Por Lindsay Dunsmuir e Ann Saphir
(Reuters) – O comprometimento do Federal Reserve com o controle da inflação mais alta em 40 anos é “incondicional”, mas também vem com o risco de desemprego mais elevado, disse o chair do banco central norte-americano, Jerome Powell, nesta quinta-feira.
“É incondicional”, disse Powell ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos quando questionado sobre o compromisso do Fed com o combate à inflação, que, pela medida preferida do banco central, está em mais de três vezes a meta de 2%.
“Nós realmente precisamos restaurar a estabilidade de preços… porque sem isso não seremos capazes de ter um período sustentado de pleno emprego em que os benefícios sejam amplamente disseminados”, disse ele.
“É algo que precisamos fazer, devemos fazer.”
O depoimento de Powell marcou o segundo dia consecutivo em que parlamentares o interrogaram no Congresso dos EUA sobre o esforço do Fed para controlar a inflação, que alimenta temores de uma desaceleração econômica ou forte recessão e um aumento acentuado do desemprego.
Na quarta-feira, Powell disse ao Comitê Bancário do Senado que o banco central não estava tentando provocar uma recessão, mas que ela é “certamente uma possibilidade” com a ocorrência de eventos globais fora do controle do Fed, especificamente o impacto da guerra na Ucrânia e a pandemia de Covid-19, o que torna mais difícil controlar pressões de preços sem induzir uma desaceleração.
As pressões sobre os preços aumentaram por meses e forçam o Fed a intensificar o aperto das condições financeiras na tentativa de reduzir a demanda ao mesmo tempo em que espera que alguns problemas da cadeia de suprimentos comecem a se resolver este ano.
Na semana passada, o Fed elevou sua taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, maior alta desde 1994, para uma faixa de 1,50% a 1,75%, e sinalizou que os juros básicos podem subir a 3,4% até o fim deste ano.
Em uma coletiva de imprensa em 15 de junho, Powell afirmou que o banco central provavelmente precisaria subir os juros em 0,50 ou 0,75 ponto percentual em sua próxima reunião, em julho.
Desde então, outras autoridades do Fed ecoaram essa postura sobre colocar os custos de empréstimo em território ligeiramente restritivo rapidamente.
Outros foram mais longe.
A diretora do Fed Michelle Bowman afirmou nesta quinta-feira que defende um incremento de 0,75 ponto percentual em julho, seguido por altas de 0,50 ponto nas “próximas” reuniões subsequentes, uma trajetória mais agressiva de altas dos juros do que a maioria das outras autoridades atualmente contemplam.
Economistas consultados pela Reuters nesta semana preveem que o Fed fará outra alta de 0,75 ponto percentual na taxa de juros no próximo mês, seguido por um aumento de 0,50 ponto em setembro, sem redução para movimentos de 0,25 ponto até pelo menos novembro.
SEM FERRAMENTAS DE PRECISÃO
Já existem alguns sinais preliminares de abrandamento de um mercado de trabalho ainda muito aquecido. Dados divulgados nesta quinta-feira mostraram novos pedidos de auxílio-desemprego, que caíram para mínimas em mais de 53 anos em março, recuaram na semana passada, enquanto um indicador importante das atividades manufatureira e de serviços desacelerou para sua trajetória de crescimento mais lenta em cinco meses, mostraram dados nesta quinta-feira.
Questionado por membros do comitê da Câmara dos Deputados dos EUA nesta quinta-feira, Powell disse que existe o risco de que as ações do Fed possam levar a um aumento no desemprego. A taxa de desemprego nos EUA estava em 3,6% em maio.
“Não temos ferramentas de precisão”, afirmou Powell, “portanto, existe o risco de que o desemprego suba, em relação ao que é um nível historicamente baixo. Um mercado de trabalho com 4,1% ou 4,3% de desemprego ainda é um mercado de trabalho muito forte.”
Ao mesmo tempo, no entanto, Powell disse esperar que o crescimento econômico irá se recuperar no segundo semestre do ano, após um início difícil de 2022.
(Por Ann Saphir, Dan Burns e Lindsay Dunsmuir)