O dólar saltava 1,5% contra o real hoje (05), acompanhando recuperação da moeda norte-americana no exterior conforme investidores digeriam a recente sinalização de política monetária do Federal Reserve.
No Brasil, o mercado avaliava a decisão do Banco Central de elevar a Selic em 1 ponto percentual, a 12,75%, e indicar ajuste de menor magnitude nos juros em seu próximo encontro. Analistas apontaram isso como possível suporte para o real, mas afirmaram que, por ora, o movimento do mercado internacional deve ditar a alta do dólar por aqui.
Às 10:37 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,49%, a 4,9750 reais na venda. A divisa chegou a saltar 1,80% mais cedo, a 4,9900 reais.
Na B3, às 10:37 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,05%, a 5,0135 reais.
O índice do dólar contra uma cesta de pares fortes subia 0,75% nesta manhã, negociado pouco abaixo de seus maiores níveis em 20 anos, recuperando fôlego depois de ser derrubado na véspera por indicações menos agressivas que o esperado do chair do banco central norte-americano, Jerome Powell.
Nesse contexto, moedas de países emergentes também cediam terreno nesta manhã depois de amplas valorizações registradas na quarta-feira.
Em coletiva de imprensa realizada após o Fed elevar sua taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, Powell afirmou na véspera que as autoridades de política monetária não estão considerando intensificar ainda mais a dose de aperto em suas próximas reuniões, para 0,75 ponto percentual, como temiam alguns agentes financeiros.
“A confirmação desse ‘não aumento’ de 0,75 ponto percentual fez os mercados reagirem muito bem” na quarta, disse à Reuters Kaue Franklin, especialista de renda variável da Aplix Investimentos, com o dólar despencando tanto lá fora quanto no Brasil –onde a baixa foi de 1,26%, a 4,9020 reais. “Essa alta de hoje é mais uma equalização por conta da distorção que aconteceu ontem.”
No geral, mesmo com a depreciação desta manhã, o cenário doméstico continua benigno para o real, afirmou Franklin, chamando a atenção para o patamar elevado da taxa Selic, que tende a atrair recursos para a renda fixa brasileira. “Não tem como uma alta tão acentuada no índice do dólar não impactar o real, mesmo que o ambiente local tivesse que fazer o dólar cair”, afirmou.
Depois de subir os juros básicos na véspera para 12,75%, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil disse ser provável uma extensão do ciclo de alta dos juros com um ajuste de menor magnitude na próxima reunião, em junho, sem especificar se esse seria o último aumento da taxa.
O comunicado foi visto por alguns participantes do mercado como menos duro do que o necessário em meio à inflação elevada, mas “não esperamos que a decisão do Copom afete negativamente o real, uma vez que os diferenciais de carrego (em relação ao dólar) são altos o suficiente”.
Franklin, da Aplix, disse enxergar potencial de desvalorização do dólar para faixas em torno de 4,40 a 4,30 reais –embora não no curtíssimo prazo–, citando continuação da tendência de queda observada no início deste ano. Entre janeiro e março, a moeda norte-americana caiu 14,5% frente ao real, pior desempenho trimestral desde meados de 2009.
No ano, o dólar acumula queda de mais de 10%, alimentada em boa parte pelo amplo diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.
Pelo lado dos riscos negativos, entre eles o ciclo de aperto monetário do Fed, que pode desencadear fluxos de saída de mercados emergentes, outros fatores poderiam minar a disparada do real até agora no ano, como a aproximação das eleições presidenciais e temores sobre a saúde fiscal do Brasil, disse Franklin, embora tenha dito que qualquer recuperação acentuada do dólar –se acontecer– deva ficar limitada à faixa de 5,15-5,17 reais.