Quando Cláudio Vale montou um pequeno escritório de investimentos em Fortaleza (CE), no início de 2004, sua intenção era apenas antecipar pagamentos de fornecedores de uma empresa local para fomentar os negócios da região.
Um ano depois, o escritório já tinha mais de 50 clientes e Vale viu a oportunidade de expandir a operação. Nascido e criado no Ceará, o empresário conhecia as dificuldades das companhias do Nordeste para obter financiamentos e fez disso o seu carro-chefe.
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Com a oferta de crédito e antecipação de recebíveis, a Elo Factoring cresceu nos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia, ocupando um espaço onde os bancos regionais de fomento não atuavam.
“Desde o início investimos com cheques pequenos, de R$ 50 mil a R$ 100 mil. Os grandes bancos não atendem esses financiamentos porque não é vantajoso para eles, além de não terem braço suficiente para atender a demanda”, diz Vale.
A empresa fez o seu nome por meio de operações com fundos estruturados e negociações de imóveis, e quase dez anos depois se reinventou para uma nova empreitada.
Em 2011, o empresário desembarcou em São Paulo com o negócio reformulado e de cara nova, carregando as iniciais de seu fundador. A CVPar Business Capital nasceu com o objetivo de conquistar o circuito da Faria Lima e captar dinheiro no Sudeste para investir no Nordeste.
“É uma inversão do que acontece normalmente. Muitas empresas vão até lá captar recursos para investir aqui, sendo que a maior carência está no Nordeste”, conta Cláudio Vale.
Desde então, a empresa lançou três braços de negócios: gestão de ativos (asset), gestão de patrimônio (wealth) e real estate, para a cadeia de financiamento imobiliário. Segundo Vale, todos esses serviços são complementares ao carro-chefe da CVPar, que continua sendo a oferta de crédito a empresas.
Ponte entre o Nordeste e o Sudeste
Segundo Cláudio Vale, uma das metas da CVPar é aproximar o Nordeste e o Sudeste e canalizar a liquidez dos investimentos da Faria Lima para projetos em locais desconhecidos pelo mercado financeiro.
“Os bilionários do Sudeste todo mundo conhece, mas o Nordeste tem milionários que não estão no radar de ninguém, investindo em títulos do Banco do Brasil porque ninguém captou ainda. A gente conhece essas pessoas e pode fazer essas pontes de investimentos”, diz o fundador da CVPar.
A familiaridade com os endinheirados do Nordeste é tão grande que o empresário juntou dez deles para criar uma outra unidade de negócio, voltada para seguros: a EZZE Seguros. A seguradora possui 11 investidores, que dividiram um aporte inicial de R$ 30 milhões para focar em garantias.
“É uma seguradora de capital fechado. Eu sou um dos sócios e os demais investidores têm ações preferenciais. Foi tudo feito e negociado na base do relacionamento e da proximidade, que é a forma de fazer negócios na qual eu acredito.”
Para os próximos anos, Vale aposta na força dos projetos de sustentabilidade e de mitigação de emissões de gases de efeito estufa. Um tópico relevante para a causa e que ganha força no Ceará é o hidrogênio verde, com investimentos na ordem de R$ 30 bilhões, além de projetos de energia eólica e solar.
“É uma tendência importantíssima que vai acontecer nos próximos anos no Nordeste. Quando você tem investimentos de bilhões num estado como o Ceará, há um celeiro de oportunidades para quem tem talento e vontade de trabalhar.”
O negócio – e o risco – dos FIDCs
Grande parte dos negócios da CVPar são baseados em FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) Os direitos creditórios são créditos a receber por parte de uma empresa, como pagamentos de carnê, cartões, certificados de recebíveis (CRI e CRA), parcelas de fundos de garantia, de consignados, entre outros.
Na prática, o FIDC soma todos os direitos a crédito que a empresa tem a receber e antecipa esses pagamentos, só que em um valor menor do que a dívida original devido ao risco de inadimplência. Depois, o fundo vende suas cotas para investidores.
Ao todo, existem 1.529 FIDCs no mercado brasileiro, que somam R$ 307,79 bilhões em patrimônio líquido, segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de abril deste ano. Trata-se de um valor que representa 23,8% de crescimento em número de FIDCs, na comparação anual, e aumento em 23,5% no valor patrimonial ano a ano.
Devido ao maior risco, os FIDCs são restritos a investidores qualificados — aqueles com mais de R$ 1 milhão aplicado no mercado financeiro —, que são o público-alvo das operações da CVPar.
Vale explica que ativos ilíquidos como esses fundos de recebíveis são vantajosos porque apresentam rentabilidades maiores. São operações de risco que atraem investidores de maior renda, afirma.
“Esses investidores de alta renda também são possíveis clientes para nossa área de gestão de fortunas. Faz parte do nosso modelo de negócio manter a proximidade com nossos investidores e nossos clientes, para ter todas as operações dentro de casa”, diz o fundador.
Atualmente, a CVPar possui R$ 600 milhões de ativos sob gestão e R$ 3 bilhões em recebíveis. Desde o início das suas operações, a empresa já transacionou R$ 6 bilhões em cerca de 800 mil operações.
Para este ano, os planos são ambiciosos: chegar a R$ 1,5 bilhão sob gestão, um crescimento de 150% que será baseado no lançamento de novos fundos e da própria distribuidora de títulos. A empresa espera a aprovação do registro de DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários) ainda no segundo semestre deste ano.
Sem medo da crise, Vale afirma que em momentos de política restritiva do Banco Central, como o atual, os negócios de recebíveis da CVPar ganham força.
“Na crise de 2008, quando todas as classes de fundos da indústria encolheram de tamanho, os FIDCs aumentaram seu patrimônio líquido em 36,4%. Em momentos de crise, os grandes bancos restringem ainda mais o acesso ao crédito, deixando os FIDCs nadarem de braçada”, diz ele.
Além dos fundos de recebíveis, a CVPar também trabalha com fundos estruturados do setor imobiliário e multimercado. Ao todo, são 14 fundos sob gestão da empresa.
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