Por Francesco Canepa e Balazs Koranyi
SINTRA, Portugal (Reuters) – O Banco Central Europeu vai comprar títulos de Itália, Espanha, Portugal e Grécia com parte dos recursos que recebe das dívidas alemã, francesa e holandesa em uma tentativa de limitar os spreads entre seus custos de empréstimos, disseram fontes à Reuters.
O BCE iniciará esse reequilíbrio na sexta-feira para evitar que a fragmentação financeira entre os países da zona do euro atrapalhe seu plano de aumentar os juros – com um esquema adicional a ser revelado no próximo mês.
O banco central dividiu os 19 países da zona do euro em três grupos – doadores, destinatários e neutros – com base no tamanho e na velocidade de um aumento nos spreads de seus títulos nas últimas semanas, de acordo com conversas com meia dúzia de pessoas no fórum anual do BCE em Sintra, Portugal. Os spreads são medidos em relação aos títulos alemães, que servem de referência de facto para a área da moeda única.
O BCE canalizará para os destinatários parte do dinheiro dos títulos a vencer que comprou de países “doadores” sob seu Programa de Compra de Emergência Pandêmica, com os neutros atuando como amortecedores, disseram as fontes.
As listas, que serão revisadas mensalmente, refletem a divisão entre países periféricos e centrais que surgiu na época da primeira crise da dívida da zona do euro, há uma década.
Os destinatários incluem alguns países considerados pelos investidores como mais arriscados devido à sua alta dívida pública ou crescimento fraco, como Itália, Grécia, Espanha e Portugal, segundo as fontes.
Essa lista era inicialmente maior antes que o Conselho do BCE a reduzisse.
O grupo de doadores é composto por cerca de meia dúzia de países chamados centrais considerados mais seguros e inclui Alemanha, França e Holanda, de acordo com as fontes.
Um porta-voz do BCE se recusou a comentar para a reportagem.
Embora os resgates em julho e agosto sejam substanciais, o BCE sabe que o simples reinvestimento dos recursos não será suficiente para acalmar os investidores.
Por isso, acelerou o trabalho em uma nova ferramenta que permitirá fazer novas compras onde forem necessárias se um país atender a determinadas condições.
Isso pode ser verificado pela Comissão Europeia, com base em suas regras fiscais ou recomendações econômicas, ou pelo próprio BCE por meio de uma avaliação de sustentabilidade da dívida, como fez com a Grécia há alguns anos, disseram fontes à Reuters.
A primeira opção manteria o BCE longe dos conflitos, mas o tornaria dependente de outra instituição. A última daria mais voz aos banqueiros centrais, mas os abriria a acusações de envolvimento na política.
O BCE pode então drenar dinheiro do sistema bancário para compensar suas compras de títulos, provavelmente por meio de leilões especiais nos quais os bancos podem garantir taxas de juros mais favoráveis se depositarem fundos no banco central.
As autoridades ainda precisam decidir se anunciarão o tamanho do esquema, pois esperam que seu mero anúncio estabilize os mercados e talvez eles não precisem usá-lo.