Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar saiu das mínimas da sessão contra o real e passou a rondar a estabilidade nesta segunda-feira, apesar fraqueza da divisa norte-americana no exterior, com participantes do mercado chamando a atenção para distorções de liquidez devido a um feriado nos Estados Unidos e à aproximação da formação de uma importante taxa de câmbio no mercado local.
Às 12:11 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,03%, a 4,7370 reais na venda, depois de subir 0,14%, a 4,7450 reais, e cair 1%, para 4,6911 reais.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,15%, a 4,7380 reais.
Fernando Bergallo, diretor de operações da assessoria de câmbio FB Capital, disse que a recuperação da moeda norte-americana em relação às mínimas do dia contra o real “não vale como termômetro do (sentimento do) mercado” e é reflexo de “condições de liquidez muito específicas”, com Wall Street sem negócios nesta segunda-feira devido ao feriado do Memorial Day nos EUA.
A “briga” pela formação da taxa Ptax do fim de maio, a ser definida na terça-feira, também tende a elevar a volatilidade nos últimos pregões do mês no mercado local e pode explicar as oscilações do dólar desta segunda-feira, disse Bergallo.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições.
No exterior, ativos de risco tinham bom desempenho nesta manhã em meio à perspectiva de retomada gradual da atividade em cidades chinesas após semanas de duras medidas de restrição para combater a Covid-19. As autoridades do centro financeiro de Xangai, por exemplo, vão suspender um lockdown de dois meses a partir da meia noite de quarta-feira.
A notícia –um bom presságio para as cadeias de suprimentos globais, que têm sofrido com as interrupções na segunda maior economia do mundo– impulsionou as bolsas asiáticas e europeias nesta segunda-feira, e a melhora no apetite por risco parecia prejudicar o dólar.
Contra uma cesta de seis rivais fortes, a divisa norte-americana caía cerca de 0,3% no dia. Seu índice, negociado em torno da marca de 101,4, estava mais de 3% abaixo de um pico em duas décadas acima de 105 atingido em meados deste mês.
Em relatório publicado nesta segunda-feira, estrategistas do BTG Pactual atribuíram parte do movimento recente de arrefecimento do dólar no exterior a um fortalecimento do euro após sinalizações mais duras de autoridades de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e disseram que o real tem acompanhado esse movimento.
O euro subia 0,48% nesta segunda, a 1,0779 dólar.
Participantes do mercado também têm apontado uma moderação nas expectativas de aumentos de juros pelo Federal Reserve como um obstáculo para o dólar.
Apenas algumas semanas atrás, havia apostas de que o banco central dos EUA seria forçado a adotar aumento de juros de até 0,75 ponto percentual, mas, atualmente, a visão predominante é de que o Fed promoverá ajustes de 0,50 ponto em suas próximas duas reuniões e, depois, provavelmente fará uma desaceleração ou até pausa para avaliar o impacto do aperto na economia.
Desde março deste ano, o Fed já aumentou os custos dos empréstimos da maior economia do mundo em 0,75 ponto percentual. Juros mais altos por lá tendem a beneficiar a moeda norte-americana, já que tornam a segura renda fixa local mais atraente para o capital estrangeiro. Da mesma maneira, uma condução menos intensa do aumento das taxas pode levar ao redirecionamento de recursos dos EUA para países que oferecem juros maiores, caso do Brasil.
Com o desempenho desta manhã, o dólar ficava a caminho de marcar forte queda mensal em relação ao real, de 4,2%. Isso marcaria o quarto mês de desvalorização de 2022, ano em que a divisa norte-americana acumula baixa de 15%.
O dólar à vista fechou a última sessão, na sexta-feira, em queda de 0,49%, a 4,7384 reais na venda, menor valor desde 20 de abril (4,6186 reais).