Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou em queda contra o real nesta terça-feira, pausando um rali recente e acompanhando uma melhora no apetite global por risco, sentindo ainda a pressão de sinalização do Banco Central do Brasil de que vai manter os juros elevados por período prolongado.
O dólar à vista recuou 0,67%, a 5,1533 reais na venda.
Na B3, às 17:10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,80%, a 5,1685 reais.
Apesar da baixa, a moeda norte-americana spot fechou bem acima da cotação mínima intradiária de 5,1175 reais (-1,36%), acompanhando uma devolução de perdas do dólar no exterior. Seu índice contra uma cesta de pares fortes, que havia passado boa parte da sessão em queda, recuperou fôlego e começou a oscilar perto da estabilidade na parte da tarde.
Isso não impediu a valorização de moedas pares do real, no entanto. Pesos mexicano e chileno, rand sul-africano e dólar australiano registraram firmes altas frente à divisa norte-americana no dia.
As ações globais tiveram forte recuperação em relação a tombos recentes nesta sessão, com os principais índices de Wall St subindo mais de 2%, o que explica parte do desempenho positivo do real, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, citando “inclinação visível a ativos de risco”. [.NPT]
Ele também apontou a movimentação desta terça-feira como um ajuste “natural” do dólar após uma valorização recente da moeda, que fechou o pregão de segunda-feira no maior valor em mais de quatro meses, de 5,1878 reais.
O mercado doméstico também repercutiu nesta terça-feira a ata da última reunião de política monetária do Banco Central, divulgada pela manhã, em que a autarquia indicou necessidade de manter a taxa básica de juros em nível elevado por período prolongado para levar a inflação a patamar próximo à meta fiscal em 2023.
No documento, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que pretende promover novo aumento igual ou menor que 0,50 ponto percentual na Selic –atualmente em 13,25%– em agosto.
Chances implícitas em contratos de DI já indicam um ajuste de 0,50 ponto na Selic no próximo encontro do Copom como mais provável que uma alta mais moderada, de 0,25 ponto, com os mercados vendo chances de 59% e 41%, respectivamente, para cada cenário.
Custos de empréstimos mais altos tendem a restringir a atividade econômica, mas também tornam o mercado de renda fixa brasileiro mais atraente para investidores estrangeiros, o que, no geral, é visto como fator de impulso para o real.
No ano, o dólar acumula queda de 7,5% contra a moeda brasileira, mas está quase 12% acima da mínima para encerramento de 2022, de 4,6075 reais, atingida no início de abril.
Bergallo, da FB, disse acreditar que “poderíamos estar com o dólar abaixo de 5 reais não fossem as circunstâncias negativas do cenário doméstico”.
Entre os pontos de cautela ele citou a ofensiva do governo contra a Petrobras –que viu um terceiro presidente-executivo pedir demissão em meio ao cenário de insatisfação do Executivo com a política de preços da estatal– e o cenário fiscal “cada vez mais preocupante”, conforme a gestão de Jair Bolsonaro busca abrir mão de receitas tributárias numa tentativa de reduzir os preços dos combustíveis.
“Até que ponto o governo vai sacrificar a austeridade fiscal a favor de sua reeleição?”, disse Bergallo.