Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar encerrou esta quinta-feira em alta contra o real, registrando em junho seu maior avanço mensal desde o início da pandemia de Covid-19, resultado que ajudou a moeda norte-americana a marcar forte ganho trimestral, em meio a temores globais de recessão e incertezas fiscais domésticas.
A divisa norte-americana negociada no mercado interbancário fechou a sessão em alta de 0,77%, a 5,2311 reais, após mostrar forte volatilidade ao longo do pregão. Depois de chegar a subir 1,55% pela manhã, a 5,2720 reais, a moeda norte-americana caiu 0,07%, a 5,1878 reais, na menor cotação do dia, alcançada por volta de 14h30, antes de se recuperar e encerrar as negociações em alta.
Em junho, o dólar saltou 10,03%, seu melhor mês desde março de 2020 (+15,92%), quando os mercados globais sentiram o choque inicial da pandemia de Covid-19.
No segundo trimestre, o ganho acumulado da moeda norte-americana contra a brasileira foi de 9,83%. Isso não compensa a baixa de 14,55% vista no período de janeiro a março, mas reduz as perdas do dólar no acumulado de 2022 para 6,14%. A divisa está 13,53% acima da mínima para encerramento deste ano, de 4,6075, atingida no início de abril.
O cenário externo teve peso importante no recente rali do dólar.
“A aversão a risco é global, não vale só para o real. Existe esse medo generalizado de uma recessão global, e, quando isso acontece, o investidor fica mais propenso a ir para ativos seguros”, como o dólar, disse à Reuters Michelle Hwang, estrategista de câmbio e juros do BNP Paribas.
Sinal desse clima arisco, os principais índices de Wall Street fecharam um semestre péssimo nesta quinta-feira, com o S&P 500 marcando sua pior primeira metade de ano desde 1970, enquanto os rendimentos dos Treasuries de dez anos –referência para investimentos– caíram abaixo de 3%, conforme investidores migram para a segurança da dívida dos Estados Unidos. [.NPT]
Os receios econômicos têm sido alimentados principalmente pelo posicionamento agressivo dos principais bancos centrais, que indicaram repetidas vezes que seguirão firmes no aperto da política monetária à medida que buscam domar a inflação, mesmo que isso tenha impacto negativo sobre o crescimento.
O Federal Reserve, por exemplo, já subiu os juros em 1,50 ponto percentual desde março deste ano. Além de tornar os empréstimos mais caros para famílias e empresas, o que tende a restringir o crescimento, isso torna a rentabilidade de outras moedas menos atraente quando comparada aos retornos oferecidos pelo dólar, favorecendo a divisa dos EUA, explicou Hwang.
Por outro lado, o Brasil ainda oferece uma taxa Selic interessante para investidores que buscam lucrar com diferenciais de juros entre dois países. Os custos dos empréstimos estão em 13,25% atualmente, com a maioria dos mercados esperando alta adicional de 0,50 ponto percentual em agosto, para 13,75%.
O BNP –instituição financeira com uma das visões mais agressivas para o patamar dos juros básicos– espera que a Selic chegue a 14,25% até o fim de 2022, o que Hwang vê como um fator que pode ajudar o real a mostrar alguma recuperação adiante, já que juros mais altos tornam a moeda brasileira mais rentável. O banco francês espera que o dólar encerre este ano em 4,85 reais.
Mesmo distante das mínimas do ano, o dólar ainda teve seu pior desempenho semestral frente ao real desde a primeira metade de 2016, quando caiu 18,61%.
Daqui para a frente, incertezas fiscais nacionais devem ditar o comportamento do dólar, em meio à tramitação no Congresso de uma PEC que estabelece um estado de emergência para ampliar auxílios sociais já existentes e criar um novo benefício destinado a transportadores autônomos, com custo total estimado em 38,75 bilhões de reais.
“O que o mercado teme… não é o impacto previsto, e sim entender o quanto ‘a porta ficou aberta’ para prorrogações ou até aumentos adicionais de gastos mais para frente, principalmente levando em conta que teremos eleições no fim do ano, fato que deve começar a reger os ânimos do mercado a partir do recesso parlamentar do meio deste ano”, disse em nota Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
(Edição de Isabel Versiani)