Uma das principais maneiras de manter uma carteira de investimentos equilibrada é através do rebalanceamento periódico. Especialistas consultados pela Forbes argumentam que ao menos uma revisão semestral é recomendada, embora mudanças no cenário macroeconômico e na vida pessoal do investidor possam acelerar esse processo.
“Quando a inflação é alta, por exemplo, a única forma de mantermos o poder de compra é investindo bem o dinheiro”, comenta Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama. “Por isso, é preciso prestar atenção na composição da carteira e seguir um plano de investimentos.”
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Crises econômicas nacionais e internacionais são, notadamente, os momentos mais comuns para a revisão da carteira. José Francisco Cataldo, head da área de research da Ágora Investimentos, destaca que a observação do comportamento das ações nesses momentos é de extrema importância para a composição dos portfólios.
“Através disso, é possível avaliar as companhias que têm administração mais eficientes, tanto em termos operacionais, quanto em termos de gestão de capitais, e que devem entregar bons resultados a longo prazo”, explica.
Porém, o rebalanceamento também pode ser motivado por outros fatores. Casamento, a chegada de um filho ou a perda de um emprego são alguns deles. Fábio Baroni, sócio do AGF (Ações Garantem Futuro), explica que a revisão periódica pode ser necessária para seguir uma determinada estratégia, como receber renda passiva através de dividendos.
Baroni recomenda fazer o rebalanceamento da carteira todos os meses. Já Blanco sugere uma revisão semestral, citando que é necessário um período mínimo para avaliar o resultado dos ativos. A seguir, os especialistas dão mais dicas para fazer o rebalanceamento da carteira de investimentos:
Diversificar com eficiência
“Não coloque todos os ovos na mesma cesta” é um dos conselhos mais difundidos no mercado financeiro. Mas enquanto a diversificação é uma das principais maneiras de diluir o risco de uma carteira de investimentos, é importante que ela seja realizada com embasamento e propósito.
Como comenta Baroni, um erro comum entre investidores iniciantes é diversificar apenas para aumentar a exposição a mais empresas e segmentos. “O investidor que acaba por escolher esse caminho geralmente tende a pagar preços não tão atrativos apenas pelo fato de querer diversificar”, explica.
Ele acrescenta que muitos investidores também vendem posições apenas por acharem que estão demasiadamente concentrados, livrando-se de ações que talvez pudessem trazer bons resultados no futuro. Por isso, os especialistas sugerem ter uma estratégia bem definida, e entender a função de cada ativo dentro do portfólio.
Evitar movimentos bruscos
Quando o mercado parece estar em caos absoluto, os investidores costumam ser atraídos pela vontade de “tomar uma atitude”, aponta Antônio Sanches, analista de investimentos da Rico Investimentos. Esses movimentos bruscos, contudo, podem levar o investidor a tomar más decisões.
Realizar prejuízos, ao vender um ativo por um preço mais barato do que comprou, e pagar impostos desnecessariamente por conta dessas vendas são alguns dos riscos desses movimentos. Por isso, a recomendação dos especialistas é fazer mudanças graduais, evitando tomar decisões no calor da emoção.
“É claro que existem exceções. Se algum investimento em sua carteira perdeu seus fundamentos e não faz mais sentido mantê-lo, nesse caso um resgate total pode valer a pena”, acrescenta Sanches.
Aportar “dinheiro novo”
Ao invés de vender ativos para rebalancear os investimentos, os especialistas recomendam utilizar “dinheiro novo”. Ou seja, aportar um dinheiro reservado mensalmente para reequilibrar as posições e que também pode vir de dividendos e JCP (juros sobre capital próprio) distribuídos pelas empresas, por exemplo.
A vantagem de optar por essa estratégia é minimizar as movimentações e manter os ativos com o melhor desempenho “intactos”. Essa também é uma boa forma de evitar pagar impostos ou taxas com vendas desnecessárias.
Utilizar limites de tolerância
Existem duas abordagens mais comuns para o rebalanceamento do portfólio de investimentos. A primeira, já citada anteriormente, é baseada no tempo, em que o investidor adota uma frequência para fazer isso, como trimestralmente ou anualmente. Já a segunda é baseada em limites de tolerância.
Nesse caso, o investidor reequilibra uma classe de ativos toda vez que a sua fatia desvia de uma alocação pré-determinada. Assim, se ele adotar um limite de tolerância de 20% e destinar 10% da sua carteira a empresas de tecnologia, ele terá que rebalancear toda vez que essa classe de ativos ficar abaixo de 8% ou acima de 12%.
A vantagem de utilizar essa abordagem é que, assim como na abordagem do tempo, ela diminui a influência das emoções na tomada de decisões. Além disso, ela leva em consideração o desempenho real de uma determinada classe de ativos, não um período arbitrário de tempo.
Conhecer o perfil de risco
Os especialistas destacam que, para tomar qualquer decisão em relação à composição da carteira de investimentos, o investidor deve estar plenamente ciente da sua tolerância ao risco.
“Um dos erros mais comuns é a exposição ao risco indevida”, diz Blanco. “Podendo ser num nível conservador demais, que não preserva o poder de compra do investidor, ou excessivamente arrojado, que faz ele incorrer em perdas permanentes de capital.”
Em momentos de baixa no mercado, como o atual, Cataldo recomenda vender o excedente das aplicações em renda variável e reaplicar em outras modalidades, como renda fixa, multimercado e câmbio, a fim de manter uma margem de segurança.
“O investidor iniciante, via de regra, não consegue avaliar o risco dos investimentos e foca apenas no retorno que o investimento pode trazer”, diz ele. “Em um ano de queda de ações, é natural que a parcela de renda variável perca valor ao longo do período.”