, avalie o potencial de crescimento do negócio, e saiba interpretar indicadores como margem de lucro, Ebitda e endividamento.
A maior empresa do agronegócio listada na B3 é a JBS, líder global na produção de proteína animal. Ontem (12), a empresa anunciou que seu lucro líquido mostrou avanço anual de 151% no primeiro trimestre de 2022, chegando a R$ 5,1 bilhões, recorde para a companhia no período.
Fiagro
Para obter exposição a diferentes empresas do agronegócio através de uma única aplicação, é possível optar por fiagros (fundo de investimento das cadeias agroindustriais), produto criado no ano passado. Eles funcionam de forma semelhante aos fundos imobiliários, mas são direcionados aos negócios rurais.
Existem três tipos diferentes de fiagro: os que investem em ativos imobiliários rurais (Fiagro-FII), os que investem em empresas do setor (Fiagro-FIP), e os que investem em direitos creditórios da agroindústria (Fiagro-FIDC).
Para escolher o melhor, é necessário avaliar variáveis como o perfil do gestor e a rentabilidade, que tende a ser mais estável no caso do Fiagro-FIDC e mais volátil nos outros dois tipos. Atualmente, há mais de 20 fiagros que podem ser encontrados na B3.
Segundo Eiras, as principais vantagens desses fundos são “diversificação, pulverização e gestão profissional, realizada por um especialista no setor, que acompanhará o andamento daquela operação até o fim e prezar pela manutenção da saúde da carteira do fundo.”
Vale notar que, para pessoas físicas, os rendimentos do fiagro são isentos de tributação desde que o fundo tenha ao menos 50 cotistas, e o investidor pessoa física não detenha mais de 10% das cotas.
LCA (Letra de Crédito do Agronegócio)
Para investir no agronegócio contando com a segurança da renda fixa, é possível optar pelas LCAs. Elas são títulos emitidos por instituições financeiras, sejam públicas ou privadas, que direcionam seu capital a investimentos no setor de agronegócio.
Assim como outros produtos de renda fixa, as LCAs também podem ter rentabilidade prefixada, que permite conhecer qual será o rendimento obtido na hora do resgate; pós-fixada, em que o rendimento varia de acordo com um índice, como a Selic ou o CDI; e híbrida, que mistura os dois modelos.
Vale ressaltar, porém, que a exposição ao agronegócio através das LCAs é indireta, tendo em vista que esse investimento está sujeito ao risco da instituição emissora, e não do agronegócio em si.
Por outro lado, entre as principais vantagens que as LCAs trazem, estão a cobertura pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que restitui perdas de até R$ 250 mil, e a isenção do imposto de renda e IOF (imposto sobre operações financeiras).
CRA (Certificados de Recebíveis Agrícolas)
Os CRAs também são títulos de renda fixa. Diferentemente das LCAs, eles apresentam exposição direta às empresas do agronegócio, já que são lastreadas em recebíveis originados de financiamentos realizados entre essas empresas e terceiros.
Os certificados são emitidos por securitizadoras e distribuídos por instituições financeiras, e têm diferentes rentabilidades e prazos de vencimento. Eles também podem ser prefixados, pós-fixados ou híbridos.
Os CRAs são considerados mais arriscados do que as LCAs por exporem o investidor ao risco de a empresa agrícola não quitar os seus recebíveis – no caso das LCAs, por exemplo, o risco é de inadimplência do emissor. Em contrapartida, os CRAs costumam oferecer retornos superiores.
Esses títulos também são isentos de imposto de renda para pessoas físicas, mas não contam com a cobertura do FGC.
CPR (Cédula de Produtor Rural)
As CRPs são produtos da renda fixa que representam a promessa de entrega futura de um produto agropecuário. Elas podem ser emitidas por produtores rurais ou suas associações, incluindo cooperativas.
Atualmente, esse é o principal instrumento de financiamento da cadeia produtiva do agronegócio.
Existem duas modalidades distintas de CRP: a física, em que a liquidação acontece através da entrega do produto pelo emitente, fazendo com que o investidor fique encarregado de transformá-lo em dinheiro, e a financeira, em que a liquidação se dá através do pagamento em dinheiro ao investidor.
No caso das CPRs financeiras, o investidor recebe a remuneração baseada em juros pré-fixados em um prazo pré-estabelecido. A liquidez desses papéis é baixa, fazendo com que eles sejam, no geral, bem mais rentáveis do que outros produtos de renda fixa.
Por serem uma forma de incentivo, as CPRs são isentas de imposto de renda e de IOF, mas não são seguradas pelo FGC. É possível encontrar esses títulos em bancos como o Santander e o Banco do Brasil, embora poucas corretoras os disponibilizem.