Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar reverteu perdas de mais cedo e fechou em alta frente ao real nesta quarta-feira, acompanhando piora nos mercados internacionais conforme investidores digeriam comentários do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, enquanto riscos domésticos seguiram no radar.
A divisa norte-americana à vista subiu 0,50%, a 5,1791 reais na venda, depois de ter chegado a cair 0,50%, a 5,1274 reais, em certo ponto das negociações.
Na B3, às 17:11 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,92%, a 5,1915 reais.
O fortalecimento do dólar no mercado doméstico ante os menores patamares do pregão acompanhou uma melhora no desempenho do índice da divisa norte-americana contra uma cesta de rivais fortes, que, embora ainda estivesse em queda nesta tarde, estava bem acima das mínimas intradiárias.
A divisa norte-americana também acompanhou uma piora em Wall Street, cujos principais índices abandonaram ganhos acentuados de mais cedo para fechar praticamente estáveis nesta terça-feira. [.NPT]
O foco do dia esteve em comentários de Powell ao Congresso dos EUA, em que ele afirmou que o Federal Reserve está “fortemente comprometido” em reduzir a inflação –a mais intensa em 40 anos– e reconheceu os riscos que juros mais altos podem representar para a atividade da maior economia do mundo.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, disse que os comentários de Powell não têm grande relevância para o curto prazo, já que a autoridade não deu indicações explícitas sobre qual será a magnitude dos próximos aumentos de juros pelo Fed.
No longo prazo, no entanto, “Powell está deixando muito evidente que vai priorizar o combate à inflação mesmo que isso leve a economia americana, eventualmente, para uma recessão”, afirmou o especialista, o que indica uma trajetória intensa de elevação dos juros.
Quanto mais altos os custos dos empréstimos nos EUA, mais atraente tende a ficar o dólar para investidores que buscam, ao mesmo tempo, rentabilidade e segurança. Os juros norte-americanos já foram elevados em 1,5 ponto percentual desde março deste ano.
No cenário doméstico, alguns participantes do mercado apontaram o noticiário envolvendo a Petrobras e riscos fiscais como fator de amparo para o dólar, que costuma atrair compradores em momentos de maior incerteza.
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira que o futuro presidente da estatal Caio Mário Paes de Andrade deverá trocar toda a diretoria da empresa quando assumir o posto, e que o conselho de administração da petroleira poderá alterar a política de preços que prevê a paridade com a cotação internacional do petróleo.
Enquanto isso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou nesta semana que o governo sinalizou estar disposto a ampliar o auxílio gás ou até mesmo criar um “voucher” a caminhoneiros, medidas que poderiam piorar a percepção de investidores sobre a saúde das contas públicas.
Apesar desse contexto, o Bank of America disse em relatório que espera que o real, assim como o peso mexicano, continue tendo uma performance superior quando comparado a outros pares de mercados emergentes, devido ao alto patamar dos juros brasileiros, que eleva o retorno (“carry”, em inglês”) da moeda doméstica. A taxa Selic está em 13,25% atualmente.
No entanto, “devemos começar a observar alguma volatilidade (no mercado de câmbio brasileiro) à medida que as eleições de outubro se aproximam”, disse o BofA.
O dólar acumula queda de 7% contra o real até agora em 2022.
(Por Luana Maria Benedito; edição de Isabel Versiani)