Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou em alta contra o real nesta terça-feira, no maior patamar em quase cinco meses, depois que dados fracos sobre a confiança do consumidor dos Estados Unidos reacenderam temores de recessão, cenário agravado por receios fiscais domésticos.
A moeda norte-americana à vista avançou 0,61%, a 5,2671 reais, nível mais alto para um fechamento desde 4 de fevereiro passado (5,3249), abandonando perdas registradas pela manhã. Na menor cotação do dia, o dólar caiu 0,88%, a 5,1887 reais e, na máxima, ganhou 0,85%, a 5,2798.
Esse foi o 13° avanço do dólar em 16 sessões, e deixou a moeda acima de sua média móvel linear de 200 dias, patamar técnico importante, pela primeira vez desde o final de janeiro deste ano.
A recuperação do dólar nesta terça-feira foi estimulada por piora no sentimento internacional, depois que dados mostraram queda acentuada na confiança do consumidor norte-americano em junho.
O índice de confiança do consumidor do Conference Board caiu 4,5 pontos, para uma leitura de 98,7, menor nível desde fevereiro de 2021, uma vez que preocupações com a inflação levaram os norte-americanos a antecipar que a economia desacelerará significativamente ou até entrará em recessão no segundo semestre do ano.
O índice do dólar contra uma cesta de pares fortes acelerou os ganhos na esteira da leitura, em linha com salto nos rendimentos da dívida soberana dos Estados Unidos, enquanto as ações de Wall Street passaram a território profundamente negativo. [.NPT]
“Lá fora a queda das bolsas se acentua, bem como o fortalecimento do dólar, tudo embalado pelo medo das altas de taxas e uma possível recessão. Falta de sustos é o que não temos tido…”, disse em postagem no Twitter Sérgio Machado, sócio e gestor da Trópico Investimentos.
Alexandre Netto, chefe de câmbio da Acqua Vero Investimentos, também atribuiu a valorização do dólar nesta sessão a falas de autoridades do Federal Reserve, que destacaram nesta terça-feira sua vontade de elevar os juros acentuadamente de forma a controlar a inflação.
Além de alimentarem os riscos para a atividade, por restringir os gastos do consumidor, juros mais altos tendem a atrair recursos para o mercado de renda dos Estados Unidos, já que elevam os retornos da dívida do país, considerada extremamente segura.
Além da aversão a risco vista no exterior, receios locais relacionados às contas públicas também colaboraram para a demanda por dólares nesta terça-feira.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que o Congresso discute uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para elevar o valor do Auxílio Brasil para 600 reais, numa referência à chamada PEC dos Combustíveis que está em tramitação no momento no Senado.
O texto dessa PEC também pretende ampliar o auxílio do vale-gás para as famílias e destinar recursos para a criação de um chamado “voucher caminhoneiro”, buscando compensar os efeitos da alta dos preços no país.
A discussão desse tipo de medida de benefício social passa a investidores a impressão de que a equipe econômica do governo cedeu à pressão das eleições presidenciais deste ano, e deixa o mercado “com norte limitado em termos de apoio à política econômica, considerada agora irresponsável em termos fiscais”, disse em relatório Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Participantes do mercado alertavam para volatilidade elevada nos mercados na aproximação do final do segundo trimestre. Para a dinâmica do dólar, pesa a costumeira “briga” de fim de mês pela formação da Ptax –importante taxa de câmbio calculada pelo Banco Central–, conforme agentes financeiros tentam direcioná-las para níveis mais favoráveis a suas posições.
O dólar acumula alta de 10,79% só em junho e avança 10,59% no segundo trimestre. A movimentação não compensa, no entanto, a queda de 14,55% vista nos primeiros três meses do ano, e a moeda norte-americana ainda recua 5,50% até agora em 2022.
Na B3, às 17:13 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,45%, a 5,2710 reais.
(Edição de Isabel Versiani)