Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar alternava estabilidade e leve queda contra o real nesta sexta-feira, mas caminhava para sua quarta semana consecutiva de ganhos, depois que temores de que juros mais altos nas principais economias levem a uma recessão abalaram o sentimento global, cenário agravado por receios políticos e fiscais domésticos.
Às 10:10 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,02%, a 5,2280 reais na venda.
Na B3, às 10:10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,28%, a 5,2380 reais.
O comportamento cambial desta sexta-feira estava coordenado com a estabilidade do índice do dólar frente a uma cesta de rivais de países ricos, enquanto a moeda norte-americana caía ante várias divisas consideradas arriscadas, como dólar australiano, rand sul-africano e pesos mexicano e chileno.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, disse à Reuters que esse é “mais um movimento de ajuste do que um otimismo em relação ao cenário global”, que tem se mostrado adverso para ativos de risco, como ações e divisas de países emergentes, nas últimas semanas.
O pessimismo cresceu desde que o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, endureceu sua postura de política monetária e subiu os juros norte-americanos no maior ritmo desde 1994 neste mês, sinalizando mais por vir. Taxas de empréstimo altas tendem a restringir a atividade econômica, efeito que, no contexto atual, poderia ser exacerbado por desafios como a guerra na Ucrânia e sinais de desaceleração na China.
Em meio ao cenário internacional adverso, o dólar caminhava para sua quarta semana consecutiva de valorização frente ao real, período em que acumula alta de mais de 10%. A divisa fechou a última sessão em 5,2291 reais, máxima para encerramento desde 11 de fevereiro deste ano (5,2428), subindo por 11 dos últimos 13 dias completos de negociação.
“O movimento global foi preponderante na relação de moedas”, disse Sanchez sobre a recente valorização do dólar, “mas a dinâmica política que a gente vem observando no Brasil –seja política fiscal, ou pública, ou econômica, ou eleitoral– também não é muito positiva”.
Investidores têm mostrado forte preocupação com a discussão de medidas do governo para compensar a alta dos preços dos combústiveis, que, por arriscarem levar a uma redução de receitas tributárias ou até mesmo a aumento de gastos num ano de aperto nas contas públicas, poderiam agravar a credibilidade fiscal do Brasil.
Na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro, sancionou, com vetos, projeto que estabelece um teto para as alíquotas de ICMS sobre os setores de combustíveis, gás, energia, comunicações e transporte coletivo. Outras medidas atualmente sendo discutidas para aliviar os efeitos da inflação são elevação do Auxílio Brasil, aumento no valor do vale-gás a famílias e criação de uma espécie de voucher para caminhoneiros.
Sanchez vê espaço para desvalorização do dólar ante os patamares atuais, projetando a moeda em 5,05 reais ao fim deste ano, “mas isso não quer dizer que vamos ter um caminho suave até lá, principalmente considerando as eleições presidenciais de outubro”, afirmou o economista.
“O que eu posso garantir é que vamos ter forte volatilidade.”